Data for good: como o uso de dados pode fortalecer causas sociais
Especialistas explicaram conceito de data for good e apresentaram casos de sucesso durante evento em SP
Você já ouviu o termo data for good? Ainda pouco conhecido no Brasil, ele se refere ao uso de ciência e tecnologias de dados para maximizar a geração de impacto social positivo. Ou seja, é o uso de tecnologias como as usadas pelo Facebook e a Netflix para entenderem do que gostamos e nos oferecerem aquilo que queremos, só que com um propósito social, como melhorar o processo de aprendizagem nas escolas ou promover de forma mais eficiente a prevenção de uma doença.
Entre os exemplos bem-sucedidos de data for good no Brasil está a plataforma Operação Serenata de Amor. Trata-se de um projeto que usa ciência de dados para fiscalizar gastos públicos e compartilhar as informações de forma acessível para qualquer pessoa.
Como o projeto faz isso? Uma inteligência artificial chamada Rosie busca em diversos sites com dados do poder público informações sobre como os deputados federais estão gastando o dinheiro destinado à cota parlamentar (verba de até R$ 44 mil mensais para cada deputado, para cobrir despesas como alimentação, combustível e passagens aéreas). Em seguida, as informações vão para um site chamado Jarbas e qualquer pessoa consegue ver o que é um gasto suspeito ou não. A ideia é que, assim, os eleitores possam questionar os parlamentares para que o dinheiro público não seja usado incorretamente.
Exemplos como este da aplicação de data for good foram apresentados ao longo da segunda edição do CSR Leaders, um encontro organizado pelo Grupo +Unidos com apoio do Atados para debater como o Big Data pode ser utilizado para gerar impacto social positivo. O evento ocorreu em São Paulo, no dia 07 de novembro.
Com dados, tomamos melhores decisões
A primeira a falar no encontro foi Carolina de Andrade, da Social Good Brasil. E um dos destaques de sua fala foi a necessidade de construirmos uma cultura mais analítica nas organizações da sociedade civil. É preciso levantar dados, analisá-los e tomar decisões com base neles. Assim, as chances de acerto são muito maiores do que quando as decisões são tomadas por intuição ou mesmo informações mais superficiais.
Carolina também explicou que para começar a usar dados na organização não é preciso logo de cara contratar um cientista de dados. Existem hoje ferramentas gratuitas ou de baixo custo que já podem fazer grande diferença. A ONU, por exemplo, oferece muitos dados de forma gratuita, sobre diferentes causas e países. O primeiro passo é entender a relevância de buscar os dados e criar estratégias a partir deles.
A especialista também destacou que “capacitar o setor social em ciência de dados é apoiar uma medição de impacto e comprovação da sua relevância”. Isto é, dados ajudam a mostrar quando um projeto social está dando certo e com isso ele consegue manter seus apoiadores e conquistar novos.
O mundo está mudando e a educação precisa mudar também
Uma das discussões levantadas durante o evento foi a necessidade de a educação se adaptar às mudanças que estão ocorrendo no mundo, principalmente por causa das novas tecnologias.
De acordo com Américo Mattar, da Fundação Telefônica, os dados podem ser fundamentais para encontrar caminhos para melhorar a educação no Brasil. “A educação continua com os mesmos problemas de 20 anos atrás. Isso significa que esses problemas não estão sendo enfrentados do jeito certo. Os dados podem mudar isso”.
Alcely Barroso, da IBM, também falou da necessidade de aproximarmos a educação das novas tecnologias e citou como exemplo um projeto da IBM voltado para empreendedores, o LIT. A plataforma reúne todos os cursos da Saint Paul Escola de Negócios e usa inteligência artificial para personalizar o processo de aprendizagem dos alunos.
Outro exemplo de uso da tecnologia na educação foi apresentado por César Wedemann, do QEdu. A plataforma reúne uma série de dados sobre a educação básica para ajudar profissionais da área a entenderem o que está dando certo e o que precisa ser mudado. É possível encontrar dados nacionais, estaduais e até por cidades ou localidades bem específicas.
Wedemann citou, ainda, a importância de usar a tecnologia no dia a dia dos alunos, com aplicação de provas online, por exemplo, o que permite avaliar coisas que seriam impossíveis medir no papel, como o tempo que o aluno leva para responder uma questão. Além disso, iniciativas como o uso de jogos educativos em sala de aula também podem aumentar o interesse dos alunos e facilitar o processo de aprendizagem.
As novas tecnologias e a política
Com as novas tecnologias, a relação entre eleitores e políticos vem mudando drasticamente. De acordo com Jasmin Eymery, da startup Dado Capital, vivemos globalmente um momento de “tinderização” da política. Ou seja, as pessoas querem encontrar um “par ideal” na hora de escolher seu candidato. Isso significa encontrar um político que acredite nas mesmas coisas, que defenda as mesmas causas e com o qual o eleitor se identifique realmente.
Entre as iniciativas citadas no encontro que usam dados para facilitar essa relação entre políticos e eleitores estão o Voz Ativa, o #MeRepresenta e O Poder do Voto.
Há também aplicativos com um papel de educação política, como o Sigalei, que ajuda os cidadãos a entenderem questões relacionadas à política, como o processo para criação de uma lei.
A realidade ainda é mais complexa do que os dados
Apesar da inegável importância do uso de dados, Rafael Camelo, da consultoria Plano CDE, chama a atenção para a necessidade de uma análise humana e crítica sobre os dados gerados. “A realidade é mais complexa do que os dados. Eles geralmente mostram o que, mas dificilmente o porquê”.
Isso significa que, aliado ao avanço das tecnologias de dados, é fundamental um avanço do senso crítico e da capacidade de interpretar esses dados dentro de seus contextos, o que muitas vezes significa ir a campo e fazer parte do levantamento de informações de forma presencial. “O mundo de big data é absolutamente útil, mas ainda existe muita complexidade por trás desses números e não podemos perder o olhar humano”, finaliza.