Publicações nas redes sociais sobre suicídio crescem durante pandemia
Apenas em maio, foram feitas mais de 100 mil menções ao tema suicídio em redes como Twitter e Instagram. Fatores como isolamento social e adiamento de planos pessoais por conta da pandemia têm contribuído para o aumento das sensações de solidão e frustração
Por: Isabela Alves
A cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no mundo. Isso representa cerca de 800 mil pessoas por ano, de acordo com o relatório Suicide in the world – Global Health Estimates, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, segundo informações do Ministério da Saúde, em 2016, 11.433 pessoas tiraram a própria vida. A mesma publicação também revela que em 10 anos a taxa de suicídio de brasileiros cresceu 16,8%.
Para a psicóloga Ana Gabriela Andriani, graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o suicídio é multifatorial e as razões para o ato são sempre particulares. “É como se a vida não tivesse mais sentido e não há mais esperança de continuidade. Há uma frustração profunda”, explica.
Com a pandemia, as sensações de frustração e solidão se intensificaram ainda mais, pelas vidas perdidas para a Covid-19, a situação econômica do país, o isolamento social e os planos pessoais que foram adiados.
Uma pesquisa, feita pela ComunicaQueMuda (CQM), apontou que as publicações nas redes sociais sobre suicídio cresceram durante a pandemia, no Brasil: apenas em maio de 2020, foram 103.923 menções ao tema no Twitter, no Instagram, no YouTube, no RSS e no Facebook. Desse total, 23,5% eram publicações com depoimentos e relatos. Em 2017, esse tipo de publicação representava apenas 6,3% das postagens sobre suicídio.
“Uma maneira de lidar com a angústia nesse momento é não negar esses sentimentos. É normal se sentir assim, mas é preciso ficar alerta para identificar se esses sentimentos estão em excesso, já que eles podem culminar em uma tentativa de suicídio. É preciso estar em contato com familiares e amigos, ter uma rotina demarcada, fazer atividades que motivem e também procurar ajuda de um profissional”, destaca Andriani.
A quantidade de notícias sobre o tema também cresceu. Do total de menções levantadas pela pesquisa, 42% eram notícias.
Onde é possível procurar ajuda?
As duas principais recomendações para prevenir o suicídio são procurar ajuda de profissionais de saúde mental e o apoio de familiares e amigos. Também é possível ligar para o Centro de Valorização da Vida (CVV) gratuitamente, no número 188.
O Instituto Vita Alere, com o apoio da Google, disponibilizou o site ‘Mapa da Saúde Mental’, com indicações de terapia gratuita em todo o Brasil.
Adriana Rizzo é voluntária do CVV há mais de 20 anos, e afirma que falar sobre os seus sentimentos é uma maneira de se organizar para achar uma saída. “Quem pensa em morrer, acredita que aquele sentimento é só dela. Na verdade, todos nós em algum momento da vida podemos passar por um período ruim. No CVV, acreditamos que, se conseguimos dividir esses pensamentos, podemos salvar vidas”.
Ela ainda ressalta que não é preciso ser voluntário da instituição para ajudar as pessoas. Todos podemos dar atenção para qualquer pessoa que demonstre estar passando por uma dificuldade.
Um dos grandes fatores de risco que cercam o suicídio é a presença de algum transtorno mental. Neste cenário, a depressão se apresenta como uma das maiores causas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que, entre 2005 e 2015, o número de casos da doença cresceu 18%. No mundo, 322 milhões de pessoas são afetadas pela depressão. No Brasil, são 11,5 milhões de pessoas. O tabu para se falar sobre saúde mental, muitas vezes, acaba sendo uma das barreiras para se prevenir o suicídio.
“Por muito tempo, por questões sociais, culturais e religiosas, se escondia que as pessoas tinham morrido por suicídio, mas é um problema de saúde pública. Está presente na nossa sociedade desde sempre. Falar sobre a prevenção é importante, pois as pessoas sabem que podem buscar ajuda de alguma maneira. Esse tema é mais comum e está mais perto do que muita gente imagina”, conclui Rizzo.