Povo indígena Ashaninka lança campanha para ajudar vizinhos
A campanha de financiamento coletivo busca estimular a produção de alimentos nas comunidades vizinhas à Terra Indígena Kampa do Rio Amônia (AC)
Por: Mariana Lima
No começo de julho, a comunidade indígena da etnia Ashaninka, através da liderança Francisco Piyãko, divulgou a realização de uma campanha de financiamento coletivo para promover a produção de alimentos nas comunidades vizinhas à Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, localizada no Acre.
Intitulada ‘Ashaninka Pelos Povos da Floresta’, a campanha tem como meta arrecadar R$ 1 milhão para distribuir alimentos, ferramentas de plantio e materiais de pesca para 1,8 mil famílias que vivem na região, entre indígenas e não-indígenas.
Para alcançar a meta proposta, a campanha não tem prazo para o término, sendo finalizada apenas quando a pandemia chegar ao fim.
Além da preocupação com a segurança alimentar dos vizinhos, os Ashaninka também têm como objetivo evitar a ida das pessoas a Marechal Thaumaturgo, cidade mais próxima da região, onde vivem 18 mil pessoas e que já apresenta 150 casos confirmados de Covid-19.
A localidade tem uma estrutura precária de saúde, sem atendimento de média ou alta complexidade. Esse cenário obriga as pessoas a se deslocarem até a capital Rio Branco de barco ou avião monomotor caso necessitem de atendimento.
Até o momento, 17 indígenas foram vitimados pela Covid-19 no Acre, segundo a Articulação Nacional dos Povos Indígenas (Apib).
Localizada às margens do rio Amônia, a aldeia Apiwtxa é formada por aproximadamente mil Ashaninka que estão em autoisolamento. A atitude vem dando bons resultados, já que ainda não tiveram nenhum caso de infecção pelo vírus.
A aldeia em questão criou seu próprio sistema de lockdown com a instalação de barreiras no rio para evitar a entrada de pessoas de regiões externas.
Lideranças da aldeia informaram que eles têm condições de se manterem por tempo indeterminado, apenas com os alimentos produzidos pela comunidade, resultado de décadas de planejamento na busca por autonomia após a homologação do território em 1992.
A ideia para a campanha surgiu após membros da comunidade Apiwtxa perceberem que, enquanto se mantêm em isolamento, pessoas das comunidades vizinhas ainda precisavam circular em busca de comida, trabalho ou auxílio emergencial.
Essa não é a primeira parceria entre os povos que habitam essa região da Amazônia, entre eles os Kuntanawa, os Huni Kuin – também conhecidos como Kaxinawá -, os Jaminawa e os Apolima-Arara.
Em 2015, por exemplo, eles re reuniram para criar o projeto Alto Juruá, contemplado pelo Fundo Amazônia para promover o manejo e a produção agroflorestal na TI Kampa do Rio Amônia e em comunidades vizinhas, servindo como alternativa econômica sustentável ao desmatamento.
Através deste projeto, a Associação Ashaninka do Rio Amônia firmou o primeiro contrato elaborado por indígenas sem intermediação do setor público ou organizações não governamentais com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O projeto beneficiou aproximadamente 2,5 mil pessoas, entre elas representantes do povo Huni Kuin e famílias extrativistas. A ação também rendeu aos Ashaninka, em 2017, um prêmio da ONU concedido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ainda naquele ano, o Prêmio Equatorial incluiu o projeto entre as 15 melhores iniciativas de solução sustentável no mundo.
Para acessar a campanha, clique aqui.
Fonte: ECOA – UOL