Pacientes sofrem com atendimentos cancelados no SUS
“Quem não morre hoje de Covid-19, está morrendo de outras coisas, porque não está sendo tratado”, desabafa paciente que precisa enfrentar fortes dores enquanto aguarda fim da pandemia para ser operada pelo SUS
Por: Júlia Pereira
Desde o início do aumento de casos de Covid-19 no Brasil, o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais passaram a recomendar o cancelamento de consultas, cirurgias e exames eletivos, ou seja, atendimentos não urgentes.
O problema é que, em muitos casos, o quadro do paciente pode se agravar caso não receba o tratamento médico adequado. É o que afirma Gilberto Berguio Martin, médico sanitarista e mestre em Saúde Coletiva: “O sistema não pode estar voltado para atender só um tipo de patologia, ainda que essa seja a patologia mais grave hoje”, diz.
Além disso, o médico afirma que a fila de espera para esses atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que já é grande em períodos normais, pode ficar muito maior no pós-pandemia.
“Uma coisa que os gestores devem colocar no radar desde já é monitorar essa fila de espera e já pensar numa programação de desobstrução na hora que as coisas voltarem ao normal, porque a hora que passar vai ter uma sobrecarga”, explica.
Não se sabe quando a pandemia de Covid-19 vai acabar. Enquanto isso, pacientes que dependem do SUS sofrem com dores, medo por não receberem acompanhamento médico e incertezas sobre o quadro clínico.
Sem cirurgias, pacientes sofrem com dores
Semanas antes da quarentena ser decretada no estado de São Paulo, Sonia Regina Pace, de 55 anos, começou a sentir fortes dores nas costas. Como o desconforto persistiu, ela procurou a unidade médica mais próxima, o Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, no bairro da Mooca, na capital paulista.
Ao passar pela consulta, o médico disse que, em razão da pandemia, não era possível fazer exames ou o tratamento necessário. “Ele me deu uma dipirona e me mandou ir para casa”, conta.
Essa foi apenas uma das várias idas de Sonia ao hospital, até que o médico a encaminhou para um ortopedista e solicitou uma ressonância magnética da coluna. Mesmo com os pedidos em mãos, ele ressaltou que não seria possível fazer os procedimento devido à pandemia.
A dor aumentou. Sonia conta que chegou até a perder o movimento da perna esquerda. Em razão da quantidade de medicamentos que tomou, ela teve uma infecção urinária e estava com os rins comprometidos.
Um dia pela manhã, logo que acordou, Sonia percebeu que a intensidade das dores estava ainda mais forte. “Foi como se tivesse rachado a minha coluna. Eu não enxergava mais nada, comecei a gritar socorro”, relata.
Sem retorno do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Sonia foi levada pelo filho para o Hospital das Clínicas da USP, onde conseguiu realizar uma tomografia.
Pelo exame, os médicos detectaram a presença de várias hérnias de disco na coluna com pinçamento dos nervos, o que causou, por exemplo, as dores fortes e perda do movimento da perna esquerda.
“O médico me falou: ‘Tudo isso que a senhora está tendo é típico de um caso de cirurgia. Porém, hoje, por conta da situação que o nosso país está passando, ninguém vai fazer uma cirurgia na senhora, porque o seu caso não é iminente de morte’”, conta.
Desde então, Sonia está em casa sem ter para onde recorrer. Ela ressalta a quantidade de medicamentos para alívio da dor e anti-inflamatórios que está tomando, mas sabe que o caso só poderá ser resolvido após a pandemia.
“Quem não morre hoje de Covid-19, está morrendo de outras coisas, porque não está sendo tratado”, desabafa Sonia.
Pacientes com doenças crônicas têm atendimento cancelado
Em 2016, em meio à crise econômica, Fernanda Ferreira de Souza, de 37 anos, perdeu o emprego. Com isso, teve que migrar do sistema particular para o SUS.
Logo de início, ela se deparou com a dificuldade no acesso. “Foi muito difícil conseguir a primeira consulta, porque, quando você vai para o sistema público pela primeira vez, você demora de cinco a seis meses para conseguir”, diz.
Passado o tempo e com a consulta agendada, foi indicado que ela e o marido, Claudenir Souza, 40, fizessem um hemograma como exame de rotina.
Pelo resultado, foi possível concluir que o marido estava hipertenso e diabético e que Fernanda estava com a glicemia alterada.
Ela ressalta que, antes mesmo da pandemia, o sistema já apresentava alguns problemas, como a troca de médicos que acompanhavam o caso.
Em novembro, o casal passou por uma consulta com uma nova médica, que receitou medicamentos diferentes e pediu para que eles aguardassem cerca de seis meses para fazer novos exames a fim de saber se os remédios estavam fazendo efeito.
No final de fevereiro, Fernanda foi até a Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Santa Maria, na zona leste de São Paulo, para solicitar os novos exames, mas a equipe indicou que não seria possível realizar o procedimento devido à pandemia. Além disso, a consulta que estava agendada também foi cancelada.
Gilberto Berguio Martin explica que o acompanhamento de pacientes com doenças crônicas costuma ser realizado pela Atenção Primária.
A recomendação para a área é a de não interromper totalmente os atendimentos para voltar os serviços somente para pacientes com Covid-19.
Em março, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 430, que estabelece um incentivo financeiro ao funcionamento em horário estendido das Unidades de Saúde da Família (USF) ou UBS para absorver o aumento da demanda nos casos de Covid-19, além de fazer o acompanhamento de pacientes com doenças crônicas.
Tratamento de câncer adiado
Em setembro de 2019, Ana Paula Ferreira de Oliveira, de 45 anos, percebeu a presença de um nódulo na mama. O mastologista solicitou a realização de uma biópsia. Por não ter plano de saúde, ela pagou pelos atendimentos.
Com os exames solicitados em mãos, Ana Paula voltou à mastologista, dessa vez pelo SUS, no Hospital do Servidor de Duque de Caxias (RJ).
“No meu caso, o protocolo que eles adotariam seria a quimioterapia e depois a cirurgia. Mas o setor de oncologia está superlotado e não está dando conta da demanda”, conta.
Os responsáveis pelo caso receitaram um medicamento para que ela desse início ao tratamento hormonal enquanto não fosse possível fazer as sessões presenciais.
“Dependendo de como esteja a pandemia, eles vão ver o que fazer comigo: se vão me colocar na quimioterapia ou se vão marcar logo a cirurgia. O médico disse que não acha prudente me submeter a um processo cirúrgico agora para evitar que eu me contamine”, explica.
Ana Paula afirma estar com medo da medicação não surtir efeito e do quadro se agravar neste período sem acompanhamento. Ela compartilha o sentimento com outros membros de um grupo no Facebook que também enfrentam o câncer durante a pandemia.
“Eu saí da consulta um pouco frustrada, porque quando a gente tem um diagnóstico de câncer a gente quer resolver logo o problema. A gente fica muito acuada, porque não sabe para onde corre”, diz.
Neldes maria Monção Calazans
27/05/2020 @ 07:55
Fiz uma cirurgia de glaucoma, sem condições, apelei pelo um empréstimo,Pois sou aposentada INSS,mas a clínica não me ajudou a resolver pelo sus.cirurgia esta que me deixou sem enxergar,segundo a médica
Que fez minha cirurgia, que eu acho que foi erro dela ,criou uma catarata, agora baralho pelo atendimento do sus ,mas tá muito difícil…só Deus na causa .