Projeto leva obra de Carolina Maria de Jesus para o Instagram
Postagens são realizadas de acordo com as datas que aparecem em seu diário, publicado há 65 anos sob o título ‘Quarto de Despejo’. Ação é promovida por estudantes da periferia
Por: Mariana Lima
Desde julho de 2020, parte da obra da escritora Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977) está no Instagram. Os textos de Carolina deixaram as páginas dos livros para ocupar as redes devido à iniciativa de jovens da periferia de São Paulo.
Carolina de Jesus chegou a ser publicada em mais de 46 países, tendo sido traduzida para diversos idiomas. Recebeu homenagens nacionais e internacionais, com o livro ‘Quarto de Despejo’ (1960).
Natural de Minas Gerais, Carolina era catadora de papelão na cidade de São Paulo, morando na favela do Canindé, na Zona Norte da cidade, com seus três filhos pequenos. Era mãe solo.
Apesar de ter muitos escritos, apenas ‘Quarto de Despejo’ lhe rendeu reconhecimento. Suas outras obras, que fugiam da abordagem da fome e da miséria das favelas, não tiveram o mesmo alcance apesar da potência de suas palavras.
Buscando fazer o resgate desta autora que só veio a receber o reconhecimento que merecia e a ocupar o espaço entre as escritoras brasileiras nos últimos anos, dois jovens se uniram para espalhar as palavras de Carolina.
Os estudantes de psicologia Thallis Souza, 24, e Leonardo Felipe, 19, criaram o perfil ‘Diário de uma Favelada‘. Ambos tiveram contato com a obra durante o ensino médio e decidiram trazer trechos do livro para o Instagram, a fim de ampliar o acesso à obra.
A primeira postagem no perfil ocorreu no dia 15 de julho de 2020, 65 anos após o primeiro texto ser escrito por ela. Os jovens decidiram construir o perfil por verem nos escritos de Carolina uma realidade próxima da que vivem em suas “quebradas”.
Thallis foi criado em São Mateus, na Zona Leste da capital, enquanto Leonardo é de Osasco, na Grande São Paulo. Eles se conheceram durante a graduação.
As postagens estão sendo feitas em ordem cronológica com a obra, para aproximar o público leitor da rotina de Carolina. Atualmente, a dupla já se encontra n0 segundo ano do diário, em 1958.
A integração dos escritos de Carolina, segundo os criadores da iniciativa, permitirá que a obra alcance a população de baixa renda que não tem acesso aos livros físicos.
Fonte: Agência Mural