Brasil: Nada a comemorar!
Em 2016 escrevi o artigo “A cultura cruel dos Adãos e a resistência das Evas”. Na ocasião fui bombardeada de críticas extremante agressivas por parte de um número expressivo de homens. As diversas reações são “aparentemente normais” para muitos, quando nos referimos a uma sociedade brasileira conservadora, violenta e machista. Porém, as agressões ganham um corpo ainda mais selvagem quando se tratam de mulheres que refletem e questionam a ordem da sociedade dos homens “machos e inteligentes”.
Nos últimos dois anos, pós golpe parlamentar, a sociedade dos homens mostrou-se de forma clara, e nada secreta, sem nenhuma vergonha no que diz respeito a forma de tratar o universo feminino. Não somente isso, mas também com outras “minorias” sociais.
Destaco um acontecimento lamentável e repugnante: a entrevista da candidata a presidência da república do PCdoB, Manuela Ávila, no Programa Roda Viva da TV Cultura. Um show de machos que não a deixavam falar, mas tentavam a todo momento impor suas ideias de cunho extremamente conservador. Contudo, a grande Manuela não se intimidou e enfrentou de maneira firme aqueles supostos entrevistadores que nada refletiam e apenas tinham como o objetivo mostrar que estavam diante de uma “mulher comunista”.
É preocupante. Vivemos tempos ainda mais sombrios, pois nós, mulheres nesse Brasil tão excludente e desigual, somos violentadas das mais diversas maneiras. Quem matou Marielle e Anderson? Quem matou as inúmeras jovens mulheres negras nos diversos cantos desse país? Nenhuma resposta.
Esse fenômeno nefasto e selvagem do mundo não mais secreto dos homens machos faz parte do âmbito tanto público como privado. A violência não tem mais máscara. Ela é claramente visível. Somos todas vítimas.
Recentemente, na página de um conhecido nas redes sociais, defendi a liberdade do presidente Lula (Lula Livre), bem como as políticas públicas, soberania nacional, entre outras questões.
A reação de vários homens foi imediata. Com os seguintes comentários: “Você é burra”, “Você tem inteligência limitada”, “Você é cega”, “Você defende pobre que não quer trabalhar”, “Arrogante”, “Rebelde”, “Radical”…
Entretanto, esse ataque conservador e machista estava também mesclado de um real desprezo da relevância das políticas públicas. Percebi um discurso de ódio contra os pobres e principalmente a oposição a qualquer construção de projeto de Estado de bem estar social.
Isso só constata que o ódio ao PT ou a qualquer projeto voltado para políticas públicas, em especial aos mais pobres, não é aceito por uma grande parte da elite e de uma parte da classe média brasileira.
Triste? Sim. Mas extremamente preocupante, pois só constatamos que estamos diante de país não em desenvolvimento, mas selvagem e subdesenvolvido, que tem uma parcela de privilegiados alheios a qualquer projeto humanista e de defesa a soberania nacional.
Para a manutenção desse projeto de um Brasil para poucos é necessário manter na linha da exclusão ou até mesmo exterminar os pobres, negros, jovens, e é claro, milhares de mulheres que lutam contra esse projeto hegemônico.
Nada a comemorar com os jogos da Copa do Mundo, nem com a seleção brasileira. Não comungo dessa alegria ilusória que os donos do poder propiciam ao povo. Anestesiar as pessoas em tempos de violência em todas as esferas sempre foi a estratégia utilizada pelos donos do poder. Vimos isso durante toda a história do Brasil.
Nosso circo não tem o colorido que nos enche de luz.
Nosso circo não tem a alegria e o sorriso das crianças.
Nosso circo não tem a leveza do palhaço.
Nosso circo só tem sangue, dor e injustiça.
Nosso circo está de luto.
Adriana Furlaneti
02/07/2018 @ 20:36
Parabéns! Como sempre um excelente reflexão sobre a condição das mulheres do nosso país, bem como a situação em que vivemos e a visão cega da elite e dé uma classe média conservadora.
Os direitos sociais dissipados, a violência exacerbada , o sangue dos pretos , pardos pobres e moradores da periferia que não conseguem romper com este ciclo imposto pelo estado neoliberal irá continuar até quando?
É sempre bom ver uma mulher inteligente escrever e mostrar tão bem a realidade.