No Brasil, 73% da população negra perdeu renda durante a pandemia
Pesquisa do Instituto Locomotiva e da Central Única das Favelas (CUFA) mostra o tamanho da desigualdade entre brancos e negros diante do cenário atual. Salários mais baixos, endividamento, dificuldade para acessar o auxílio emergencial e menor acesso ao sistema privado de saúde estão entre desafios da população negra
Por: Mariana Lima
A Central Única das Favelas (CUFA) encomendou uma pesquisa ao Instituto Locomotiva, com o objetivo de retratar como o racismo vem impactando a população negra em meio à crise causada pela Covid-19.
De acordo com a pesquisa, entre a população negra, 73% perderam renda na pandemia, contra 60% entre os brancos. Alem disso, 49% dos negros deixaram de pagar alguma conta, enquanto essa ocorrência se limitou a 32% entre os brancos.
A pesquisa ressalta que a população negra tende a ocupar posições mais precárias no mercado de trabalho – informais, serviço doméstico ou autônomos – que correspondem a salários mais baixos, uma vez que ganham em média 1,7 mil reais contra 3,1 mil entre a população branca.
Para além destes dados, a pesquisa ainda aponta que os negros são a maioria nas classes D e E (74%), representando 60% na classe C, e uma minoria nas classes mais ricas (37%).
Ao analisar o acesso ao auxilio emergencial de R$ 600, 43% dos negros tentaram acessar o benefício, contra 37% entre os brancos. Entre os negros que solicitaram o auxílio, apenas 74% conseguiram, contra 81% dos brancos.
Segundo o estudo, dos 118 milhões de negros brasileiros – 56% da população total estimada em 212 milhões -, a maioria está no Sudeste – 43 milhões, o equivalente a 37% – e no Nordeste, com 42 milhões (36%).
Observando o acesso à saúde desta população, a pesquisa revela que apenas 19% possuem convênio, contra 28% dos brancos. De acordo com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) existem, na rede privada, 4,9 leitos para cada 10 mil habitantes, contra 1,4 no Sistema Único de Saúde (SUS).
Outro obstáculo enfrentado pela população negra se deve ao ensino à distância e a suspensão das aulas em escolas e universidades. Enquanto metade dos brancos (49%) tem acesso ao computador, esse índice cai para 38% entre pardos e para 34% entre pretos.
Além disso, entre os homens brancos acima de 25 anos, 23% cursaram faculdade. Já entre os negros, 9% chegam a cursar a faculdade, tendo uma média salarial 32% menor. Em relação às mulheres, 27% das brancas têm diploma, contra 13% entre as negras, que recebem 33% a menos em comparação às brancas.
Entre os entrevistados da pesquisa, 65% informaram ter tido apenas docentes brancos, sendo atendidos ao longo da vida em maioria por médicos brancos (85%). Além disso, 94% responderam que negros têm mais chances de serem alvos de uma abordagem policial violenta e de serem mortos pela polícia.
Quando questionados sobre o racismo, 93% afirmaram que o combate deve ser feito por todas as pessoas, incluindo pessoas brancas. No total, 62% acreditam que o racismo está “na sociedade brasileira”. E ainda, 53% responderam que brancos também são vítimas de racismo.
Fonte: Carta Capital