Conhecimento limitado: Brasil proibia mulheres de ensinar matemática
O Brasil comemorou no último dia 15 de outubro o dia dos professores. O que muitas pessoas desconhecem é que a data é inspirada no primeiro decreto imperial de 1827, que criou o ensino público no país.
Em 17 artigos, o imperador Dom Pedro I (1798-1834) mandou criar escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império.
A lei apresentava alguns pontos bastante curiosos. De acordo com o decreto, os professores “ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, a prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática da língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica apostólica romana”. Na época, o Estado não era oficialmente laico. O mesmo decreto também faz uma recomendação: “preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil”.
A lei imperial previa a criação de “escolas de meninas”. Mas apenas nas “cidades e vilas mais populosas. Apesar de previstas em lei, acabaram sendo raríssimas as escolas para meninas. Naquela época, a principal preocupação de uma mulher devia ser o casamento.
Dois artigos, o 12º e o 13º, tratavam especificamente da mulher professora. Segundo o 12º, cabia às mulheres o ensino de quaisquer disciplinas estipuladas no 6º artigo, “com exclusão das noções de geometria e limitando a instrução da aritmética só as suas quatro operações”. Mulheres no Brasil eram proibidas de ensinar matemática. Era um conhecimento restrito aos homens. Enquanto isso, elas deviam ensinar às meninas “as prendas que servem à economia doméstica”.
Vale também destacar que, como a maioria dos docentes em escolas para meninas eram mulheres, as brasileiras ficaram por muito tempo sem conhecimento profundo de matemática.
O pesquisador Vicente Martins, em entrevista à BBC News Brasil, comentou: “Havia uma mentalidade, corroborada pelo próprio imperador, de que a matemática era um conhecimento restrito aos homens”, lamentou Martins.
Fonte: BBC News Brasil