Mais de 18 milhões de brasileiros sofrem com ansiedade
Psiquiatras falam sobre evolução da ansiedade, sintomas físicos e melhores formas de lidar com o problema
Por: Isabela Alves
Segundo dados do Ministério da Saúde, estima-se que pelo menos 30 em cada 100 pessoas no Brasil tenham ou venham a ter, em algum momento de suas vidas, pelo menos um tipo de problema ou transtorno relacionado à saúde mental. A depressão, a ansiedade e a síndrome do pânico são os problemas mais frequentes.
De acordo com o estudo Depression and Other Common Mental Disorders, da Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros (mais de 18,6 milhões) têm algum distúrbio relacionado à ansiedade.
Com base nesses dados alarmantes, o Estadão e a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) promoveram o evento ‘Precisamos falar sobre ansiedade’, na última quarta-feira (29/05), em São Paulo.
Para Daniel Martins de Barros, psiquiatra e bacharel em filosofia, a ansiedade costuma manifestar-se como um sentimento de antecipação do que vai acontecer. E, em determinados contextos, ela é algo normal. Só é preciso ficar alerta quando ela começa a interferir em ações cotidianas.
Luiz Vicente Figueira de Mello, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, estuda a ansiedade do ponto de vista evolucionista. Ele relata que a ansiedade existe desde o tempo das cavernas e que sempre foi um elemento importante para a sobrevivência humana. “Este é um fenômeno que todos nós temos e que nos leva a evoluir, pois nós temos que nos precaver dos riscos que vamos correr. No entanto, a ansiedade patológica tira a capacidade de ação. E, por conta do meio social em que vivemos, essa pressão vem aumentado muito ultimamente”, diz.
Para Neury J. Botega, psiquiatra da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, “a ansiedade é um sinal de perigo. É um alerta de que não estamos controlando o presente e nem o futuro, e por isso gera tanta angústia”.
Como é possível lidar com a ansiedade?
A pressão social é uma das principais causas do desencadeamento dos quadros de ansiedade. O psiquiatra Daniel Martins de Barros afirma que a melhor maneira de trabalhar essa situação é entender o seu temperamento. “Pensa nesta situação hipotética: um ônibus capota e dá três cambalhotas. Tem pessoas que ficam paralisadas e não vão conseguir se mexer, outras vão chorar e ainda tem aquelas que vão pedir para que capote de novo. É preciso se conhecer para saber lidar com essa situação”, brinca.
O especialista também reforça a ideia de que todos os seres humanos possuem um alarme embutido para o perigo. Na época das cavernas, ele apitava quando o leão aparecia, mas, atualmente, estes alarmes que antes eram eventuais surgem com muita frequência, seja por conta do desemprego, seja por conta dos altos índices de violência no país.
Neury J. Botega aponta que, além dos fatores citados por Daniel, a tecnologia também tem contribuído para uma sociedade mais ansiosa. “A sensação que nós temos com a rapidez trazida pela tecnologia é que o tempo todo temos que manter equilibrados vários malabares e isso gera muita ansiedade. Com tantas coisas para lidar, nos sentimos alienados de nós mesmos. A vida perde o sentido”.
Os sintomas físicos da ansiedade
Entre os sintomas físicos da ansiedade estão desconforto, taquicardia, sudorese, tontura e até insônia. O mais comum é o famoso “medo de nada dar certo”.
“Um exemplo disso são os estudantes na hora de realizar uma prova. O raciocínio trava e a pessoa fica tão tensa que chega ao ponto de esquecer os conteúdos que sabe. Ao apresentar esses sintomas, que te impedem de realizar suas atividades comuns, é a hora de procurar uma ajuda profissional, psiquiátrica ou psicológica”, explica Luiz Vicente Figueira de Mello.
O estigma em relação a procurar ajuda e o medo de enfrentar a situação podem levar à ansiedade crônica. Existe também muita resistência em relação aos medicamentos para o tratamento, já que muitos temem os efeitos colaterais.
Os especialistas apontam que, além de fazer terapia e tomar o medicamento de maneira correta, ações simples como fazer ioga, controlar a respiração, olhar o horizonte ou apenas ouvir uma música, podem ajudar a controlar a ansiedade.
Vale ressaltar que, em casos de crise de pânico, o paciente pode sentir uma dor muito forte no peito e a respiração acelerada. Geralmente, essas crises duram de 15 a 30 minutos. Caso não passe, é preciso procurar um médico urgentemente.
A ansiedade pode levar ao suicídio?
Existem estágios que culminam no suicídio. Neury J. Botega relata que a ansiedade pode andar lado a lado com a depressão e, quando isso ocorre, o paciente começa a ter o sentimento de perda de esperança, ou seja, ele deixa de acreditar que vai haver melhora e para de procurar uma saída.
“Se, junto da depressão, a pessoa tem muita ansiedade, angústia, inquietude e está isolada, isso pode levar ao suicídio. (…) o desespero não deixa a pessoa pensar e a leva a agir”, diz.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 800 mil pessoas se suicidam por ano, no mundo. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 11 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos. O suicídio é a quarta maior causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos, no país.
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