É experimentando que se aprende!
Para me convencer a fazer um test-drive de um carro novo a marca não me vende o carro, mas a experiência de tê-lo, a brisa no rosto, a possibilidade de ir a lugares lindos. No carro usado colocam aroma de carro novo para que eu me lembre de todas estas sensações.
Estão ocupando minha memória para que eu não me esqueça de que preciso comprar aquele produto por suas vivências.
Experimentar é o mesmo que pôr em prática, vivenciar.
Dizem que é errando que se aprende, mas o ditado bem poderia ser
É experimentando que se aprende. E se houver erro, será bem-vindo!
Mas como a educação tem lidado com isso? Que possibilidades de erro podem ter nossas crianças e educadores em situação escolarizada?
Esta é uma de nossas maiores vulnerabilidades já que é este tipo de educação que perpetua desigualdades sociais.
Só 2,4% dos jovens querem ser professores.
Que experiências estão associadas a esta profissão?
Enquanto o mercado vai cuidando de atender as demandas de cada sujeito, a escola confina e ainda massifica. Faz perder a vontade de experimentar.
O que afinal é experimentar, experienciar, experiencializar?
Encontrei recentemente esta resposta na boca de estudantes e educadores do Projeto Âncora em Cotia. Também em Cotia encontrei o Colégio Sidarta. Em ambos vi o valor da experiência.
Cada pessoa que ocupa estes espaços resolve problemas do dia a dia, têm experiências do mundo real porque não estão isoladas dele. Ninguém quer sair destas Comunidades de Aprendizagem! Ouvi, tanto de estudantes quanto de educadores de lá, algo marcante:
A gente sai daqui, mas isso tudo aqui não sai da gente.
Seu filho pode dizer isso sobre a escola em que está?
E se formos seres experimentais, ou seja, seres derivados de experiências?
Vamos experimentar?
Só se for agora!
Entendemos algo experimental quando está em teste, em prova, em período de experiência, ou seja, não pronto. Somos seres não prontos!
Se assumirmos isso, podemos desejar que todos usemos da experimentação, sem medo de erros, que usemos todos os nossos sentidos, que não nos limitemos a uma educação que é ou aplicação prática da ciência, ou um ato político, dicotomicamente.
Quem sabe possamos entender a educação também como algo subjetivo, que tem a ver com as relações, que respeita o erro, ao não estar pronta, que se abre às possibilidades do que está por ser descoberto, ao encantamento…
Para Larrosa, aquilo que nos transforma é o que é a experiência porque várias coisas nos acontecem, mas aquilo que fica em nós é fruto do vivenciado. A experiência está ligada ao sentido e é com isso que a educação deveria se preocupar. Não deveria dedicar tanto tempo à informação, já que ela não é experiência e sim quase o contrário disso.
Com nosso excesso de informação, estamos ficando pobres de experiência. Temos pressa por gerar conteúdo sobre o que ainda nem vivenciamos. Cheios de trabalhos, dedicamos mais tempo ao fazer que ao sentir. Vamos sendo vítimas de um consumismo que nos vende necessidades, que nos gera mais vontade de ter do que de ser. Somos ativos e hiperativos, mas a experiência exige uma boa dose de passividade, de tempo de escuta, de amadurecimento, de permitir o tempo para que algo passe e tenha efeito em todos os nossos sentidos. Exige disponibilidade mais que disposição.
A experiência implica relação com o experimentado. Larrosa adverte:
o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, relativo, contingente, pessoal. Se a experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas, ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência. O acontecimento é comum, mas a experiência é para cada qual a sua, singular e de alguma maneira impossível de ser repetida.
(LARROSA, 2017, p.32).
A educação é inclusiva quando há espaço para a vivência destas diferentes experiências e isso também é primar pela diversidade para além dos Projetos Políticos Pedagógicos e outros documentos teóricos que falam sobre a importância disso, mas pouco se comprometem com o como fazê-lo, porque isso implicaria uma mudança radical nas estruturas do prédio, das práticas, dos materiais utilizados, das relações com os territórios e das relações entre as pessoas.
A experiência pode gerar felicidade. E o professor José Pacheco bem define: “Felicidade é fazer amigos, dar-se sem medida, aceitar e ser aceito, viver em harmonia consigo e com outros.” (PACHECO, 2012, p. 21).
Conscientes de que cada um experimenta algo único, compartilhar, nestes espaços (Âncora e Sidarta), são verbos mais que conjugados, vivenciados. Claro está que vivendo uma experiência assim o poder de manipular pessoas é eliminado, as vulnerabilidades vão desaparecendo bem como as desigualdades. Os custos com a educação também se reduzem. A educação e a felicidade se encontram!
Referências e sugestões para avançar na temática:
- LARROSA, Jorge. Tremores: escritos sobre experiência. Tradução de Cristina Antunes, João Wanderley Geraldi. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
- PACHECO, José. Dicionário de valores. 1ª ed. São Paulo: Edições SM, 2012.
- Documentário: Quando sinto que já sei! Mostra uma educação brasileira capaz de gerar experiências de felicidade tanto em estudantes quanto em educadores. Disponível em:
- <https://www.youtube.com/watch?v=HX6P6P3x1Qg>. Acesso em: 27/06/2018.
- Dicionário digital. Disponível em:
- <http://www.aulete.com.br/experimentar>. Acesso em 25/06/2018
- Notícia do Estadão de 24/06/2018. Disponível em:
- <https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,so-2-4-dos-jovens-brasileiros-querem-ser-professor,70002364548>. Acesso em: 24/06/2018
- Empresa que facilita a aplicação do marketing de experiência e oferece importantes dicas que podemos levar para a educação. Disponível em:
- <http://experiencialize.com.br/>. Acesso em: 24/06/2018.
- Colégio Sidarta – citado no texto. Disponível em:
- <http://www.sidarta.org.br/colegio/pt>. Acesso em: 24/06/2018
- Projeto Âncora – citado no texto. Disponível em:
- <https://www.projetoancora.org.br/>. Acesso em: 23/06/2018.
- Projeto Âncora: uma experiência concreta de educação integral. Vídeo feito pelo Centro de Referência em Educação Integral. Disponível em:
- <https://www.youtube.com/watch?v=K2VeuxmCfUE>. Acesso em: 23/06/2018