Evento discute impacto da violência doméstica na economia
Mulheres vítimas de violência doméstica perdem, em média, 18 dias de trabalho por ano
Por: Isabela Alves
A violência contra a mulher é um grave problema no Brasil. Os dados são alarmantes: mais de 503 mulheres são agredidas por hora no Brasil e mais de 50% das vítimas não denunciam ou procuram ajuda, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2017.
A violência, além de ser uma questão de direitos humanos, também tem impacto negativo na economia do país. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará e do Instituto Maria da Penha revela que, em média, as mulheres vítimas de violência perdem 18 dias de trabalho por ano, por consequência direta da agressão. Só no Nordeste brasileiro, essas faltas geram um prejuízo anual de R$ 64,4 milhões.
As mulheres vítimas de violência doméstica também sofrem com a perda de produtividade e têm maiores riscos de desenvolver depressão.
X Congresso Gife
Na sua 10ª edição, o Congresso GIFE discutiu o que o investimento social privado pode fazer em relação aos direitos das mulheres. No primeiro dia da programação (04/04), o evento reuniu diversas instituições que lutam pela igualdade de gênero e pelo fim da violência.
Para Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, um dos maiores desafios do setor corporativo é discutir qual é o papel da iniciativa privada em relação a esses casos. Segundo a diretora, o setor encara esse problema como algo de natureza íntima e de difícil análise, mas, para ela, é necessário o enfrentamento, pois é uma questão de direitos humanos.
“As empresas privadas estão sendo desafiadas a entrar no século XXI e por isso devem começar a se preocupar com os direitos fundamentais das mulheres brasileiras. Com pequenas ações, podemos mudar esse país”.
Além da questão da dignidade humana, quando uma mulher está sendo vítima de violência, a empresa também perde um talento. Na maioria dos casos, as mulheres largam o emprego porque o marido não permite que ela trabalhe, ou por conta das dores que a violência lhe trouxe.
Maria Laura Canineu, diretora do primeiro escritório brasileiro da Human Rights Watch, conta que a instituição, que realiza pesquisas sobre os direitos humanos, foi a campo para conhecer as histórias de mulheres que sofriam violência no estado de Roraima, já que este é o estado mais letal para mulheres e meninas no Brasil.
Em um dos casos, a vítima sofria agressão verbal e a situação evoluiu para a agressão física na frente dos filhos. Após 15 denúncias, seu marido ainda não foi investigado.
Mulheres líderes em empresas
Outro assunto abordado no debate foi a presença de mulheres em cargos de liderança. Segundo Margareth Goldenberg, gestora executiva do Movimento Mulher 360, para uma mulher chegar a liderar uma empresa, existem diversos desafios, entre eles a cultura masculina na empresa e a jornada dupla.
As mulheres representam apenas 4,2% dos CEOs (Chief Executive Office), ou diretores executivos, da América Latina e do Caribe, segundo estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para a gestora, para mudar essa realidade, é fundamental discutir sobre a causa nas empresas através de pequenas ações.
“Existem formas de trazer o assunto de maneira transversal e simples, como, por exemplo, as cartilhas de conscientização”, explica.
A importância do feminismo
Para completar o debate, Amalia Fischer, coordenadora geral do Fundo ELAS, falou da importância do feminismo na conquista de direitos para as mulheres. Desde os anos 1980, as feministas embarcaram na luta contra a violência e foram as responsáveis por trazer essa discussão que dura até os dias de hoje.
Segundo Amalia, é muito importante nesse momento que as mulheres se reconheçam como feministas, para que a causa ganhe cada vez mais visibilidade. Os homens também são peças fundamentais na causa, porque podem ser aliados na luta por direitos.
“É importante não ter medo e não parar, senão nós (mulheres) vamos perder muito do que já conquistamos. Não estamos sozinhas e também é importante que os homens estejam com a gente, senão essa violência nunca vai acabar”, conclui.
Em um momento de polarização no país, Amalia também ressalta que o investimento social privado, em especial, pode provocar muitas mudanças ao investir em Organizações da Sociedade Civil (OSCs) feministas e que lutem pelos direitos das mulheres.