Empresa ligada a igreja é autuada por escravidão moderna
Ministério do Trabalho diz que 565 pessoas eram mantidas em condições análogas à escravidão
Por Caio Lencioni
A empresa Nova Visão Assessoria, que usava a Igreja Cristã Traduzindo o Verbo, foi autuada pelo Ministério do Trabalho, no dia 15 de março, por manter 565 pessoas em condição análoga à de escravidão. A ação fez parte da Operação Canaã – A Colheita Final, feita em conjunto com a Polícia Federal.
Segundo o Ministério do Trabalho, as vítimas trabalhavam em nove fazendas de produção hortigranjeira do grupo (seis em Minas Gerais e três na Bahia) e em cafés, restaurantes, casas comunitárias e um posto de gasolina no estado de São Paulo.
Além disso, os autos da infração também mencionam o crime de tráfico de pessoas, já que as vítimas, que se encontravam em situação de vulnerabilidade, eram aliciadas e hospedadas em casas comunitárias de São Paulo. Nesse local eram doutrinadas e depois dirigidas até um dos empreendimentos do grupo para trabalhar.
Nas fazendas, os trabalhadores não recebiam nenhuma remuneração pelas atividades que exerciam. Apenas trabalhavam em troca de casa e comida e não tinham nenhum direito trabalhista. No meio urbano, as vítimas também não possuíam nenhum direito trabalhista.
Fora o trabalho escravo, a igreja está com outra autuação, pois dos 565 trabalhadores em condições ilegais, 438 não tinham registro em Carteira de Trabalho e 38 eram adolescentes em atividades proibidas para menores.
Os auditores-fiscais não conseguiram retirar os trabalhadores das fazendas e dos outros empreendimentos para conduzi-los ao Seguro-Desemprego para Resgata, como normalmente ocorre nas fiscalizações de trabalho escravo. De acordo com o auditor-fiscal e coordenador da Operação, Marcelo Campos, as vítimas não se consideravam exploradas e diziam trabalhar em nome da fé e da coletividade.
“Normalmente, quando os fiscais chegam com a polícia, os trabalhadores ficam aliviados, porque nos enxergam como salvadores. Neste caso não. Eles achavam que nós éramos demônios que os estavam retirando de sua missão e não concordaram em deixar os locais”, explica.
Por esse fato, o grupo econômico responsável pela igreja será obrigado a regularizar a situação dos trabalhadores. Aqueles que não tinham a Carteira de Trabalho assinada deverão ter o registro incluído no documento. Todos os 565 terão que receber retroativamente pelos serviços prestados. A igreja deverá ainda providenciar o retorno das vítimas aos seus locais de origem.