Competição online busca soluções tecnológicas contra o tráfico humano
Iniciativa promovida pela IBM visa mobilizar universitários e o público interessado em análises de dados no combate ao tráfico humano na América Latina
Por: Mariana Lima
Com a pandemia de Covid-19, vítimas de tráfico humano podem ficar ainda mais vulneráveis a esta violação dos direitos humanos.
A análise realizada pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) revela que os bloqueios, restrições de viagem, limitações de trabalho e cortes de recursos estão tendo um impacto negativo e perigoso na vida destes indivíduos.
De acordo com a análise, as restrições de movimento e o fechamento das fronteiras impedem que vítimas resgatadas retornem para casa, enquanto outras enfrentam atrasos nos procedimentos legais.
Além disso, o cenário atual aumenta o risco de as vítimas do tráfico humano passarem por mais abusos ou negligência por parte de seus sequestradores.
“Temos essa falsa sensação de paralisação das coisas. Mas, neste momento, com o aumento da vulnerabilidade causada pela crise econômica e a perda do emprego, as pessoas acabam embarcando em propostas sem que entendam o risco”, aponta Claudia Romanelli, líder de Responsabilidade Social Corporativa da IBM América Latina.
Através da observação das ameaças que cercam as vítimas do tráfico de pessoas, a IBM (International Business Machines Corporation), empresa internacional voltada para a área de informática, irá realizar o primeiro DataJam online da América Latina para combater o tráfico de pessoas.
A iniciativa será realizada em parceria com a ONG colombiana Fundación Pasos Libres, que realiza o evento desde 2018 junto com a IBM.
A competição, que ocorrerá entre os dias 29 de agosto e 4 de setembro, busca utilizar tecnologias disruptivas para desenvolver soluções ligadas a dados, facilitando a identificação, análise de padrões, redes e pontos críticos do tráfico humano.
“O tráfico de pessoas envolve um extenso esquema de lavagem de dinheiro. Como em qualquer comércio, porque é assim que as vítimas são tratadas, existem rotas, locais de procura e captura para um mercado receptador”, revela Claudia.
A competição
A IBM disponibilizará um grupo de voluntários para colaborar com os participantes, a partir de serviços de mentoria e aconselhamento, durante todo o DataJam.
O evento promovido neste momento é continuação de uma ação iniciada em 2019 pela IBM, com a criação da plataforma gratuita de compensação e análise de dados, a Traffik Analysis Hub (TA Hub).
Criada em parceria com a Stop The Traffick, uma rede de organizações internacionais de combate ao tráfico de pessoas, a ferramenta permite que organizações sem fins lucrativos, instituições financeiras e órgãos policiais compartilhem, correlacionem e analisem informações que possam ajudar a identificar e interromper esquemas criminosos ligados ao tráfico de pessoas.
O TA Hub atua para rastrear notícias e redes sociais públicas e ligá-las a eventos e tendências do tráfico humano, com informações que estão sendo investigadas, como casos de fraudes bancárias.
O trabalho em rede retorna na proposta do DataJam, que terá como foco a participação de estudantes universitários da América Latina e profissionais interessados no desenvolvimento de soluções tecnológicas, inovadoras, e de rápida implementação para combater esse tipo de crime.
Os inscritos deverão formar equipes de 4 a 5 pessoas – entre elas pelo menos um cientista de dados, programador ou desenvolvedor – para desenvolver suas propostas, que podem incluir o planejamento de mapas com os locais de risco, pontos de recrutamento ou pontos críticos do tráfico de pessoas, auxiliando na compreensão dos padrões e das redes envolvidas.
Além do acesso à plataforma TA Hub, os participantes também poderão acessar dados públicos e informações de conselhos de especialistas em tráfico humano da Fundación Pasos Libres e do UNODC.
“Queremos formar uma rede latino-americana de base de dados com todos os autores envolvidos no combate ao tráfico de pessoas. Uma ambição nossa é ter conexões que permitam o combate nas duas pontas: o tráfico interno e internacional. Uma base sólida será capaz de antecipar as ações e combater o tráfico de pessoas na raiz”, argumenta Claudia.
A importância da perspectiva local
O evento será realizado em inglês e espanhol, um equilíbrio importante que dialoga com as motivações para a sua realização.
“Em termos de políticas públicas, é importante atuar de forma específica e localmente. O México, por exemplo, apresenta uma busca por mão de obra para o trabalho forçado. É um comportamento específico na região. A própria ação dos governos será mais eficaz se entenderem o que está acontecendo em cada cidade”, afirma Claudia.
Ela ainda destaca o papel da sociedade civil no combate ao tráfico de pessoas. “As pessoas acham que quem é traficado está preso em uma sala escura com correntes, mas, na maior parte dos casos, a vítima tem uma atividade, ela sai e circula”.
E completa: “No entanto, está sem os documentos, não consegue falar o idioma do lugar em que está, não sabe os seus direitos e sofre abusos e violência. A sociedade pode observar mais e entender os padrões para identificar as atividades suspeitas”, esclarece Claudia.
Para se inscrever no DataJam, clique aqui.