O que é ser voluntário no Brasil?
Os desafios do voluntariado no país e a experiência de uma ONG que tem atraído cada vez mais jovens
A Fundação Itaú Social, em parceria com o Instituto DataFolha, produziu a Pesquisa: Voluntários no Brasil, com dados de 2014, com o objetivo de apresentar uma visão ampla sobre o voluntariado no país.
O dado que mais se destaca é o de que 72% dos brasileiros nunca participaram de atividades ligadas ao voluntariado. Além disso, entre os que já fizeram voluntariado em algum momento da vida, apenas 11% fizeram isso em mais de uma fase.
A pesquisa também constatou que 80% dos jovens entre 16 a 24 anos nunca se envolveram com voluntariado – indicando que esse tipo de prática não é parte da educação da juventude brasileira.
Apesar dos desafios, diversas organizações do Terceiro Setor conseguem conquistar voluntários, inclusive jovens. É o caso, por exemplo, da ONG Bem da Madrugada.
Fundada há três anos, a ONG tem como proposta ajudar pessoas que se encontram em situação de extrema carência, distribuindo alimentos, roupas, cobertas e produtos de higiene pessoal. Tudo é adquirido através de doações.
“Eu participava de outro grupo com a mesma proposta, porém os encontros só ocorriam no natal e, às vezes, na páscoa. Sempre me sentia muito bem quando voluntariava, mas achava muito pouco. Então conversei com algumas pessoas, que também eram voluntárias naquela equipe, para que fizéssemos essa ação mais vezes”, explica Luiz Felipe Moraes, o idealizador da entidade.
“Inicialmente, o grupo se encontrava uma vez por mês, porém, de dois anos para cá, os encontros se tornaram semanais, graças ao aumento de doações e o maior número de voluntários fixos. No inverno chega a acontecer do grupo se reunir três vezes na mesma semana”.
Moraes conta também de onde veio o nome Bem da madruga. “A ideia do nome surgiu da falta de movimentos que atuavam nesse horário na região”. E completa apontando que o horário é de maior fragilidade para as pessoas em situação de rua. “Nós percebemos a necessidade de encontros à noite, pois o número de policiais é menor e o Estado se faz menos presente. Além do comércio fechado e do menor número de pessoas”.
Inicialmente, os encontros tinham início às 23h, mas a pedidos de voluntários foi remanejado para as 20h. As atividades são realizadas todas as quintas-feiras. O grupo se concentra em um estacionamento próximo à Praça da Sé, centro da cidade de São Paulo, e os mantimentos são distribuídos para pessoas em situação de rua da região.
Experiência de um voluntário na ONG Bem da Madrugada
O Observatório do Terceiro do Setor participou de um dos encontros para entender e relatar melhor como é uma atividade voluntária.
O que mais chama atenção de é de fora da Bem da Madrugada é o número de jovens que fazem parte do grupo. Camila Kern tem 27 anos e vive em São Paulo há duas décadas. Foi a primeira a chegar para o encontro daquela quinta-feira. Natural de Uruguaiana, fronteira entre Brasil e Argentina, desde cedo sabe a importância do voluntariado.
“Meus pais me levavam para voluntariar desde criança, então sempre gostei de ajudar os outros. Tenho uma filha nova, de sete anos, ela é louca para me ajudar nos trabalhos voluntários, porém ainda não dá. É muito nova”, conta Camila, que faz questão de transmitir à filha a importância de ajudar o próximo.
A voluntária também se diz satisfeita em fazer parte de um grupo ligado às causas sociais, pois acredita que esse tipo de atividade ensina muito, além de fazer bem a quem recebe a ajuda e a quem a pratica. “Fiquei um tempo sem fazer trabalho voluntário, pois não estava achando um que batia com meus horários. Aí uma amiga me trouxe no Bem da Madrugada, de cara gostei muito do grupo e da ideia. Venho sempre desde então”, comenta Camila.
Por volta das 20h15, o grupo começou a ganhar corpo. Logo chegou Luiz Felipe com o carro abarrotado de doações. Enquanto parte do grupo descarregava o carro, sete pessoas recebiam uma camiseta preta com os dizeres “Bem da Madrugada” em destaque na cor branca. Era a primeira vez que faziam parte do projeto.
Demorou cerca de 30 minutos para descarregar o carro por completo. Então o grupo se dividiu na hora de separar os mantimentos. Um ficou responsável por separar roupas de criança, homem e mulher e preparar suco; o outro por fazer um kit que continha bolacha, pipoca doce, água e produtos de higiene pessoal.
Assim que as atividades de separar os mantimentos se encerraram, Moraes reuniu o grupo de 23 pessoas para definir como dividiria as atividades. Ficou combinado que nove pessoas ficariam responsáveis por distribuir pães e bebidas em uma das pontas laterais localizada na escadaria central da Catedral da Sé, outros nove em dar os kits na outra ponta e, por fim, cinco em doar as cobertas que ficariam no carro do idealizador da ONG, estacionado na praça.
Caía uma leve garoa na hora que o grupo partiu para a praça, por isso Moraes distribuiu capas de chuva para todos.
Durante os primeiro cinco minutos do grupo a postos, o movimento foi pouco. Os voluntários com mais experiência, como é o caso de Rodrigo Amorim, que há seis meses faz parte da iniciativa, explicaram para os iniciantes daquela noite: “É natural que em dia de chuva os moradores de rua demorem um pouco mais para aparecer, eles buscam algum lugar para se proteger”.
Entretanto, não demorou muito para que o cenário mudasse.
Aproximadamente 30 pessoas em situação de rua se reuniram para pegar as doações. Uma fila foi organizada para facilitar a entrega. No geral, as respostas das pessoas que recebiam os kits eram: “muito obrigado” e “Deus os abençoe”, sempre com tom e olhar sinceros. Uns dois senhores fizeram questão de comer o pão ao lado de quem entregava, para aproveitar e conversar um pouco com os voluntários. Após o papo, agradeceram o alimento e finalizaram em conjunto com um: “muito obrigado por nos ouvir, isso não é tão comum hoje”. Essas reações de gratidão se refletiam no olhar dos voluntários, que passavam a impressão de contentamento.
Uma hora foi o suficiente para que 500 kits de alimentação e higiene, 250 pães, 15 litros de café, 12 litros de suco e 300 cobertores fossem distribuídos, debaixo de uma garoa incessante.
Na volta ao estacionamento, todo o grupo de 23 voluntários estava com um sorriso no rosto e conversando sobre a ação. “Ser voluntário é gratificante, as pessoas se aproximam umas das outras. Aqui temos um grupo de WhatsApp para combinar os encontros e conversar”, comenta Amorim.
Antes do grupo se separar, é tirada uma foto de todos, já tradicional nos encontros. O retorno para casa dos voluntários é cheio de energia e contentamento, a sensação de fazer parte de ações desse tipo é indescritível. Por isso vale a pena ir, participar, viver essa experiência. A cultura da ajuda é fundamental para alcançarmos uma sociedade mais justa, solidária e igualitária.
Notas.
1. Para mais informações sobre a ONG Bem da Madrugada, basta acessar o link: http://bemdamadrugada.org/
2. Para mais informações de como se tornar um voluntário de qualquer causa, segue uma lista de cinco dicas, criada pelo Observatório do Terceiro Setor: https://observatorio3setor.org.br/carrossel/5-dicas-para-voce-se-tornar-um-voluntario/.
Debora Pires
14/02/2017 @ 19:34
A ONG Parceiros Voluntários, no Rio Grande do Sul, trabalha com o voluntariado organizado. Uma proposta de preparação e encaminhamento de voluntários às causas, cuja proposta prevê o engajamento e trabalho sistemático, atendendo as necessidades das organizações sociais, fortalecendo-as para qualificar o atendimento aos seus beneficiários.
Paula Érica Vilela Dourado
16/02/2017 @ 01:49
Quero participar diretamente e receber notícias e novidades do site
Redação
21/02/2017 @ 15:39
Olá, Paula,
No momento, não estamos produzindo newsletters ou algo do tipo, mas você pode falar com a gente sempre que quiser e ver todos os nossos conteúdos na nossa página no Facebook, facebook.com/observatorio3setor.
Abraço.