Captação de recursos em tempos de corte de custos
Tenho ouvido bastante a expressão “cortar custos”, “reduzir despesas”, cortar… cortar.
O que mais tem preocupado, e afetado, o terceiro setor, as entidades beneficentes, organizações não governamentais, sem dúvida, é a restrição orçamentária. Em termos de recursos, o enxugamento promovido pelas empresas e organizações e, em decorrência, dos indivíduos.
Parece óbvio: corte de custo significa corte de supérfluos, despesas consideradas, portanto, desnecessárias. Não acredito que os recursos destinados à beneficência façam parte desta categoria, mas deve haver pessoas que acreditam que sim.
Nesses tempos bicudos, com vistas à sobrevivência, todos fecham os caixas, as torneiras, os bolsos, as mãos. As mãos. Elas que precisariam estar estendidas para que muitas das ações sociais relevantes se mantivessem funcionando.
Então fica a pergunta: o que devemos fazer para poder continuar fazendo? Desculpem-me pelo trocadilho, mas é uma indagação que deve estar na mente de muitos gestores no terceiro setor. E não há uma resposta simples. Nem única.
O convencimento da necessidade de manter-se, ou de obter recursos, fica prejudicado substancialmente. Até porque as alegações dos cortes pelos doadores, ou benfeitores, devem fazer sentido.
O fato é que, se a economia retrai, aperta-se o cinto.
Mas, acredite, sempre há alternativas, há saídas. O que não deve haver é a opção por desistir.
Poderíamos discorrer aqui sobre fórmulas mirabolantes, a importância da inventividade, de fazer mágica, enfim, buscar o mínimo para continuar atuando, tentando cumprir a missão e, de verdade, isso não é mera formalidade.
Acredite, ainda, que a inovação, a inventividade é fundamental e de grande importância. Porém não se trata de reinventar a roda.
Nesse texto eu gostaria de tratar de fórmulas estabelecidas e que, com um pouco de dedicação e até uma dose de inovação, para alguns, podem trazer excepcionais resultados. Trata-se do óbvio novamente: relacionamento, essa atividade social de grande importância para a sociedade e que pode garantir sucesso nas ações ao longo do tempo.
Os bons e firmes relacionamentos
Captação de recursos deve mesmo basear-se nos relacionamentos. Ou seja, busca de recursos é uma atividade que trata de fazer amigos. Neste sentido, criar e manter relacionamentos são grande parte da solução.
Então vamos à prática para não ficar apenas no discurso. Como plataforma de relacionamento, toda entidade precisa criar seus canais de comunicação que permitam contatos constantes, presentes e relevantes. É preciso não apenas divulgar, mas buscar engajar pessoas, empresas e organizações de forma que cada um desses entes seja um elo na corrente do bem. Acredito muito que todos querem fazer parte das boas ações, das ações do bem.
Mas relacionamento não se constrói fazendo uma ligação telefônica por mês, ou de tempos em tempos, contando uma historinha e pedindo doação. E pior, as ligações parecem ocorrer sempre nos horários mais inapropriados, afastando as pessoas.
Relacionamento se constrói dialogando, se interessando pelo que a outra parte pensa, entregando informações relevantes a estas pessoas. Ou seja, a relevância não está presente na doação, mas nas razões pelas quais a doação foi feita, no sentimento de importância que terá essa doação ou na diferença que ela fará na vida dos menos favorecidos. Todos devem se sentir bem, pois é prazeroso participar e saber que fazemos diferença, para melhor, na vida de outro indivíduo, ainda que não o conheçamos.
Mas vale lembrar: doação não é apenas representado por valores monetários. Há muitas outras formas. Agora, deixe que esse indivíduo, ou empresa, saiba o que será feito com a doação dele. Convide-o a participar, conhecer, se envolver com a causa. Conhecer a sua instituição, saber como os recursos serão utilizados é um importante passo para criar o relacionamento e é desejável ter em mente que doadores querem conhecê-los de verdade.
Mantenha os contatos constantes para levar informações, contar sobre os progressos e conquistas. Ofereça um ambiente para integração e envolvimento. Engajamento. Não apenas pedidos.
Cultive os relacionamentos com a base de doadores e de voluntários. Com a comunidade. Nos momentos como o que vivemos, de cintos apertados, os corações e mentes estejam mais abertos, mais livres para compreender e apoiar a ação da sua instituição, apoiar a causa da instituição.
Nos próximos artigos falaremos sobre esse assunto e as ferramentas para que a comunicação ajude você para criar plataformas de relacionamento e formas de prospecção. Esperamos que com essas ferramentas possamos construir juntos uma “rede do bem”. Como faz o Observatório do Terceiro Setor.
Até a próxima.