Relacionamento é peça-chave na captação de recursos
Palestras do Festival ABCR ressaltaram a importância da construção de um relacionamento entre os doadores e as OSCs para expandir a captação
Por: Júlia Pereira
O segundo dia do Festival ABCR 2020, realizado no último dia 30, ressaltou a importância do relacionamento como a principal estratégia para a captação de recursos para as organizações.
Na palestra ‘10 passos para dobrar doações ao seu projeto social’, Thaís Iannarelli, diretora executiva da Rede Filantropia, e Marcio Zeppelini, presidente do Instituto Filantropia, indicaram algumas ferramentas que podem auxiliar as instituições na captação, como eventos e editais. Mas com uma ressalva: “O relacionamento acaba sendo a chave para tudo, independentemente da ferramenta”, enfatiza Thaís.
A multiplicação dos recursos também foi citada pelos especialistas, que ressaltaram ser mais viável melhorar o relacionamento com os atuais doadores da organização do que conquistar novos. Para aperfeiçoar essa relação e contato, é essencial ter foco na verdadeira fonte dos recursos. “Se você não conquistar o ser humano que está por trás do governo, da empresa, da organização, você não conquista nada”, observa Marcio.
A construção da relação com propósito também foi citada durante a palestra ‘A explosão das lives solidárias’, ministrada por Isabella Vieira, gerente de Trade Marketing da Ame Digital; Vinícius Martins Ianuskiewtz, gerente nacional de patrocínios e marketing da Ambev; e Túlio Goldemberg, gestor de marketing e eventos do Instituto do Câncer Infantil do Agreste (ICIA); e moderada por Ana Flavia Godoi, especialista em desenvolvimento institucional da AFG Consultoria.
Mais de R$ 17 milhões já foram doados com as lives musicais realizadas neste momento de pandemia. Para chegar a esse número, Isabella ressaltou a importância de que os artistas entendam o propósito da empresa e da organização, para que transmitam ao público e o sensibilizem a doar.
Vinícius citou que buscar artistas para serem embaixadores e padrinhos das organizações aumenta a visibilidade da causa social e estimula o público a realizar as doações não somente durante as transmissões online.
Produção de conteúdo sobre o terceiro setor
Além do relacionamento como característica essencial para uma captação de recursos de sucesso, as informações de qualidade produzidas pelas organizações ocupam lugar importante para que a área ganhe notoriedade.
Na palestra ‘Conhecimento sobre terceiro setor no Brasil: motivações, produção e lacunas’, Andrea Pineda, doutoranda em Administração Pública e pesquisadora do CEAPG e da FGV-EAESP, destacou que a pandemia de Covid-19 evidenciou ainda mais a importância da Ciência, do discurso aprofundado e embasado. A pesquisadora chamou a atenção para a produção de conteúdo e conhecimento produzido pelas organizações da sociedade civil, como, por exemplo, a Rede Nossa São Paulo.
Valorizar o conhecimento produzido pelas organizações e pelas comunidades de massa foi a perspectiva defendida por Graciela Hopstein, coordenadora Executiva da Rede de Filantropia para a Justiça Social. Graciela destacou que o terceiro setor abriga uma massa crítica e que esse conhecimento, muitas vezes, é perdido. “É preciso desconstruir essa ideia de que o conhecimento é produzido somente pelas academias e grandes fundações, e valorizar pesquisas das comunidades de base, das organizações”, diz.
Garantia no acesso às doações
Além do relacionamento bem construído, as doações também possibilitam que as organizações tenham mais estruturas para aperfeiçoar e expandir a atuação. Na plenária ‘ITCMD: acabando com o imposto sobre doações’, os palestrantes trataram sobre a importância de acabar com os tributos nos recursos doados às organizações.
Aline Viotto, coordenadora de Advocacy do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), enfatizou a relevância das doações realizadas às organizações do terceiro setor e que os impostos sobre esses recursos impedem que um maior financiamento seja feito às causas de interesse público.
A opinião também foi compartilhada por Flavia Regina Oliveira, sócia do escritório Mattos Filho. Segundo ela, o ITCMD (Imposto de transmissão causa mortis e doação) é de competência de cada estado brasileiro, resultando na liberdade sobre como será incidido. No entanto, a existência dessa tributação pode impedir que grandes valores sejam repassados às organizações. “Imposto sobre doações só inibe causas sociais fantásticas”, frisa a advogada.
“A questão do ITCMD sempre se coloca como uma pedra no caminho no processo das negociações e da conclusão de uma determinada parceria”. Quem afirma isso é Luis Donadio, coordenador de captação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Por outro lado, Luis conta que não percebeu o imposto como um fator que impediu que as doações fossem feitas em massa nesse momento de crise.
As doações também foram o foco da palestra ‘O Dinheiro do Setor: combatendo fraudes e garantindo acesso a recursos’. No debate mediado por João Paulo Vergueiro, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), o foco foi discutir de que forma as organizações estão agindo para garantir que as fraudes não afetem as doações.
“A gente tem que ficar atento para que não se entenda a sociedade civil como um todo vulnerável a agentes externos querendo corromper”, destacou o diretor.
Laís de Figueirêdo Lopes, advogada sócia do escritório SBSA Advogados, acredita que é importante avaliar alguns mecanismos para saber a validade do trabalho realizado pelas organizações, como manter documentos de parceria sempre atualizados, visando parcerias de sucesso com instituições sérias.