Famílias mais vulneráveis sofrem com diminuição da renda na pandemia
Pesquisa realizada pela Vocação mostra os maiores desafios das famílias vulneráveis neste momento, como a diminuição da renda e a falta de itens de higiene
Por: Júlia Pereira
A Vocação, uma Organização da Sociedade Civil (OSC), criou uma ferramenta para a coleta de dados que pode ajudar os gestores de serviços socioassistenciais a monitorarem e acompanharem as famílias mais vulneráveis neste momento de pandemia.
O instrumento foi criado em parceria com 57 OSCs e com as supervisões de Assistência Social de Campo Limpo e M’boi Mirim, distritos da cidade de São Paulo.
O objetivo da iniciativa é identificar, entre as famílias já atendidas regularmente pelos serviços, aquelas que passam por situação de violação de direitos, como a escassez de infraestrutura e falta de postos de trabalho.
A coleta dos dados será realizada até o dia 08 de maio. Saiba mais no site.
Condições das famílias durante o isolamento social
Segundo a pesquisa, 80,19% das famílias moradoras da zona sul de São Paulo entrevistadas declararam necessitar de renda emergencial.
Entre as pessoas que responderam ao formulário, 69,8% afirmaram que houve diminuição da renda familiar após o isolamento social. Isso porque 65,18% das pessoas que contribuem com a maior renda das casas não está cumprindo a jornada de trabalho normal.
Entre as famílias participantes do estudo, 49,75% dizem viver com menos de um salário mínimo. Essa é uma das razões que levam 59,25% dessas pessoas a declararem que estão se sentindo preocupadas em relação à diminuição da renda.
Com a renda reduzida, 38,88% das famílias declaram precisar de ajuda com alimentação.
O home office, trabalho remoto que está sendo bastante adotado durante o isolamento social, não faz parte da realidade das famílias mais pobres, pois a maioria ocupa postos de trabalho que só podem ser realizados presencialmente. São profissionais como diaristas, garçons, babás e porteiros.
Entre os moradores da região, apenas 36,5% possuem empregos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O isolamento social é a medida mais indicada para a prevenção da Covid-19, mas 51,7% das famílias residem em casas com poucos cômodos, resultando em sérias dificuldades de espaço, principalmente neste momento.
Enquanto isso, 3,46% das pessoas afirmam ter alguém com sintomas da doença dentro de casa.
As mulheres são apontadas como as mais sobrecarregadas durante a pandemia, pois são responsáveis por tarefas domésticas, cuidado com os filhos, além do trabalho remoto, quando é possível realizá-lo.
Em razão disso, 31,62% delas dizem se sentir sobrecarregadas e sem apoio para conciliar os cuidados com o lar, educação e acompanhamento das crianças e adolescentes.
Para evitar a contaminação pelo coronavírus, a higiene tem sido essencial. Mas isso se torna um problema para essas famílias, pois 4,5% delas não têm água potável disponível na residência, 14,71% das casas não possuem rede de esgoto e 69,04% declararam que precisam de itens de higiene.
Como o estudo foi realizado
Foram entrevistadas 6.800 pessoas: 90,1% são mulheres e 62,94% têm idade entre 31 e 50 anos de idade.
Com os dados, a Vocação adotou medidas assistenciais e emergenciais para a garantia de itens básicos para a sobrevivência das famílias por meio da campanha ‘Ação Solidária contra COVID-19’.
A iniciativa vai distribuir 9 mil cestas básicas e kits de higiene às famílias da zona sul da cidade de São Paulo e regiões de Itapecerica da Serra e Embu Guaçu.
Já para enfrentar o aumento dos casos de violência doméstica, que tem ocorrido desde a adoção do isolamento social, a organização definiu como prioridade assessorar e apoiar os gestores dos Serviços de Convivência das OSCs parceiras e suas equipes no acompanhamento remoto das famílias e no treinamento de todos os interessados, para identificar, denunciar e prevenir a violência doméstica contra mulheres, crianças e adolescentes.
Dentre essas medidas, estão a criação de cursos a distância com materiais instrucionais com dados e abordagens atualizadas, além do reforço de protocolos de trabalho, já previstos nas normas públicas.
Anadelli Soares Braz
12/05/2020 @ 15:34
Parabéns Milton Alves Santos, por este incrível trabalho.