Fome: cresce a fila de famílias em busca de comida em São Paulo
ONGs e voluntários alertam para o número crescente de famílias que procuram doação de comida durante a pandemia em São Paulo. Uma única ONG chegou à marca de um milhão de refeições distribuídas na pandemia
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 10 milhões de pessoas passam fome no Brasil.
Todas as segundas, o padre José Mario Ribeiro sai da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Tatuapé, na Zona Leste da capital paulista, ao lado de outros 12 voluntários, para entregar 1.400 marmitas na praça da Sé, no centro da cidade. Segundo ele, hoje o número de refeições é sete vezes maior que no início do ano.
Ele conta que percebeu não só um aumento no número de pessoas em busca das quentinhas, mas também a chegada de um público diferente.
“Não é mais só o pessoal de rua. A gente está percebendo que muitas pessoas passam para buscar por estarem desempregadas e estarem com fome. Ontem mesmo um senhor me disse que trabalhou o dia inteiro sem comer e que estava nos esperando para pegar uma marmita que seria a única refeição dele”, disse o padre em entrevista à BBC News Brasil.
“Antes da pandemia, a gente doava cerca de 400 a 500 marmitas. Se a gente fizer 2 mil hoje, acaba tudo”, afirmou.
“A gente precisa muito de arroz, feijão e embalagens. Duas casas de carne fazem doações para a gente. Arroz e feijão a gente pede na paróquia. Quem puder ajudar, pode levar na paróquia ou ligar — (11) 2093-1920 — para fazer doações. Vale muito a pena ajudar e acho que na nossa sociedade recebemos mais do que doamos”, agradece o padre.
A 300 metros da praça da Sé, onde o grupo liderado pelo padre José Mario faz doações às segundas, padres franciscanos e voluntários distribuem todos os dias na hora do almoço 1.200 refeições e outras 1.200 no jantar no largo São Francisco. Além de outras 300 marmitas no Glicério e 400 refeições no chamado Chá do Padre.
Doações podem ser feitas no site www.doesefras.org.br ou diretamente no local onde funciona o Chá do Padre, na rua Riachuelo, 268.
A fome parece atingir todos os lados da maior metrópole do Brasil. O grupo Mãos de Maria, no dia 16/10, Dia Mundial da Alimentação, chegou à marca de um milhão de refeições distribuídas na favela de Paraisópolis, a maior de São Paulo. O grupo começou a distribuir marmitas a partir do dia 23 de março, logo no início da pandemia.
A intenção, diz a fundadora do Mãos de Maria Brasil, Elizandra Cerqueira, era ajudar principalmente as pessoas que perderam o emprego na pandemia, em especial as mulheres.
“Temos a missão de gerar renda na favela através da culinária e combater a violência contra a mulher. Nosso objetivo inicial seria produzir 2 mil marmitas por dia, mas a pandemia virou algo maior do que prevíamos e chegamos a entregar 10 mil marmitas por dia, numa mobilização com o G10 das favelas e empresas do setor privado”, afirmou.
“As pessoas entram em desespero por medo de não conseguir comida. Mesmo a gente explicando, elas querem ficar ali e esperar mais de duas horas para garantir que vão ter o que comer”, disse a fundadora do programa.
Para ajudar com doações, entre no site do G10 das favelas: www.g10favelas.org
Idosos
Nem todos têm condições de sair de casa para buscar comida. É o caso de Frida Braunstein Taranto, de 95 anos, uma das 700 pessoas atendidas diariamente pelo grupo beneficente israelita Ten Yad.
O filho caçula de Taranto morava com ela, mas foi vítima da Covid-19 e morreu em julho. Viúva há 15 anos, ela vive sozinha e não sabe como seria caso tivesse de cozinhar.
Além do serviço que atende a senhora Frida, são distribuídas 100 refeições para os mais jovens no refeitório localizado no Bom Retiro, também na capital paulista. O grupo ainda administra as 1500 refeições oferecidas no Bom Prato do Glicério por R$ 1.
“Hoje estamos preocupados, com uma demanda crescente por comida. São mais e mais famílias pedindo, principalmente os idosos que não conseguem cozinhar. E precisamos de mais pessoas sagradas para nos ajudar”, afirmou o rabino Berel Weitman.
Quem tiver interesse em fazer doações, pode entrar em contato com o grupo pelo site www.tenyad.org.br, fazer doações de alimentos, roupas para o bazar, tornar-se sócio mensal ou até mesmo fazer doações pela nota fiscal paulista.
Fonte: BBC News Brasil