Em meio à quarentena, assassinatos de mulheres dobram em SP
Aumento se refere às ocorrências nas residências das vítimas. O maior consumo de bebidas alcoólicas e a perda da renda familiar podem explicar tendência
Por: Mariana Lima
Entre 24 de março – início da quarentena no estado de São Paulo – e 13 de abril, 16 mulheres foram assassinadas dentro de suas casas. No mesmo período no ano passado, foram 9 assassinatos.
As informações foram obtidas pela Folha de S. Paulo, através da análise dos boletins de ocorrência registrados no estado no período em questão e que apontavam que o assassinato ocorreu na residência da vítima.
Até 13 de abril deste ano, foram registrados 55 assassinatos de mulheres em casa, contra 48 em 2019, representando um aumento de 15%.
A análise pode sofrer com a subnotificação, já que alguns campos dos boletins de ocorrência, como o sexo da vitima, algumas vezes não são preenchidos.
Durante a quarentena, 8 das 16 mulheres assassinadas foram mortas por seus parceiros. No último ano, foram 3 no mesmo período. No entanto, o número pode ser maior, pois em 95% das ocorrências a relação entre vítima e autor não é registrada.
O período de confinamento vem potencializando os casos de violência contra a mulher e o acionamento dos serviços de defesa. Um levantamento do Ministério Público de São Paulo revelou um aumento de 29% nos pedidos de medidas protetivas de urgência feitos por mulheres em comparação a fevereiro deste ano.
Além disso, o número de prisões em flagrante por consequência de violência contra mulher, de homicídio a estupro, também apresentaram alta: foram de 177 ocorrências em fevereiro para 268 em março.
Em entrevista à Folha, a pesquisadora e diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, apontou que fatores como o aumento no consumo de bebidas alcoólicas e a perda da renda podem contribuir para o crescimento da violência.
O aumento da violência doméstica durante a quarentena no estado vem sendo observado por diversas organizações, como Think Olga e Think Eva, que produziram um relatório sobre como o novo coronavírus está impactando a vida das mulheres.
O relatório ‘Mulheres em tempos de pandemia: os agravantes de desigualdades, os catalisadores de mudanças’, é dividido em pontos principais: violência, trabalho e economia, e saúde.
O documento apresenta dados sobre a violência contra a mulher, como o aumento de 50% da violência doméstica no Rio de Janeiro, potencializado pelo isolamento social para conter o avanço do coronavírus.
Para tratar da questão econômica, o estudo chama atenção para a situação das mulheres com trabalhos informais, pequenas e médias empreendedoras, mães e mulheres com empregos mal-remunerados.
Em relação à saúde, o relatório destaca que, apesar da Covid-19 atingir mais os homens, sendo eles 57,7% dos óbitos investigados pelo Ministério da Saúde, as mulheres correspondem a 56% dos idosos no país, principal grupo de risco da doença.
Fontes: Folha de S. Paulo | Universa – UOL