Ministra dos Direitos Humanos fala ao Observatório sobre a retomada dos trabalhos de identificação das ossadas encontradas em Perus
A ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, anunciou nesta quinta-feira, em São Paulo, a retomada dos trabalhos de identificação das ossadas encontradas no cemitério de Perus, em 1990, que podem ser de pessoas desaparecidas durante a ditadura militar que vingou no Brasil de 1964 a 1985. O anúncio foi feito durante reunião com familiares de mortos e desaparecidos políticos.
Em entrevista ao vivo ao programa Observatório do Terceiro Setor, na rádio Triaon AM, nesta quinta-feira, 15, a ministra explicou ao jornalista Joel Scala que, na semana que vem, será publicado o edital para a contratação de uma equipe de peritos brasileiros, que avaliará as ossadas encontradas.” Ouça o programa:
A Secretaria fará uma parceria com o Ministério da Educação para a contratação de especialistas internacionais, através de bolsas do CAPS. “O Brasil não tem formação de profissionais especialistas em Arqueologia e Antropologia Forense. Por esse motivo vamos precisar de assessoria internacional.”
A ministra falou ainda sobre os trabalhos de identificação que serão realizados pela Unifesp – Universidade Federal de São Paulo. “Estive com a reitora da Universidade Federal de São Paulo, Professora Soraya Smaili. A Universidade já recebeu recursos para formar um local, que vai ser um embrião, um centro de formação para profissionais de Arqueologia e Antropologia Forense. A equipe já vai ter um local para trabalhar.”
Ideli lamentou que, após anos de democracia consolidada, ainda existam segmentos que defendem a ditadura. “O processo de ditadura no nosso país foi um processo de disputa de forças políticas e sociais. Segmentos que defendem a ditadura ainda existem na sociedade, infelizmente.”
O anonimato propiciado pelas redes sociais tem ajudado a causar um impacto maior nesse cenário, como destaca a ministra, com posições muitas vezes, extremistas. “Indivíduos defendem a ditadura e medidas de força. No meu estado (Santa Catarina), infelizmente, no mês passado, houve exposição de cartazes em postes e murais enaltecendo o nazismo. Temos que estar permanentemente resgatando a verdade , o sofrimento, as consequências que trouxe para o país e para a sociedade a ditadura, que isso não caia no esquecimento.”
Ela admitiu também que o Brasil ainda tem muito a fazer para extinguir a prática vergonhosa da tortura e revelou algumas iniciativas. “Ainda acontece em nosso país, nas delegacias, presídios, hospitais psiquiátricos, onde adolescentes, crianças e idosos ficam por falta de apoio e amparo familiar. Nós estamos criando um mecanismo para uma equipe poder entrar nesses lugares sem aviso prévio. Ter pessoas para verificar se não esta acontecendo tratamento degradante ou tortura.”
Recentemente foram descobertas cerca de 3 mil pessoas enterradas como indigentes, mesmo portando documentação. “Essas pessoas poderiam ter sido enterradas por seus familiares. Temos que aperfeiçoar, porque não podemos aceitar dentro de uma democracia a tortura e pessoas sendo enterradas como indigentes”, afirmou.
Os episódios de linchamento, que vêm ocorrendo nas últimas semanas no país, também foram tema da conversa. A ministra destacou a urgência de se ressaltar no país que, apesar das falhas em nosso sistema judiciário e das condições de segurança, é necessário impedir a barbárie. “Uma mãe de família totalmente inocente foi morta. Nós precisamos ter repúdio, criar uma situação de constrangimento total a esse fato. Nós podemos ter criticas em relação à Justiça e à segurança em nosso país, mas selvageria não é a solução.”