OSCs relatam dificuldades geradas pela crise do coronavírus
Suspensão de parte das atividades, diminuição das doações e aumento de gastos para prevenir coronavírus são alguns dos desafios enfrentados pelas OSCs
Por: Júlia Pereira
A pandemia de Covid-19, decretada no último mês pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem afetado a rotina de todas as áreas da sociedade. Além da crise de saúde, temos uma crise financeira, já que muitas empresas precisaram suspender suas atividades e acabarão não conseguindo reabrir as portas. O número de desempregados também está crescendo no mundo, e trabalhadores informais estão ficando sem renda.
Diante de todo esse cenário, diversas organizações da sociedade civil (OSCs) têm encontrado dificuldades para arrecadar doações e manter seus serviços.
Muitas organizações captam boa parte de seus recursos através do diálogo direto (também chamado de face to face), que consiste em ter captadores treinados para abordarem as pessoas em locais de grande movimentação, como entradas de estações de metrô, para explicarem o trabalho da organização e convencerem as pessoas a apoiarem a instituição e a causa.
Durante o período de isolamento social, esse tipo de estratégia de captação precisa ser interrompido. É o caso da Aldeias Infantis SOS Brasil, que atua na defesa, garantia e promoção dos direitos de crianças, adolescentes e jovens.
“Mais de 85% dos nossos recursos são recolhidos na rua pelos nossos captadores, que fazem um excelente trabalho de conscientização junto à população e desde o dia 20 de março estamos com essa atividade suspensa”, diz Edmond Sakai, diretor de Relações Institucionais, Marketing e Comunicação da OSC.
Por conta da previsão do impacto da crise do coronavírus na Economia, a organização teme também que parte dos doadores recorrentes cancele as doações mensais, o que reduzirá ainda mais os recursos destinados às atividades, afetando diretamente as famílias em situação de extrema vulnerabilidade atendidas pelos projetos da instituição.
Por isso, a Aldeias Infantis SOS Brasil lançou a campanha nacional #SOSPrecisamosContinuar, voltada para a arrecadação de doações online. “Acreditamos na solidariedade da sociedade civil para nos apoiar diante desta crise. Estamos abrindo este Fundo de Emergência para garantir a manutenção dos projetos, a continuidade do apoio psicossocial a todas as crianças e famílias que atendemos e o atendimento emergencial para as famílias em situação de vulnerabilidade social”, explica o diretor.
O impacto econômico também foi sentido pelo Instituto Família Barrichello (IFB), que, há 15 anos, desenvolve programas e projetos por meio do esporte, do brincar e da educação para crianças, adolescentes, idosos e famílias.
“Nossa principal demanda está no apoio às famílias que atendemos. Mapeamos e temos cerca de 2.600 famílias necessitadas. Mas com a diminuição da atividade econômica, o cenário no médio e longo prazo será de menos recurso no mercado e isso pode impactar fortemente os projetos desenvolvidos com apoio das Leis de Incentivo [principal fonte de captação de recursos do Instituto]”, explica William Boudakian, diretor executivo.
Apesar do risco da crise financeira, a maior preocupação do IFB é manter os atendimentos e atividades promovidos pelo instituto, em especial aqueles realizados aos mais de 1.800 idosos atendidos.
“Apesar da suspensão das atividades, a equipe está trabalhando de forma intensa, criando conteúdos que estão sendo disseminados em redes sociais e grupos de WhatsApp, pois manter o corpo ativo num momento como esse é fundamental para trazer equilíbrio emocional e físico também”, relata William.
A necessidade de adaptar-se ao novo cenário também faz parte da realidade da Casa Hope. A instituição oferece apoio biopsicossocial e educacional a crianças e adolescentes com câncer e transplantados, juntamente com seus acompanhantes.
Por trabalhar diretamente com um grupo de risco, a equipe teve que redobrar os cuidados, gerando uma alta demanda de produtos como máscaras e álcool gel. É o que conta Tatiana Caneloi, responsável pela área de Marketing, Comunicação e Captação de Recursos da Casa Hope. “Estamos com bastante receio e precisamos de todo apoio possível para seguir com nosso trabalho”, diz.
O aumento na demanda de alguns materiais faz crescer também os gastos, e alguns dos doadores mantenedores da Casa Hope estão suspendendo as doações.
Como os tratamentos dos grupos atendidos não podem parar, a instituição criou uma campanha veiculada nas redes sociais (Instagram e Facebook), com o apoio de influenciadores digitais, celebridades, jornalistas e apresentadores que, de forma voluntária, chamam a atenção para a importância das doações emergenciais neste período de crise.