Pesquisadores divulgam tratamento que pode ser a cura do HIV
Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizam um estudo em escala global para testar indivíduos cronicamente infectados pelo vírus HIV
Por: Mariana Lima
A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou a realização do primeiro estudo desenvolvido em escala global para testar um supertratamento em indivíduos cronicamente infectados pelo vírus do HIV.
O vírus causa um ataque ao sistema imunológico, tornando a pessoa infectada mais propensa às doenças oportunistas ou ao câncer do que outra pessoa com o sistema imunológico saudável.
No total, 30 voluntários participaram da pesquisa. Eles apresentam uma carga viral indetectável e realizam um tratamento padrão, que é atualmente composto pela combinação de três tipos de antirretrovirais, conhecidos como “coquetel”.
Os participantes da pesquisa foram divididos em seis subgrupos, para receber, cada um deles, diferentes combinações de remédios, além do “coquetel” que já recebiam no tratamento.
O estudo atua em duas frentes para estabelecer uma cura para a doença:
- São utilizados medicamentos e substâncias que matam o vírus no momento da replicação, eliminando as células em que o HIV está adormecido (latência);
- Desenvolvimento de uma vacina para levar o sistema imunológico a reagir e eliminar as células que o fármaco não é capaz de alcançar.
Os participantes que apresentarem os melhores resultados entre essas linhas recebem mais dois antirretrovirais: o Dolutegravir (droga mais forte e atualmente disponível no mercado); e o Maraviroc (sustância que força o vírus, antes oculto, a aparecer).
Mais duas substâncias também são incluídas nesta rodada para potencializar o efeito dos medicamentos: a nicotinamida (uma das formas da vitamina B3, que já se mostrou capaz de impedir o vírus de se esconder nas células); e a Auranofina (um antirreumático, também conhecido como sal de ouro).
Até o momento da pesquisa, a Auranofina se revelou com potencial para encontrar a célula infectada e levá-la ao suicídio.
Os testes promovidos pela pesquisa já indicam que nicotinamida é mais eficiente contra a latência quando comparada ao potencial de dois medicamentos administrados com essa finalidade e testados de forma conjunta.
No entanto, apesar destas descobertas, ainda seria necessário que algo ajudasse na imunidade dos pacientes contra o vírus. Desta forma, os pesquisadores criaram uma vacina de células dendríticas, que permite ensinar ao organismo do paciente a encontrar as células infectadas e destruir uma por uma, eliminando o vírus do HIV completamente.
Essa vacina produzida com células dendríticas é extremamente personalizada, uma vez que é fabricada a partir de monócitos (células de defesa) e peptídeos (biomoléculas formadas através da ligação de dois ou mais aminoácidos) do vírus do paciente.
De acordo com os pesquisadores, as células dendríticas são importantes unidades funcionais dentro do sistema imunológico, pois têm a função de capturar micro-organismos prejudiciais ao organismo para depois apresentá-los aos linfócitos T CD8.
Com isso, os linfócitos participam do controle de infecção, aprendendo a encontrar e matar o HIV presente em regiões do corpo em que os antirretrovirais não chegam ou chegam de forma modesta, com cérebro e ovários.
Até o momento, seis pacientes chegaram a receber o supertratamento, mas os resultados finais da terceira dose da vacina ainda são aguardados. Com esse resultado, se o resultado for positivo, a próxima fase será suspender todos os medicamentos e acompanhar a reação do organismo ao longo de meses ou anos.
O estudo vem sendo coordenado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp).
Fonte: Correio Braziliense