Cruel: vídeos de caça ilegal têm milhões de visualizações e apoio no Brasil
Canais com vídeos de caça ilegal em florestas brasileiras acumulam cerca de 300 mil inscritos e mais de 44 milhões de visualizações
Infelizmente, a caça ilegal de animais silvestres vem ganhando força na internet. Só no YouTube, maior plataforma de vídeos do mundo, há centenas de publicações que mostram o abate irregular de veados, pacas, tatus e outros animais silvestres.
A CNN analisou imagens publicadas por 20 canais que apresentam ao menos um vídeo de caça ilegal em florestas brasileiras. Essa amostra acumula cerca de 300 mil inscritos e mais de 44 milhões de visualizações.
É possível encontrar imagens de diversas etapas da caça, desde explicações sobre como montar armadilhas até o momento dos disparos e a reação dos animais, passando pela montagem de armadilhas. Em algumas filmagens, os caçadores mostram seus rostos, como quem tem certeza da impunidade.
Nos comentários, grande parte dos usuários elogia o conteúdo exibido e troca dicas de como preparar armadilhas e de armas a serem usadas nos abates. Há, também, usuários que criticam a caça e apelam aos demais em nome da proteção da vida.
Caçar ou capturar animais silvestres é crime ambiental no Brasil, com algumas exceções previstas em lei. Quem entregar os bichos de forma voluntária aos órgãos de proteção ambiental não sofre penalidades. Segundo levantamento da ONG O Eco, cerca de 40 milhões de animais são mortos no país anualmente devido ao tráfico ou à caça ilegal.
A Lei de Proteção à Fauna, de 1967, tornou ilegal a caça profissional e a comercialização de espécies da fauna silvestre, que vivem “naturalmente fora do cativeiro”. Em 1988, foi modificada pela lei 7.653, que fez distinção entre caça predatória e caça não predatória – que incluiu a caça para subsistência, controle de espécies e fins científicos, entre outros.
Dez anos depois, a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) definiu sanções penais e tornou crime “praticar maus-tratos, atos de abuso, mutilar ou ferir animais silvestres, domésticos ou domesticados, exóticos ou nativos”, com penas de prisão de até 5 anos e multa.
Em meio à exposição pública de abates ilegais, uma série de projetos de lei (PLs) em tramitação no Congresso busca alterar as legislações de proteção ao meio ambiente e diminuir as restrições à caça de animais silvestres.
Um dos que provocam mais debate é o PL 6.268/2016, conhecido como “PL da Caça”, do ex-deputado federal Valdir Colatto (MDB-SC). O projeto aguarda votação na Comissão de Meio Ambiente da Câmara, onde o relator, deputado Nilto Tatto (PT-SP), se colocou pela rejeição.
Se aprovado, revogaria a atual Lei de Proteção à Fauna e criaria uma “política nacional” para substituir a atual legislação.
Em ofício enviado à Câmara dos Deputados, a ONG Hachí, destinada à proteção animal, afirma que o projeto dificulta a fiscalização e flexibiliza os critérios para a “eutanásia” de animais silvestres. Na prática, argumenta o documento da ONG, a proposta permitiria a caça.
Fonte: CNN Brasil