1,5 mil edificações estão no caminho das barragens da Vale em MG
Um ano e meio após a tragédia de Brumadinho, Vale e poder público não divulgam as áreas que podem ser atingidas por novos rompimentos das barragens. Ao menos 10 escolas estão no caminho da lama
Por: Mariana Lima
No dia 25 de julho, o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, completou um ano e meio. Foram 270 mortos, vítimas da tragédia, enquanto 11 seguem desaparecidos.
Ainda assim, dados da Repórter Brasil obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), revelam que 1,5 mil edificações estão na “rota da lama”, em caso de novos rompimentos da Vale no estado.
Mapas inéditos obtidos pela rede de jornalismo independente mostram que 10 escolas estão dentro das chamadas Zonas de Autossalvamento (ZAS) das barragens.
Essas áreas são as que seriam atingidas pelos rejeitos em até 30 minutos, sem tempo para a Defesa Civil retirar a população do local.
Em 2019, a Vale chegou a planejar a publicação de um site com os mapas das Zonas de Autossalvamento de 64 barragens – sendo que 59 delas estavam em Minas Gerais – e rotas de fuga em caso de rompimento.
No entanto, a divulgação nunca ocorreu. Por meio dos mapas divulgados recentemente, a população pode enfim descobrir se estão em risco ou não por conta das barragens de rejeitos de minério.
De acordo com a análise dos mapas, são mais de 1,5 mil edificações, espalhadas em 16 municípios, que poderiam ser gravemente atingidas pelos rejeitos, no caso de rompimento.
Entre elas estão prédios públicos: quatro Fóruns de Justiça, duas Câmaras de Vereadores e uma prefeitura. O país ainda tem outras 300 barragens de outras mineradoras, cujas áreas de risco continuam desconhecidas.
Os mapas das áreas de autossalvamento fazem parte do plano de emergência da barragem, que deve ser elaborado pela mineradora para “minimizar danos e perdas de vida”.
Contudo, mesmo sendo documentos públicos, são de acesso limitado. Com a divulgação da Repórter Brasil, foi a primeira vez que esses mapas, elaborados pela Vale, vêm a conhecimento público e estão disponíveis para consulta.
Caso Brumadinho
O caminho que a lama percorreu em 25 de janeiro de 2019, em Brumadinho, foi similar ao previsto no plano de emergência da Vale.
O poder de destruição observado na região chegou ao equivalente de uma onda de 30 metros a 120 quilômetros por hora, de acordo com cálculos da Polícia Federal.
Os 270 mortos da tragédia estavam na ZAS, enquanto 60 construções do local foram completamente destruídas, não sobrando vestígio nem dos seus alicerces.
Os funcionários e moradores sobreviventes informaram que não sabiam por onde a lama iria passar, nem conheciam as rotas de fuga.
Possíveis novas tragédias
A cidade de Rio Piracicaba, com seus 14 mil habitantes, é a que seria mais atingida em caso de rompimento. Na região, a área de autossalvamento engloba aproximadamente 500 construções, entre elas quatro escolas, a prefeitura, a Câmara de Vereadores e o Fórum.
Atualmente, as barragens da Vale em Rio Piracicaba são consideradas fora de risco. Em seguida, vêm as cidades de Itabira e Nova lima, com mais de 400 imóveis cada na zona de autossalvamento.
Em Itabira, as barragens estão sem emergência ou em nível 1 – considerado de risco baixo. Já em Nova Lima, seriam atingidos duas escolas, três edifícios do Poder Judiciário, a Câmara Municipal e a própria Defesa Civil.
Das janelas da prefeitura de Nova Lima seria possível observar a lama chegando até a lateral do prédio. As barragens da Vale na cidade variam de sem emergência até nível 3.
Em relação às represas mais perigosas, a zona urbana faz parte da área de autossalvamento, mas está na Zona de Segurança Secundária, que seria atingida em um segundo momento, após 30 minutos.
Fonte: Repórter Brasil