Mais da metade dos alimentos em SP e Brasília contém agrotóxicos
Novo relatório do Greenpeace mostra que 60% dos produtos carregam algum resíduo tóxico
por Diego Thimm
O Laboratório de Resíduos de Pesticidas (LRP) do Instituto Biológico de São Paulo, a pedido da ONG Greenpeace, realizou testes em alimentos comprados em São Paulo e Brasília para investigar a qualidade da comida que está em nossas mesas.
O estudo revela que 60% dos alimentos testados contêm resíduos de agrotóxicos, além de 36% da amostra analisada possuir algum tipo de irregularidade. Entre os problemas encontrados está a presença de um agrotóxico proibido no Brasil e outros pesticidas que apresentam índices acima do limite permitido por lei.
Também foram encontrados agrotóxicos não autorizados para a produção de alimentos específicos, presentes na banana, mamão, pimentão, tomate, couve, café e arroz branco. Outro problema é a presença de diferentes tipos de resíduos em um mesmo alimento, o que caracteriza o chamado efeito coquetel, quando a mistura das substâncias químicas pode gerar um resultado desconhecido.
O pesquisador do Laboratório de Resíduos de Pesticidas do Instituto Biológico, Amir Gebara, diz que o ideal seria que não houvesse nenhum tipo de resíduo nos alimentos, mas ressalta que a presença de muitos, às vezes sete tipos diferentes em um único produto, pode multiplicar as possibilidades de intoxicações.
Dentro da experiência como pesquisador, Gebara diz que pouca coisa mudou ao longo dos anos em relação à quantidade de pesticidas encontrados nos laboratórios. “Se houve alguma mudança nos índices dos últimos 30 anos, não foi algo significativo”, comenta.
Gebara lembra que antes havia mais programas de monitoramento da qualidade dos alimentos, mas “alguns responsáveis perceberam que o retorno comercial das análises não foi satisfatório, pois as pessoas continuavam comprando os mesmos alimentos (não-orgânicos)”. O pesquisador também ressalta que a falta de verba é outro empecilho para o avanço dos programas de análises. “Ter um banco de dados com números atualizados pode ajudar a manter o tema em pauta, pois o assunto só é tratado em determinados episódios pela mídia”, diz.
Para finalizar, Gebara indica descascar e, principalmente, lavar bem os alimentos antes das refeições. “Muitos inseticidas ficam apenas na superfície dos produtos. Como consumidor, gostaria que não tivesse nenhum tipo de agrotóxico, mas, ao mesmo tempo, isto não é possível para produções em larga escala”, conclui.
Nas mãos do Congresso
No Congresso Nacional já tramita um Projeto de Lei, chamado pelos ambientalistas de “pacote do veneno”, que tenta transferir a responsabilidade do processo de aprovação das substâncias permitidas do Ministério do Meio Ambiente e da Anvisa, para o Ministério da Agricultura.
Já outro projeto que tenta instituir a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA), iniciativa da sociedade civil que busca uma mudança nos modelos de produção agrícola e mais espaço para sistemas agroecológicos, aguarda aprovação na Câmara.