Brasil: 4 mil pessoas com Covid-19 morreram à espera de um leito de UTI
Dados levantados pelo jornal El País revelam que a pressão no SUS resultou na morte de pacientes em 6 Estados brasileiros durante a crise sanitária
Por: Mariana Lima
Um levantamento realizado pelo jornal El País Brasil mostrou que ao menos 4.132 pessoas morreram antes de conseguir um leito em uma unidade de terapia intensiva (UTI) para o tratamento de Covid-19.
Essas mortes ocorreram em seis Estados brasileiros: Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Maranhão.
Para a realização do levantamento foram usados dados das secretarias estaduais da saúde, que oferecem pistas sobre o tamanho da pressão sofrida pelo SUS desde fevereiro, quando a pandemia de Covid-19 se iniciou no país.
Foram consultadas as 27 unidades da federação para saber quantas solicitações por uma UTI com perfil de Covid-19 foram canceladas por morte do paciente em suas centrais de regulação – setor que recebe os pedidos das unidades de saúde da rede estadual e os distribui conforme diversos critérios.
Vale ressaltar que as mais de 4 mil mortes à espera por um leito retratam a situação de apenas um terço do país, uma vez que somente seis Estados informaram os dados em questão.
Este dado pode incluir tanto os casos de desassistência por conta do colapso do sistema de saúde, quanto situações em que pacientes já chegaram em estado tão grave que não houve tempo para colocá-los na terapia intensiva.
No Rio de Janeiro, pelo menos 2.340 pacientes infectados pelo novo coronavírus morreram antes de chegarem a um leito de terapia intensiva.
De acordo com dados repassados pelo Governo do Estado, a constatação do óbito foi a principal causa de cancelamento de solicitações feitas à central de regulação estadual.
Essas dados correspondem quase à metade dos 5.080 cancelamentos feitos nos últimos meses relacionados aos leitos de Covid-19.
Os cancelamentos ocorrem por diversos motivos, como alta hospitalar, melhora clínica, falta de condições de transporte, desistência, fora do perfil, dentre outros.
Nestes últimos meses, as taxas de ocupação de leitos públicos no Rio de Janeiro vêm diminuindo, o que acabou motivando o fechamento de ao menos dois hospitais de campanha, na capital e em São Gonçalo.
No Rio Grande do Sul, foram 314 pessoas que morreram à espera de uma UTI, representando cerca de 14% de todas as mortes por coronavírus registradas no Estado.
Os estados do Amazonas e Ceará, que também enfrentam problemas de saturação em seus sistemas de saúde, não responderam quantas pessoas foram retiradas da lista por óbito.
O cenário na Bahia
Na Bahia, o Estado informou que 734 pessoas faleceram antes de serem transferidas para UTIs por Covid-19, mais da metade delas (482) somente nos meses de junho e julho. Em agosto, a Bahia se tornou o segundo Estado do país com mais infecções, em números absolutos.
Vale apontar que nem todos que morrem à espera de um leito de UTI tinham realizado o teste PR-PCR para determinar a infecção por Covid-19. Mas o Ministério da Saúde já não exige este tipo de exame para validar o diagnóstico.
O quadro geral
A plataforma Regula RN (que atualiza dados de hospitais a cada cinco minutos) indicou que apenas 40% de todos os leitos críticos exclusivos para Covid-19 estão ocupados.
No Nordeste, uma das regiões brasileiras mais impactadas pela pandemia e com sistemas de saúde mais frágeis, o Maranhão, por exemplo, conta ao menos 97 pacientes com Covid-19 que faleceram antes de conseguir chegar à terapia intensiva.
O Paraná afirmou que 643 solicitações por UTIs para tratar pacientes com a Covid-19 foram canceladas na sua central de regulação, mas não especifica quais os motivos da retirada desses pacientes da fila de leitos.
No Sudeste, Minas Gerais informa que 296 pacientes morreram antes de serem transferidos para um leito de UTI. Lá, os óbitos por Covid-19 dobraram em um mês.
O Estado de São Paulo, reconhecido como a porta de entrada para o vírus no Brasil e que concentra desde o início da crise os maiores números absolutos de casos e óbitos por Covid-19, não apresentou seus dados.
É importante salientar que o acesso a um leito de UTI não garante a sobrevivência do paciente grave com o vírus, mas possibilita cuidados mais específicos para combater a doença.
Fonte: El País Brasil
Corrupção RJ: mortes à espera de leitos e R$ 1,8 bilhão desviado da saúde
29/09/2020 @ 17:17
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