Terceiro setor: Um iceberg isolado?
Nos últimos meses, tenho vivenciado uma experiência que tem me causado certa estranheza e preocupação: a apatia e distanciamento de uma parte do terceiro setor das questões sociais, políticas e econômicas, tanto em nível nacional como internacional. Como não gosto de generalizações, ressalto que não são todas as organizações que têm essa visão limitada.
Entretanto, percebo que quando abordo assuntos como a relevância da análise de conjuntura crítica contínua e permanente no universo da gestão e dos projetos sociais, soa como algo teórico e sem valor.
Infelizmente o que predomina são análises simplistas e do senso comum, sem uma integração e articulação das ações e projetos sociais que essas organizações desenvolvem com a realidade. Não somente isso, mas questões que envolvam o mundo da política brasileira e os projetos propostos pelos “donos do poder” não são analisadas de maneira crítica e reflexiva, pois são vistas como meras disputas partidárias que não afetam as organizações.
É extremamente preocupante verificar que algumas organizações foram cooptadas pelo discurso ideológico conservador do capital, com ênfase a valores nocivos de utilitarismo e individualismo. A ausência de conhecimento e formação política é nítida quando esses não conseguem pensar o mundo na sua totalidade, permeado de um movimento contínuo e contraditório.
O terceiro setor tem um compromisso com a sociedade, pois atua com questões públicas relevantes que contribuem para a defesa de direitos, cidadania e justiça. Talvez todos esses princípios estejam sendo esquecidos em um momento de crescimento de valores neoliberais, bem como de valores contemporâneos de que é preciso ter pressa de fazer, de pensar e de agir.
Porém acredito que é necessário que as organizações da sociedade civil ultrapassem o senso comum e rompam com o seu isolamento. Para isso é preciso desenvolver por meio do conhecimento verdadeiro a consciência crítica, que é a única que liberta e que nos faz agir de maneira coletiva.
Ir contra a corrente da lógica do grande capital não é somente um ato de coragem, mas uma ação libertadora, voltada para a construção de um projeto societário democrático e justo para a coletividade.
O terceiro setor deve urgente quebrar seu isolamento e fazer parte desse projeto, porém torna-se fundamental olhar para fora do seu próprio umbigo minúsculo e compreender a totalidade das diversas expressões da questão social contemporânea que atinge toda a sociedade.