Especialista discute a importância dos direitos humanos nas ONGs
Luciana Ribas é doutora em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo
Por: Isabela Alves
Durante o quarto evento do ciclo de palestras ‘Profissionalizar para transformar o 3º Setor’, que ocorreu no dia 11 de abril, Luciana Ribas, que é doutora em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo e mestra em Direito Constitucional pela PUC – SP, falou sobre como fazer dos direitos humanos um valor no dia a dia das organizações da sociedade civil.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada pela Organização das Nações Unidas, foi criada em 1948. Este documento marca oficialmente o início da preocupação mundial com as questões relativas aos direitos humanos, e lista os direitos e liberdades básicas de todos os seres humanos.
No entanto, para Luciana, este documento é apenas um pontapé inicial. Segundo ela, falar sobre os direitos humanos no contexto em que vivemos atualmente é um desafio e, devido a sua trajetória de movimento sociais e por lidar com diversas violações de direitos humanos, ela começou a ter uma perspectiva diferente sobre o assunto.
“Para trabalhar com os direitos humanos, é preciso ter muita coragem e força de vontade. Às vezes, é preciso buscar até uma válvula de escape para poder lidar com a realidade da forma que ela é”, diz.
Luciana realiza um trabalho de direitos humanos com foco nas pessoas em situação de rua há 10 anos. Segundo ela, historicamente falando, a administração pública e até a própria sociedade civil têm uma grande resistência e preconceito em relação a esse grupo.
“Eles são considerados perigosos, porém é um público totalmente vulnerável. Os direitos humanos estão no nosso dia a dia, através das nossas ações e das políticas públicas. Se a gente não medir as consequências das nossas ações, podemos continuar com esse ciclo de violência”, alerta.
Segundo a especialista, a sociedade brasileira está passando por um momento de reconstrução de valores e posicionamentos. É por essa razão que é necessário estar atento para não reproduzir preconceitos institucionalizados, sejam estes socioeconômicos, de gênero, raciais ou de em relação à orientação sexual.
Com base nisso, a especialista lança a pergunta: como é possível evitar que uma pessoa de dentro da instituição não seja um violador dos direitos humanos e consiga desconstruir estereótipos? As principais dicas de Luciana são: não subestimar o destinatário e saber aprender com ele. O exercício da escuta ativa é essencial para colocar os direitos humanos no dia a dia da nossa sociedade.
Para exemplificar de maneira clara, ela conta sua experiência pessoal de convivência com as pessoas em situação de rua. Enquanto trabalhava na Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, o Programa Operação Trabalho (POT) foi criado. O objetivo da iniciativa era oferecer um treinamento para pessoas em situação de vulnerabilidade, principalmente as que estavam em centros de acolhida ou na rua, e dar um emprego para elas.
30 bolsistas foram selecionados, porém 20 faltaram no emprego depois do término do programa. Logo começaram os julgamentos precipitados: “A gente dá oportunidade para eles e não aproveitam”. Posteriormente, descobriram que eles estavam faltando porque não tinham o dinheiro da passagem de ônibus. A equipe percebeu, então, que havia preconceitos mesmo entre eles.
“Quando estamos pensando em um projeto, forma de atendimento, ou qualquer iniciativa, pensamos da nossa perspectiva. Mas é fundamental que reconheçamos os nossos privilégios antes de lidar com o outro. Eu, por exemplo, reconheço meu privilégio como mulher branca da classe média. Eu nunca vou entender o que uma pessoa em situação de rua passa no dia a dia”, diz.
Em conclusão, Luciana afirma que é preciso se tornar uma pessoa melhor para oferecer um serviço de qualidade para o destinatário final. É preciso tomar cuidado com termos que possuem cargas pejorativas e evitar reforçar estereótipos.