Estudo busca desfazer mitos sobre a população em situação de rua
Durante quatros anos, pesquisadores de diversas áreas e universidades mapearam características do cotidiano de pessoas em situação de rua em oito cidades brasileiras
Por: Mariana Lima
Após quatro anos de estudo, em maio deste ano será publicado o relatório, agora como livro, ‘Cidadãos em Situação de rua: dossiê Brasil – grandes cidades‘, organizado pelos pesquisadores Igor Rodrigues e Dmitri Cerboncini Fernandes, e publicado pela editora CRV.
Feito por pesquisadores de diversas áreas e representando uma variedade de universidades, o estudo busca apresentar aspectos do cotidiano desses cidadãos com base em uma análise realizada em oito cidades do país.
A análise permitiu chegar à constatação de que o nível de escolaridade dos que residem nas ruas não é tão distante da média geral. Outro ponto abordado e repetido pelo senso comum é a questão do trabalho.
O trabalho de campo dos pesquisadores revelou que muitos dos que compõem a população de rua se sustentam através da reciclagem, sendo peças decisivas para a renda de depósitos de ferro-velho e multinacionais que se orgulham de serem sustentáveis, mas sem empregar um catador.
É comum que atuem no ofício dos “chapas”, que realizam a carga e descarga em pontos de passagem de caminhões. Esse trabalho é escolhido pela maior rentabilidade, pois o pagamento é estabelecido antes dos serviço.
O estudo é composto por diversas pesquisas realizadas pelas universidade, como a de Juiz de Fora que em 2017 constatou que 72% dos que dormiam nas ruas não eram beneficiados por nenhum programa assistencial do governo, e 46% viviam nas ruas há mais de cinco anos.
Com base no material, é possível observar que o aumento de estruturas de suporte, sejam do Estado, sejam de familiares, tendem a melhorar sensivelmente a qualidade de vida das pessoas em situação de rua.
O estudo apontou que o acesso a carteira de trabalho aumenta para 48% entre os que vivem em abrigos e chega a 60% entre os que voltam para casa para dormir. Nos dois grupos, 8 em cada 10 andam com o RG e CPF, um índice alto em comparação aos que vivem e dormem nas ruas.
As mulheres que vivem nas ruas também aparecem no estudo. Muitas deixam a residência para fugir da violência doméstica e marital. Os pesquisadores também chamam atenção para o fator de transtornos mentais na equação. Em relação às mulheres transexuais, o quadro de expulsão do seio familiar leva para um ciclo de prostituição e violência.
Fonte: Carta Capital