Mulheres afegãs vivem e são enterradas como anônimas
As mulheres afegãs não podem dizer o próprio nome nem para os médicos e são conhecidas apenas como mães, irmãs, esposas ou filhas do homem mais velho da família
Por: Mariana Lima
No Afeganistão, país localizado no centro da Ásia, meninas e mulheres passam a vida anônimas. Suas famílias costumam forçá-las a manter os nomes em segredo.
Quando se casam, o nome delas não é escrito no convite. Se adoecem, o médico atende sem saber seus nomes. Quando morrem, não têm nome na lápide ou na certidão de óbito.
No entanto, nas redes sociais, algumas mulheres vêm se manifestando para interromper esse ciclo, com a campanha ‘WhereIsMyName’ (‘Onde está meu Nome?’).
A campanha surgiu há três anos e tem como idealizadora Laleh Osmany, moradora da cidade de Herat. A ideia da mobilização é recuperar o que ela caracteriza como o “direito mais básico”.
Inicialmente, a campanha visava provocar uma reflexão sobre o porquê de suas identidades estarem sendo negadas, mas logo cresceu.
A cobertura da mídia sobre a questão levou Maryam Sama, membro da Câmara dos Deputados do Afeganistão, a falar sobre o tema no Parlamento.
Sama solicitou que os nomes das mães fossem registrados nas certidões de nascimento – o que ainda não aconteceu.
Uma existência invisível para os registros
No Afeganistão, usar publicamente o nome de uma mulher é desencorajado e pode até ser classificado como um insulto em muitas regiões do país.
Na maior parte dos casos, os homens relutam em mencionar abertamente os nomes de suas irmãs, esposas ou mães, pois é considerado vergonhoso e desonroso.
De forma geral, as mulheres afegãs são conhecidas apenas como mãe, filha ou irmã do homem mais velho da família.
A lei ainda reforça essa construção, uma vez que apenas o nome do pai deve ser registrado em uma certidão de nascimento. E mulheres chegam a ser agredidas ao dizer seus nomes para médicos, por exemplo.
Mesmo com a relutância de boa parte da sociedade, a campanha ‘WhereIsMyName’ conseguiu ter o apoio de algumas personalidades, como a ativista dos direitos das mulheres e uma das cantoras mais famosas do Afeganistão Aryana Sayeed.
Fonte: BBC News Brasil