Crianças são encontradas trabalhando em 70% dos lixões fiscalizados no Ceará
A equipe de Fiscalização também encontrou mistura de recicláveis com lixo doméstico, urbano e hospitalar. A mistura dos tipos de lixo é um grande risco para as pessoas, principalmente crianças
A Fiscalização do Trabalho do Ceará encontrou crianças trabalhando em 70% dos 18 lixões vistoriados. No lixão de Pacajus, a fiscalização também encontrou, em junho deste ano, a mistura de recicláveis com lixo doméstico, urbano e hospitalar.
A mistura dos diferentes tipos de lixo é um grande risco para as pessoas, principalmente crianças. O lixo hospitalar representa uma série de possibilidades de contaminação, através de seringas utilizadas, por exemplo.
As ações de fiscalização vêm ocorrendo há pelo menos um ano. Em Pacajus, o trabalho de fiscalização foi retomado devido ao número de denúncias sobre as condições irregulares do local.
“O lixão, por si só, é proibido, e você coloca esse ambiente insalubre para os trabalhadores e pra crianças e adolescentes que trabalham aqui. A gente vem monitorando pra cobrar da prefeitura e empresa responsável pela administração desse lixão que melhore as condições de trabalho e também não estimule que crianças e adolescentes fiquem trabalhando aqui”, apontou o chefe de fiscalização Daniel Areia.
José Ribamar, 42 anos, reciclador que trabalha no local, confirma que havia presença constante de crianças no lixão de Pacajus. Mas também afirma que, desde a intensificação das fiscalizações, os próprios trabalhadores têm feito apelos uns aos outros para que não levem os filhos ao local.
Apesar da necessidade, já que se tratam de famílias em situação de vulnerabilidade, Ribamar reconhece, pela própria experiência, que não é a melhor escolha para o desenvolvimento das crianças. O reciclador começou a atuar na área também ainda criança e há 32 anos vive a mesma realidade.
“Prejudica muito a vida da criança porque ela não vai atrás de escola, só quer se engajar ali achando que é um trabalho bom, no final das contas prejudica a criança quando tá maior porque não tem estudo pra arrumar um bom emprego”, lamenta.
Para o chefe da Fiscalização do Trabalho, as situações constatadas em Pacajus e outros lixões visitados revelam ausência do poder público e da administração das empresas responsáveis. Ele também lembra que, apesar de se tratarem de trabalhadores autônomos, os catadores têm direitos trabalhistas e, portanto, de proteção aos riscos dessa profissão.
Fonte: Diário do Nordeste