Assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes completam um ano
Relembre a trajetória da ativista dos direitos humanos
Por: Isabela Alves
O dia 14 de março marca o aniversário da morte da defensora dos direitos humanos Marielle Franco. No país que mais mata negros, ativistas e LGBTs, ela conseguiu contrariar as estatísticas e se tornar vereadora do Rio de Janeiro durante a eleição municipal de 2016, com a quinta maior votação.
Nascida e criada na favela do Complexo da Maré, ela começou a trabalhar aos 11 anos de idade como camelô junto dos pais, para ter dinheiro o suficiente para pagar seus estudos. Aos 18, ela deixou esta função e começou a trabalhar como educadora infantil de uma creche.
Foi com esta idade que ficou grávida da sua primeira e única filha, Luyara. Naquele momento, precisou interromper seus estudos. Em 2002, Marielle se graduou pela PUC-Rio em Ciências Sociais, e depois fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É importante ressaltar que a ativista iniciou sua militância após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré.
Em 2016, na sua primeira disputa eleitoral, foi eleita vereadora na capital fluminense, com mais de 46 mil votos. Marielle se tornou a segunda mulher mais votada ao cargo de vereadora em todo o país.
“A Marielle representava uma voz, uma possibilidade. Ela levou ao parlamento questões que raramente eram consideradas e defendia grupos vulneráveis, como as mulheres, negros, LGBTs e pessoas que moram na periferia. Por defender essas populações, ela acabou provocando a ira e o ódio de quem está do outro lado”, explica Maria Aparecida Silva Bento, coordenadora Executiva do CEERT (Centro de Estudos de Relações de Trabalho e Desigualdades) e doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP.
Diante das denúncias que vinha realizando, por conta da violência policial nas favelas do Rio de Janeiro, no ano passado, ela foi morta a tiros, no bairro do Estácio, região central do Rio de Janeiro. Ela tinha 38 anos.
Mais de dez disparos atingiram o veículo: quatro destes disparos atingiram a cabeça da vereadora. Anderson Pedro Gomes, de 39 anos, dirigia o carro e também foi atingido por pelo menos três tiros nas costas e não resistiu aos ferimentos. Ambos morreram no local. Apenas a jornalista Fernanda Chaves, assessora de Marielle, sobreviveu ao atentado.
“A sua morte ocorreu em um ano de eleição. Eles tentaram ameaçar e calar a voz dos grupos de direitos humanos, mas ao matar Marielle, eles atingiram o oposto. A sua morte virou tema mundial e o Brasil inteiro se mobilizou. Isso fez com que a sociedade se politizasse sobre diversas questões urgentes que não estavam sendo ditas, como a violência contra a mulher, o genocídio da juventude negra e a morte de ativistas no Brasil”, destaca a especialista.
Na última terça-feira (12/03), os primeiros suspeitos pelos homicídios foram presos: o sargento reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz. Agora, a segunda fase da investigação continuará com a intenção de responder a principal questão: quem mandou matar Marielle?
Este ano, quatro amigas da vereadora foram eleitas no Rio. Talíria Petrone, Renata Souza, Mônica Francisco e Dani Monteiro vão ocupar três cadeiras na Assembleia Legislativa e uma na Câmara dos Deputados. Para Cida Bento, o legado de Marielle seguirá desta forma: quando falarmos sobre ela, dermos luz a pautas relacionadas a pessoas em situação de vulnerabilidade, e ao apoiar parlamentares como ela.
“Marielle continuará viva. Após um ano da sua morte, houve o crescimento da pressão do Estado e uma crescente politização. Na minha opinião, o mandante do crime será encontrado. O caso tomou grandes proporções. Não há como ficarmos sem respostas”, conclui Maria Aparecida.
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