Estádios da Copa: palcos de soluções ambientais
Apesar dos atrasos em algumas das obras e detalhes finalizados nos últimos instantes antes da abertura da Copa do Mundo, os estádios brasileiros destacam-se em soluções ambientais. Conheça seis exemplos nesta primeira parte da reportagem:
Arena Fonte Nova: primeiro estádio brasileiro a receber a certificação LEED
O estágio foi reinaugurado no dia 7 de Abril de 2013 e a obra, que desde o início visava a sustentabilidade, ficou pronta em exatos três anos. A capacidade do estádio é de 50.000 mil pessoas.
A Arena superou as recomendações exigidas pela FIFA conquistando o nível prata da certificação internacional LEED – selo verde que identifica o empreendimento como sustentável e que é utilizado em mais de 140 países.
A Fonte Nova atingiu 53 pontos, dos 40 que são necessários para receber o certificado da FIFA.
“Dentre as exigências, equipamentos e lâmpadas de alto rendimento atendendo normas internacionais de eficiência energética, a primeira ação sustentável tomada foi o reaproveitamento de praticamente todo o material de demolição do antigo estádio na própria obra e em outros locais. Além disso, a escolha de materiais com menor impacto ambiental é indispensável para se chegar a um edifício sustentável”, diz Marc Duew, arquiteto responsável pelas obras de reforma da Fonte Nova.
A utilização de pré-moldados nas arquibancadas reduziram em aproximadamente, cinco meses o tempo de obra, e também contribuírem para a diminuição na geração de resíduos e de outros impactos. Há especificações nos equipamentos sanitários eficientes e instalações de reuso de água que colaboram para a economia desse recurso natural, considerando somente a redução gerada pelas louças e pelos metais eficientes, a economia chega a 24%, e quando somado a reutilização, a redução atinge 85%. A água da chuva é utilizada nas descargas e também na irrigação do gramado.
“O que o que diferencia a Fonte Nova dos demais estádios é a Abertura Sul, um elemento de extrema importância, pois favorece a ventilação. O projeto optou por vazar a fachada onde foi possível, privilegiando a ventilação natural cruzada, além de colocar brises também conhecidos como quebra-sol, que protegem as áreas fechadas com caixilho da insolação direta, economizando a intensidade do uso de ar-condicionado”, completa Duew.
Os sistemas de ar-condicionado utilizam gás refrigerante não clorado que possui impacto praticamente nulo para a destruição da Camada de Ozônio. A construção também buscou reduzir os impactos causados ao meio ambiente, com ações como o controle de sedimentos carregados pelas águas às redes públicas de drenagem, evitando a contaminação destas, bem como o levantamento de poeira no entorno, além de destinação para reciclagem de aproximadamente 90% dos resíduos gerados.
Arena Pantanal: destaque no quesito sustentabilidade
O espaço tem capacidade para 39 mil pessoas. Inaugurado no dia 2 de abril, teve uma consideração especial pelo apelo ambiental da região, que é o ponto de transição entre três ecossistemas brasileiros: Cerrado, Amazônia e Pantanal. Além disso, a empresa GCP Arquitetos, responsável pelo desenho da obra, também priorizou atividades sustentáveis desde a fase de planejamento da arena até a sua operação, após os jogos da Copa do Mundo.
Esta primeira fase, que contemplou o período de construção da Arena, incluiu ações como o reaproveitamento da água, captação e tratamento de esgoto, coleta seletiva de materiais e limpeza sistemática dos veículos que atuam no canteiro de obras. O reaproveitamento do material obtido com a demolição do antigo estádio também foi priorizado e todo o material de alvenaria foi reciclado e adicionado na aterragem do solo.
De acordo com o arquiteto e urbanista Rodrigo Toffano, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso e autor da dissertação Sustentabilidade em Estádios de Futebol: O caso da Arena Pantanal em Cuiabá-MT, o sucesso e o reconhecimento internacional do projeto despertaram uma maior preocupação pelas questões ambientais nas construções dos demais estádios do país.
“Foi através deste pioneirismo que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) exigiu que para o financiamento dos outros estádios, os projetos contemplassem desde aspectos relacionados a sustentabilidade ambiental à sustentabilidade financeira, na solução da gestão. Além do que, para receber este financiamento, cada uma das doze arenas deveriam apresentar um contrato firmado com entidades certificadoras de qualidade ambiental, reconhecida internacionalmente e/ou acreditadas pelo INMETRO, com vistas a obtenção de uma certificação ambiental, em até doze meses, após o término da utilização dos recursos. Foi de certa forma a Arena Pantanal que estimulou a tão referenciada “Copa Verde” de 2014”, explica.
O estádio multiuso apresenta uma concepção racional e estruturalmente mais econômica, ao conceber quatro módulos de arquibancada e cobertura separados e idênticos, dois a dois. Este arranjo arquitetônico funcional possibilitou a abertura das suas quinas, com vegetação nativa, proporcionando uma maior visibilidade para a área externa, além da total integração da edificação com o paisagismo circundante. A grande novidade fica por conta do sistema de ventilação cruzada e o conforto ambiental passivo da edificação, especialmente bem-vindo na cidade, conhecida por suas elevadas temperaturas.
Outro destaque da construção é um espelho d’água criado para proporcionar uma maior umidade local e diminuir a sensação de mal estar oriunda do clima quente e seco de Cuiabá. Além disso, uma grande área verde foi recuperada no perímetro do estádio com vegetação nativa, sendo um dos atrativos para caminhadas e práticas de esportes da população e de turistas em geral. Estima-se que 2080 mudas foram implantadas dos três biomas, com seus nomes em evidência, para favorecer também atividades educacionais.
Mineirão: fazendo a copa mais verde
A arena, inaugurada em 1965, foi reformada e modernizada para sediar os jogos do mundial. A obra do estádio, gerenciada pela Minas Arena, já é considerada um exemplo de sustentabilidade e pretende conquistar o certificado LEED na categoria Nova Construção e Renovação Principal, concedido a projetos de reconstrução pelo U.S. Green Building Council.
Para diminuir o impacto ambiental e compensar o meio ambiente, foram adotadas medidas de controle de poluição e gestão de resíduos durante as obras. Partindo da coleta seletiva nas frentes de serviço até a identificação de empresas e locais que atuam com aproveitamento de resíduos, foi possível no final da obra, atingir um índice de 90% dos resíduos da demolição e construção reinseridos na cadeira produtiva, poupando novas extrações na natureza. A Minas Arena ainda estabeleceu uma parceria com a Associação de Catadores de Material Reaproveitável (Asmare), para a coleta dos resíduos recicláveis. Também foi priorizada a utilização de materiais provenientes de fontes a menos de 800km do empreendimento e materiais com conteúdo reciclado.
Respeitando a saúde dos funcionários da obra durante suas atividades, e a saúde dos futuros usuários do edifício, foi implementando um plano de controle da qualidade do ar interno durante a construção. Seu enfoque foi reduzir os materiais particulados e compostos orgânicos voláteis nos ambientes, com práticas como a proteção das fontes destes poluentes, o uso de produtos com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis, a instalação de equipamentos para ventilação e exaustão do ar no interior da obra, procedimentos de limpeza com aspersão de água antes da varrição e proteção do sistema de ar condicionado.
Outro destaque do projeto são as 3 mil cadeiras de garrafa PET. Os assentos confeccionados de garrafas PET são feitos com 100% do material doado pela população e reunido por cooperativas. Para cada cadeira, são necessárias 100 garrafas de 600 ml.
O estádio ainda conta com um sistema de reaproveitamento e captação de água de chuva, que armazena em um reservatório mais de 5 milhões de litros, quantidade suficiente para suprir a demanda das bacias sanitárias e mictórios e irrigação de gramado durante 3 meses em caso de estiagem. Atualmente, a água de reuso é mais utilizada que a água potável em dias de jogos.
O Mineirão ainda é o primeiro estádio de Copa do Mundo a receber jogos com uma Usina Solar Fotovoltaica em pleno funcionamento, construída pela Cemig em parceria com a Minas Arena. A USF é capaz de gerar energia para abastecer cerca de mil e duzentas residências, com potência instalada de 1,42 MWp, e conta com cerca de seis mil módulos fotovoltaicos.
De acordo com Marcela Viana, Supervisora de Meio Ambiente e Qualidade da Minas Arena, também são realizadas ações de orientação e educação ambiental para conscientizar o público frequentador. “Temos diversas atividades, como a visita guiada, na qual os guias apresentam aos visitantes as estratégias de sustentabilidade adotadas. Também apoiamos outros projetos sustentáveis, como por exemplo, “A Hora do Planeta”, quando o Mineirão não só apagou suas luzes por 60 minutos, como também realizou campanhas e disponibilizou mídias para a promoção desta ideia”.
Ainda de acordo com a supervisora, todas as medidas necessárias para obtenção da certificação LEED já foram implementadas e a documentação encontra-se em análise pela entidade certificadora.
Um Maracanã mais sustentável
O estádio mais famoso do mundo passou três anos de reforma para a Copa do Mundo do Brasil, além de 79.0000 mil lugares o estádio passou a contar com um moderno sistema de geração e utilização de energia renovável. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Governo do Estado do Rio de Janeiro e o consórcio formado pelas empresas como a Light Esco, braço de soluções energéticas do Grupo Light, e o Grupo EDF ( Electricité de France).
O projeto chamado Maracanã Solar, instalou no estádio um sistema de captação de energia de última geração que contém uma usina fotovoltaica capaz de gerar uma potência instalada de 400 kW, podendo atingir uma geração de 500 MWh por ano, uma energia equivalente ao consumo de 240 residências que colaborará para a redução do consumo de energia do estádio.
Além desse projeto de eficiência energética, o Maracanã conta também com um sistema de gestão de resíduos da reforma que foram destinados para a reciclagem ou reaproveitamento de insumos provindos da obra que superou a meta estipulada de 75% para 90%. Entre os materiais ecológicos destacaram-se o barro que saia dos pneus dos veículos que reaproveitado já rendeu 4.200 m³ de matéria prima para fazer telhas e tijolos ecológicos, assim como a campanha nacional para recolher garrafas PET que resultaram na produção dos assentos de todo o estádio.
Padrão para obter a certificação LEED, os dispositivos na cobertura do estádio que são usados para a captação da água da chuva e reutilizá-la na irrigação do campo e nos banheiro que possuem dispositivos economizadores e colaboram para o uso racional da água. O estádio também possui uma iluminação feita por luminárias eficientes, bombas mecânicas e equipamentos de ar-condicionado tipo VRF, além da mediação individualizada por sistema e automação predial.
Arena paranaense: novidades sustentáveis
Reconhecida internacionalmente como modelo de sustentabilidade, a cidade de Curitiba imprimiu esta marca também ao estádio Joaquim Américo Guimarães, popularmente conhecido como Arena da Baixada.
Várias ações estão sendo colocadas em prática na arena e em seu entorno, como a melhoria e a integração do acesso ao transporte público, instalação de bicicletários e promoção da utilização de veículos de baixa emissão de gases poluentes, mas o diferencial fica por conta do seu teto retrátil.
Em função das baixas temperaturas, típicas da região Sul, o estádio é o único 100% coberto no país, com cobertura retrátil de 15 minutos de operação. A cobertura também possui uma usina de captação de energia solar, com capacidade de geração de 2,3 kW, o suficiente para abastecer quase cinco mil casas e o próprio espaço, sendo responsável, também, pela redução da necessidade da climatização em 30%. Além disso, a iluminação da arena foi pensada para reduzir ao máximo o consumo de energia elétrica e a maioria das áreas é iluminada naturalmente. Com este intuito também são utilizadas lâmpadas de Led, que permitem a minimização da iluminação exterior e interior.
Outro destaque foram as ações sustentáveis aplicadas durante a realização das obras de modernização. A produção de elementos modulares para a reforma foi feita em série, com o intuito de diminuir os gastos de energia na fabricação, traslado e montagem das peças e os sistemas estruturais de concreto foram padronizados, para reduzir o uso de formas.
O projeto do estádio priorizou o reuso de água. Um reservatório com uma capacidade de dois mil metros cúbicos possibilita o armazenamento de um grande volume de água de chuva que, posteriormente, é utilizada em descargas de sanitários, lavagem de áreas externas e irrigação do gramado e áreas verdes.
A automação é também uma característica relevante: todos os sistemas hidrossanitários, energéticos, de climatização e de ventilação são automatizados, obtendo uma redução geral nos consumos.
Arena das Dunas: etiqueta de eficiência energética nível A
Com capacidade para 42 mil pessoas durante a Copa e quase 32 mil após o Mundial, o estádio é o primeiro complexo multiuso brasileiro a receber a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), que trata do desempenho de eficiência energética.
A arena foi classificada no Nível A, com um projeto que utiliza paredes e coberturas com bom desempenho térmico, lâmpadas e condicionadores de ar eficientes, instalação de equipamentos economizadores de água e reaproveitamento de água pluvial. Além de trazer mais conforto para os usuários, a Arena das Dunas consome menos água e energia, ajudando a preservar os recursos naturais e o meio ambiente.
O estádio foi inaugurado em 22 de janeiro de 2014 e, quatro dias depois, recebeu duas partidas oficiais: América x Confiança, pela Copa do Nordeste 2014, e ABC x Alecrim, pelo Campeonato Potiguar. O projeto da arena é fruto de uma Parceria Público Privada (PPP), entre o governo do Estado do Rio Grande do Norte e a Arena das Dunas, que irá administrar o espaço durante 20 anos.
Fonte: ABES