Pandemia: médicos já precisam escolher quem vai ou não para a UTI
Devido ao aumento no número de casos de Covid-19 no Brasil nas últimas semanas, profissionais na linha de frente precisam escolher quem vão salvar
Por: Mariana Lima
Unidades de tratamento intensivo (UTIs) de diversos hospitais pelo país já registraram lotação máxima, enquanto outras se aproximam cada vez mais deste quadro devido ao aumento no número de casos do novo coronavírus nas últimas semanas.
Em muitos casos, não há espaço para todos os pacientes que precisam de atendimento, fazendo com que os médicos precisem decidir quem vai para a UTI quando surgir uma vaga.
A reportagem da BBC News Brasil conversou com profissionais da saúde de hospitais públicos e privados pelo país para saber como esse processo vem sendo realizado.
Uma das entrevistadas, a médica Andressa, chamada assim para proteger sua identidade, revelou que a falta de leitos de UTI é um problema crônico do Sistema nico de Saúde (SUS), que só se agravou com a pandemia. A equipe médica do hospital público em que trabalha, em Fortaleza (CE), escolhe quem vai ter mais chances de sobreviver para encaminhar à UTI.
Já uma cardiologista que atua em um hospital particular do Rio de Janeiro relatou à reportagem que acompanhou o caso de uma idosa de 90 anos que estava sendo avaliada para decidir se ia ou não para a UTI após a sua saúde piorar rapidamente depois de ser internada.
O quadro dela era comparado com o de 8 pacientes mais jovens em estado grave que estavam recebendo um alto fluxo de oxigênio. A chance de estes pacientes precisarem ser intubados era alta, mas não haveria vaga para nenhum se a paciente idosa fosse para a UTI. Uma comissão de médicos optou por deixar a idosa em cuidados paliativos, e ela morreu na madrugada seguinte.
Na entrevista, a cardiologista disse que “Foi uma angústia muito grande, porque era uma pessoa que estava lúcida, não tinha outras doenças graves e havia expressado o desejo de viver”. Essa situação não ocorria no hospital no período pré-pandemia.
Protocolos em andamento
Como forma de auxiliar os profissionais da saúde a tomarem essa decisão, com base em critérios científicos e uniformes, associações brasileiras desenvolveram protocolos de triagem de atendimento em UTIs para atuar no caso de um colapso no sistema de saúde.
Um dos protocolos foi elaborado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) em parceria com a Associação Brasileira de Medicina de Emergência, a sociedade Brasileira de Gerontologia e a Academia de Cuidados Paliativos. O conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco (Cremepe) também elaborou seu próprio protocolo, que foi publicado no final de abril.
Ambos os protocolos utilizam como base uma análise das condições de saúde do paciente para determinar, através de um sistema de pontos, quem pode se beneficiar mais de um leito de UTI.
Os protocolos fazem uma Avaliação Sequencial de Falência de Órgãos em que analisam o estado de seis sistemas básicos do organismo dos pacientes: respiratório, cardiovascular, hepático, de coagulação, renal e neurológico. Quanto piores forem as condições destes sistemas, maior é a pontuação recebida.
Em outra etapa é analisado se o paciente tem outras doenças crônicas (comorbidades), que são fator de risco para os que apresentam quadro de Covid-19. O Cremepe, por exemplo, aumenta a pontuação quanto pior for este quadro, já a Ambib realiza uma pontuação única nesta etapa.
A última etapa mede a capacidade física e motora da pessoa naquele momento, indicando se o organismo será capaz de responder ao tratamento. No final, todos os pontos são somados, e o paciente com a menor pontuação tem prioridade.
O objetivo destes protocolos é identificar os pacientes que têm mais chances de sobreviver e dar prioridade a eles.
Fonte: BBC News Brasil