Os desafios diários enfrentados pelas mulheres em situação de rua
Mulheres que já viveram nas ruas e pesquisadores falam sobre questões como dignidade, violência e maternidade
Por: Mariana Lima
Na semana passada, a Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama, em parceria com a Defensoria Pública da União (DPU), realizou a 4ª edição do ‘Ciclo de Debates sobre Gênero e Direitos Humanos’.
A discussão focou no direito humano à moradia e na população em situação de rua, com foco na população feminina.
Mulheres envolvidas com movimentos e organizações que atuam em prol de pessoas em situação de rua foram convidadas para debater o tema.
“Imagina você mulher, em um dia de chuva na rua, menstruada e sem um banheiro público para poder se limpar”
Eliana Toscano, 47, é conhecida como “Mãe da Cracolândia” por seus trabalhos de voluntariado independente na região da chamada Cracolândia, no centro de São Paulo. Eliana está em processo de saída das ruas, após um ano vivendo nelas, e revela as transformações desta vivência. “Dependendo de quanto tempo você fica na rua, você perde toda a noção de sociabilidade. A pessoa esquece como se cozinha, como se faz coisas básicas”.
É neste cenário que a moradia se torna fundamental para inclusão destas pessoas na sociedade. Durante o debate, algumas ex-moradoras de rua falaram da importância de ter um espaço só seu e como isso se refletiu no acesso aos seus direitos.
Maria da Graça de Jesus Xavier é coordenadora da União Nacional por Moradia Popular, e foi uma das palestrantes do evento. “A moradia é a porta de entrada para todos os outros direitos. Na hora de estudar ou trabalhar, a falta de endereço é um problema. Por isso, muitos desistem”.
Maria da Graça levantou a questão da menstruação nas ruas. “Imagina você mulher, em um dia de chuva na rua, menstruada e sem um banheiro público para poder se limpar”.
“Algumas relataram que ao dormir na rua se sentiam como uma barata. Outras se sentem culpadas por terem feito sexo em troca de um alimento ou droga”, conta o pesquisador.
Elisângela Cristina Flavia é conselheira do Comitê Pop Rua e participou da mesa. Ela morou embaixo de um viaduto e após conseguir sua moradia voltou a estudar. Hoje é bacharela em Direito. “Acham que a pessoa que morou na rua não tem dignidade. Com a oportunidade de uma moradia digna, pude crescer”.
Durante a rodada de considerações da plateia, Robson Mendonça, ex-morador de rua e presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua (MEPSR), abordou a questão dos albergues na capital paulista.
“A cada dia que passa os albergues me lembram mais um depósito de seres humanos. Albergue não é moradia”. Mendonça foi aplaudido pelos outros participantes do debate.
Saúde feminina nas ruas
Anderson Rosa é pesquisador do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Saúde, Políticas Públicas e Sociais, na UNIFESP. Ele trabalha com a população em situação de rua desde seu doutorado, em 2010.
Durante suas pesquisas, ele se deparou com a situação das mulheres que vivem nas ruas. De acordo com o pesquisador, poucos Centros de Acolhida conseguem oferecer produtos de higiene a estas mulheres, devido ao pouco investimento que recebem.
“Elas contam que conseguem absorventes por doações, devido à solidariedade de outras mulheres. Elas chegam às vezes à farmácia e pedem para a atendente ou para alguma mulher, e conseguem”, conta.
Rosa também observa que não se pode generalizar as histórias de todas as mulheres em situação de rua. “Existem fatores semelhantes, mas os significados são pessoais. A vida delas não começa nas ruas”.
As mulheres em situação de rua estão expostas a níveis mais altos de violência, principalmente a mulher trans. Enquanto conversava com essa população, Anderson Rosa conheceu algumas de suas estratégias para se protegerem.
“Cada mulher vai ter a sua estratégia. Algumas se vestem como homens, outras descuidam da aparência, se passam por loucas, justamente para evitar a violência”.
Após viverem nas ruas, essas mulheres ficam com uma marca que dificilmente esquecem. “Algumas relataram que ao dormir na rua se sentiam como uma barata. Outras se sentem culpadas por terem feito sexo em troca de um alimento ou droga”, conta o pesquisador.
A maternidade é outro aspecto ignorado na vida destas mulheres. Ao darem à luz, as mulheres podem ficar até 6 semanas com o bebê em centros de acolhida especiais para mães. Elas não podem ir para as ruas com o bebê recém-nascido. Mas, depois disso, essas mulheres voltam para as ruas e têm a ‘opção’ de deixar o bebê para adoção ou o levarem com elas.
Hoje existe a rede Consultório na Rua, que realiza atendimentos médicos para esta população em um veículo. As mulheres gestantes são prioridade nestes atendimentos. “É difícil manter o acompanhamento. Se conseguimos três consultas do pré-natal, já consideramos um sucesso”.
Os profissionais que participam deste projeto são treinados para trabalhar especificamente com a população em situação de rua.
Organização
A Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama atua desde 2009 na defesa e divulgação dos direitos desta população. A cada semestre a clínica conta com um grupo de voluntários (alunos da Faculdade de Direito da USP ou de outras instituições), que dialogam com esta população na região da universidade.
Em 2015, a Clínica realizou um estudo, publicado em 2017, sobre a 1ª infância e a maternidade nas ruas de São Paulo.
A equipe da clínica, com a ajuda de profissionais da área de psicologia, acompanhou casos de mulheres em situação de rua que deram à luz, para averiguar se havia a retirada destes bebês das mães e como era a maternidade nas ruas.
Danielle Eugênio
07/05/2019 @ 18:03
Olá boa noite,
Me chamo Danielle e gostaria de saber como ajudar com produtos de higiene para as mulheres?
Wando
08/05/2019 @ 18:32
Existe uma ONG que se chama MINI GENTILEZAS procura no Facebook. Tem vários pontos de coleta vc pode ajudar lá.
Carolina
08/05/2019 @ 19:22
Danielle, tem vários projetos sociais que fazem arrecadação. Eu normalmente deixo meus produtinhos nos pontos de coleta do Mini Gentilezas, tem vários pontos espalhados pelo Brasil (e até no exterior). Eles fazem um trabalho lindo.
https://linktr.ee/minigentilezas
??
Bianca
09/05/2019 @ 10:42
Danielle, eu estava imaginando a mesma coisa ao ler a matéria e pensei: por que não entregar para as próprias mulheres que encontramos nas ruas?
Livro retrata a realidade das mulheres que vivem em situação de rua
07/06/2019 @ 08:01
[…] obra retrata a realidade destas mulheres e suas histórias de vida. O livro também aborda importantes questões sobre como elas se […]
Andrezza
14/06/2019 @ 21:28
Tenho um grande desejo de trabalhar com moradores de rua. Aqui em Campinas SP faço parte de um projeto chamado RHUAH ?? . Sou Assistente Social. Gostaria de saber onde posso contribuir aqui com produtos de higiene.
Marina [email protected]
16/06/2019 @ 08:42
[email protected] Maria Darcy Magalhães dos Santos sou estudante de serviço social, e estou no campo de estágio no DF ao visitar uma casa de acolhimento para mulheres, observei que que não a oficinas para essas mulheres aprender alguma coisa que seja útil para elas passarem o tempo e ao mesmo tempo apredendo uma profissão .
Darcy
16/06/2019 @ 08:50
Porque não entregar material de higiene para as mulheres que vivem em situação de rua pessoalmente? As vez as pessoas tem é medo de se aproximar dessas pessoas , pela a situação que elas se encontram..
Douglas
02/11/2019 @ 10:49
Para quem trabalha com a população de rua, é muito importante estar atento a estas realidades das mulheres na rua.
O aumento do número de mulheres moradoras de rua - PASSO A PASSO DA REDAÇÃO
04/05/2020 @ 19:41
[…] Fonte: https://observatorio3setor.org.br/carrossel/os-desafios-diarios-enfrentados-pelas-mulheres-em-situa… […]