Grupo levava gado a pé em trecho de 930 km na Transamazônica
Trabalhadores responsáveis por conduzir o gado eram mantidos em situação análoga à escravidão
Por Caio Lencioni
No estado do Pará, 30 trabalhadores mantidos em condição análoga à de escravidão foram resgatados na última semana. Eles faziam parte de três comitivas que realizavam o transporte de gado de corte a pé pelas margens da BR-230 (Rodovia Transamazônica), nos municípios de Novo Repartimento, Brasil Novo e Uruará.
O Grupo Especial de Fiscalização Móvel – de responsabilidade do Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho, Defensoria Pública da União e Polícia Rodoviária Federal – foi o responsável pelo resgate.
As três comitivas tinham como destino a Fazenda Porangaí, em Xinguara. Saíram de Uruará e tinham como previsão percorrer a distância de 930 km em até 120 dias, levando cerca de 3,5 mil bois. O grupo mais adiantado, encontrado em Novo Repartimento, estava viajando desde 4 de abril.
Condições Precárias
O percurso era realizado a pé pelo grupo e em condições precárias. Para descansar pela noite, os trabalhadores deveriam encontrar abrigos pelo caminho, como currais. Armavam barracas de lona e redes ou deitavam sobre o chão batido.
A água era consumida nas propriedades rurais por onde passavam ou em cursos naturais de água encontrados pelo caminho, a mesma que era usada pelo gado.
Não havia acesso a banheiros, logo os trabalhadores recorriam a esses mesmos cursos de água para tomar banho e à mata para fazer as necessidades.
A jornada de trabalho começava diariamente por volta de 7h e seguia até 11h30, quando paravam para almoçar. Era retomada às 13h30 e seguia até por volta de 18h. De madrugada, os trabalhadores se revezavam para vigiar o gado. Não havia descanso semanal.
Pagamento
Nenhum dos 30 trabalhadores tinha Carteira de Trabalho assinada. O pagamento seria feito no final do percurso pelas diárias trabalhadas. Os valores, que iam de R$ 45 a R$ 60, dependiam da função de cada um na comitiva. Mas do valor final ainda teriam descontos.
“Alguns trabalhadores eram de Uruará. Os que eram de outras cidades foram até Uruará de ônibus, com passagens pagas pelo empregador, mas o valor seria descontado do pagamento. Ao final da viagem, em Xinguara, eles deveriam usar o pagamento recebido para comprar a passagem de volta às suas cidades”, conta o auditor-fiscal Magno Riga.
O mesmo foi feito em relação aos equipamentos de proteção individual, que não foram fornecidos pelo empregador. O fazendeiro adiantou parte do pagamento aos trabalhadores que quiseram comprar os aparatos de segurança, valor esse que seria descontado no final da viagem.