63% das moradoras da capital paulista já sofreram algum tipo de assédio
Informação faz parte de uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo, que teve como foco a qualidade de vida e as desigualdades enfrentadas pelas mulheres na cidade
Por: Mariana Lima
Em São Paulo, 63% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio, sendo que 43% no transporte coletivo, 22% no local de trabalho; 14% no ambiente familiar e 10% em transporte particular. Além disso, 31% das paulistanas já sofreram algum tipo de discriminação ou preconceito no local de trabalho por serem mulheres.
Estes dados fazem parte da nova edição da pesquisa ‘Viver em São Paulo: Mulher’, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência e divulgada em um evento na última quarta-feira (04/03).
O objetivo do recorte temático da pesquisa é ampliar o debate sobre o cotidiano e a desigualdade enfrentada pela mulher paulistana.
“Quando observamos a mulher na cidade, percebemos que elas raramente estão como protagonistas. O evento atua como um grão na conscientização da violência e desigualdade impostas a elas”, declarou Jorge Abrahão, coordenador geral da Rede Nossa São Paulo.
Os dados
A pesquisa ouviu mulheres sobre temas como a divisão de trabalho, cuidados com os filhos e violência. Homens também foram ouvidos em questionamentos específicos.
Para 45% da população paulistana, homens e mulheres dividem igualmente os afazeres domésticos. No entanto, o recorte de gênero aponta que os homens (52%) são os que mais consideram que a divisão é igual, contra 39% das mulheres.
Em relação aos filhos, 45% dos entrevistados afirmaram dividir os cuidados de forma igualitária, sendo que homens representam 57% e as mulheres 37%.
Ainda assim, 31% das mulheres responderam que ficam mais com o filho do que a outra pessoa que cuida, enquanto apenas 17% dos homens fizeram essa afirmação.
Ao todo, 2 em cada 10 mulheres não dividem os cuidados com os filhos com ninguém – incluindo o parceiro.
Sobre a percepção da violência contra a mulher e de seu combate, os paulistanos apontam para um aumento nos casos de assédio sexual e da violência em 2019. As mulheres são as que mais tiveram essa percepção (82%), contra 64% dos homens.
Quando questionados sobre quais devem ser as prioridades no combate à violência contra a mulher, as mulheres priorizaram o aumento nas penas para quem comete a violência (48%). Em seguida apareceram como respostas: agilizar o andamento das investigações de denúncias (40%); ampliar os serviços de proteção (39%); e criar novas leis de proteção à mulher (34%).
Já sobre a vivência da violência na cidade, 46% das entrevistadas responderam que o transporte público é o local em que mais sentem risco de sofrer algum tipo de assédio.
O debate
Após a apresentação dos dados, foram convidados para a mesa de debate a jornalista e apresentadora do Estúdio CBN, Tatiana Vasconcellos; o fundador da plataforma de conteúdo e formação parental 4Daddy, Leandro Ziotto; e a líder do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), Carmen Silva.
Para a jornalista Tatiana Vasconcellos, excluir o homem do debate não é uma solução.
“Enquanto eles forem os principais agressores, não vai adiantar apenas dialogar entre mulheres. Todos os dias as mulheres pensam que podem ser vítimas de um assédio. Um homem não pensa que pode ser bolinado no transporte público”.
Tatiana também reforçou que a “ajuda” oferecida pelos homens em casa ainda reforça papéis de gênero, pois é como se a obrigação de fazer as coisas fosse da mulher e o homem estivesse a ajudando, quando na verdade a obrigação de cuidar da casa é de ambos.
“Essa ajuda masculina acompanha a ideia de que a responsabilidade é da mulher. Quando a mulher questiona, ele fala: ‘Por que você não me disse o que tinha que fazer?’”.
Leandro Ziotto também abordou a divisão das tarefas domésticas. “Se for questionado, o homem vai dizer que divide. Tem que se pensar no que o homem considera como tarefa doméstica”.
Ziotto utiliza da paternidade para conseguir dialogar com os homens que o acompanham em sua plataforma.
“O carnaval dura mais que a licença paternidade no país. A sociedade não valoriza o trabalho parental, e sem isso os programas e políticas públicas servem apenas de muletas”.
Já a líder do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), Carmen Silva, abordou a importância de ouvir.
“O Estado não escuta a população, por isso temos tantas falhas nas políticas públicas. Outro problema é que poucas mulheres estão na política, então, no final são os homens que tomam as decisões que cabem a nós. E eles não participam destes debates”.
Carmen, mãe de 8 filhos, veio da Bahia para São Paulo, onde teve que dormir nas ruas, no início dos anos 1990.
“Quando eu cheguei no Movimento, percebi que meu problema não era isolado. Eu sofri com a violência doméstica, e na ocupação as mulheres chegam pela falta de seus direitos”.
Para conferir a pesquisa completa, clique aqui.