Conheça a Beta: o robô que conecta as mulheres à política
Os usuários ficam atualizados a respeito da luta feminista no Brasil e ainda recebem alertas sobre mobilizações
Por: Isabela Alves
No dia 7 de maio, o Pacto pela Democracia promoveu, em São Paulo, a palestra ‘Inovações em mobilização social e a Beta, a robô feminista’, com Mariana Ribeiro, diretora de comunicação e projetos do Nossas.
A Beta é um robô criado pelo Nossas, um laboratório de ativismo que cria novas formas de as pessoas influenciarem a política. Os usuários da Beta ficam atualizados a respeito da luta feminista no Brasil, recebem alertas sobre mobilizações e participam ativamente da luta pelos direitos das mulheres.
De 2017, a ideia do projeto surgiu devido ao crescimento do conservadorismo e do pensamento reacionário no país. Segundo Mariana, “as principais pautas desse grupo são os costumes e a moral. Na prática, esse discurso tem um efeito muito claro nas questões de gênero e nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres”.
O grupo que formou a plataforma não sabia que tal problema iria se agravar de maneira tão rápida no país, mas já entendia que estava ocorrendo uma orquestração política, principalmente no legislativo e no governo federal, de retirar os direitos das mulheres.
Por outro lado, a tecnologia também estava mudando a forma de mobilizar as pessoas. Do ponto de vista de contexto social, o feminismo passou a ser um termo cada vez mais usado e as mulheres cada vez mais se identificam com a causa.
Segundo a pesquisa Dossiê BrandLab São Paulo, o volume de busca de pessoas querendo se informar sobre o feminismo cresceu mais de 200% em dois anos. Mesmo que esse tema esteja sendo mais discutido atualmente, ainda se fala pouco sobre a participação da mulher na política.
“Existem mulheres que são ultramilitantes e são politizadas, mas existe uma massa muito maior que se identifica com o feminismo, na forma de pensar, ser, na relação com o parceiro e igualdade de gênero no trabalho, mas não necessariamente possui uma incidência política. É para essas mulheres que pensamos a Beta: trabalhadoras, estudantes e mães, que não estão exatamente no campo da militância, mas que lutam pelos seus direitos usando a tecnologia”, explica Mariana Ribeiro.
Para alcançar todas as mulheres, o robô possui uma personalidade leve, bem-humorada, carismática e fala de pautas difíceis de uma maneira convidativa e não alarmista. Cerca de 100.000 pessoas já mandaram mensagem para o robô.
As campanhas
Devido à grande base de interações, o robô começou a selecionar as principais perguntas que não era possível responder no automático. Foi visto que existia uma grande preocupação em entender os tipos de feminismo, como, por exemplo, o feminismo negro, feminismo lésbico e o transfeminismo.
“A Beta possui um elemento educativo que não havia sido priorizado a princípio. Ao mesmo tempo, a equipe não se sentia no lugar de fala para falar sobre o transfeminismo, por exemplo”, relata a diretora de projetos. Surgiu então a ideia de buscar youtubers que pudessem falar sobre os tipos de feminismo. Entre as selecionadas estão Jout Jout; Thiessita, para falar sobre o transfeminismo; e Ana Paula Xongani, para falar sobre o feminismo negro.
A campanha de mais sucesso da Beta ocorreu este ano contra a PEC 29, que pretende mudar o artigo 5° da Constituição para garantir o direito à vida desde a concepção. Na prática, ela faz o aborto ser 100% proibido, inclusive nos casos em que é permitido hoje. A campanha conseguiu mais de 105 mil pressões.