Professor usa robótica para incluir alunos com autismo em escola de SP
Professor de matemática aprendeu a programar para ajudar no desenvolvimento de seus alunos
Por: Mariana Lima
Na EMEF Brigadeiro Haroldo Veloso, localizada no bairro de Itaquera, na Zona Leste da cidade de São Paulo, o professor de matemática Edson Luiz Plateiro, 53 anos, cria uma nova realidade para seus alunos.
Tudo acontece na sala de recursos, ambiente dedicado às crianças com necessidade especiais matriculadas no ensino regular da rede pública municipal. Elas frequentam o espaço duas vezes por semana, no contraturno escolar.
A sala oferece equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos para os alunos com deficiência, transtornos de desenvolvimento ou superdotados.
As atividades desenvolvidas na sala, assim como os recursos disponíveis, são pensados para atender as necessidades específicas de cada aluno, utilizando jogos, quebra-cabeças e oficinas de slime.
Entre os projetos desenvolvidos na sala está um boneco de 30 cm do robô Wall-e, personagem do filme homônimo da Disney+Pixar lançado em 2008. A ideia para produzir o robô veio de Guilherme, que tem autismo. Ele encontrou o tutorial na internet, levou para a aula e junto ao professor iniciou a construção.
A produção feita por eles tem um coração de papelão pintado de vermelho que acende e leva nas mãos dois arranjos de flores de plástico. As funções e os movimentos do robô utilizam a linguagem de programação C++.
O professor, que está há mais de 15 anos na rede pública de ensino, assumiu a sala de recursos há 3 anos. Já o interesse pela robótica começou em 2017, ao descobrir que a escola em que trabalhava receberia, da Secretaria Municipal de Educação, um kit para a iniciação de aulas de programação.
Com a chegada do kit, a professora da sala de informática sugeriu uma parceria com o professor de matemática, para unir os alunos do professor com os de outras salas no projeto.
Até então, Edson tinha interesse mas não sabia nenhuma linguagem de programação. Com o kit em mãos, o professor começou a descobrir aos poucos como ele funcionava, e assim foi aprendendo.
Depois, resolver fazer uma extensão universitária na Universidade Federal do ABC que o levou a ter contato com o software Robomind, um algoritmo de programação e a oportunidade de estudar formas de usar a robótica no contexto educacional.
Motivado por tudo o que vinha aprendendo e os efeitos dos projetos de robótica e programação nos alunos, Edson decidiu participar do JAM de robótica, evento que reuniu cerca de 1 mil alunos de várias escolas para estudar os manuais, reproduzir as experiências e pensar em protótipos.
A interação entre os alunos com e sem deficiência é o que mais marca o professor de matemática. Os alunos passaram a conviver com a entrada do kit na escola. Em entrevista à BBC News Brasil, Edson contou que “estavam todos no mesmo processo de construção e conhecimento, cada um no seu projeto. E quem olhava via cada aluno fazendo seu percurso de aprendizagem, mas todos juntos.”
Os próprios alunos acabam sugerindo os protótipos com que desejam trabalhar. Um dos alunos que sonha em ser veterinário quis criar um robô escorpião que fosse capaz de alertar crianças pequenas sobre os perigos de interagir com a espécie. O aluno em questão se chama André e tem autismo.
Para desenvolver o protótipo do robô, o professor e André precisaram estudar a anatomia do pequeno animal através de software da prefeitura. Depois, a imagem do escorpião foi ampliada e copiada. Usando uma cartolina e cola quente, eles construíram a carapaça gigante, que possui até um rabo que se move e simula uma picada.
André era uma criança tímida, mas seu envolvimento com o trabalho foi tanto que ele conseguiu se apresentar na mostra cultural da escola para todos os alunos.
Fonte: BBC News Brasil