SP: número de famílias em situação de rua quase dobra na pandemia
Censo indica que número de famílias em situação de rua na cidade de São Paulo quase dobrou durante a pandemia. Número total de pessoas nas ruas aumentou 31% entre 2019 e 2021
Por Juliana Lima
Segundo o Censo População em Situação de Rua em São Paulo, a pandemia fez com que o número de famílias sem teto quase dobrasse na cidade. Das 31.884 pessoas em situação de rua, 28% afirmaram viver com ao menos um familiar, somando 8.927 pessoas. Em 2019, esse percentual era de 20%, alcançando 4.868.
Em números gerais, a população em situação de rua aumentou 31%: em 2021, eram 31.884 pessoas vivendo nas ruas, em oposição a 24.344 em 2019. Se comparado a 2015, o número é o dobro. Naquele ano, eram 15.905 pessoas em situação de rua na capital paulista.
O perfil de quem vive nas ruas de São Paulo atualmente é diverso. De acordo com o Censo, 40,94% das pessoas são de outros estados do Brasil, 39,2% da própria cidade e 19,86% de outros municípios do estado. Entre os motivos mais citados para estar nas ruas estão os conflitos familiares (34,7%), a dependência de álcool e outras drogas (29,5%) e a perda de trabalho e renda (28,40%).
O que surpreende é o alto número de pessoas que estão há menos de um ano nas ruas, sendo 28,40% dos entrevistados pelo Censo, que identificou também um aumento de 230% do número de barracas de camping e de barracos de madeira instalados em vias públicas como moradias improvisadas. Segundo especialistas, esse tipo de moradia improvisada é mais comum justamente entre famílias e pessoas que foram parar nas ruas recentemente e ainda tentam manter certo grau de privacidade e segurança.
Além disso, cresceu também o número de pessoas que preferem as ruas aos abrigos. De 52% dos entrevistados em 2019, esse percentual subiu para 60% em 2021. “A crise econômica se agravou, o desemprego disparou, a inflação subiu e, nesse período, a política pública da prefeitura para essa população continuou a mesma. Os centros de acolhida não são pensados para as demandas de quem vive na rua”, diz o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua.
Uma referência no trabalho de acolhimento da população em situação de rua em São Paulo, o padre Lancellotti diz ainda que o número do Censo está subnotificado. “Esse número é subestimado pela total inadequação com a qual foi feito esse censo. E a prefeitura foi alertada dos problemas metodológicos. Um número subestimado vai resultar, mais uma vez, em políticas públicas insuficientes e equivocadas, que não respondem quantitativamente nem qualitativamente às demandas da população de rua”, diz.
O Censo também perguntou às pessoas o que as ajudaria a deixar essa condição. Para 45,7%, um emprego fixo seria a principal solução para deixar as ruas, enquanto para 23,1% seria preciso ter uma moradia permanente. A possibilidade de retorno à casa de familiares foi citada por 8,1% dos entrevistados e a superação da dependência química, por 6,7%.
Para os especialistas, isso demonstra que o melhor método para lidar com a população em situação de rua é pensar em políticas públicas de longo prazo e não apenas em centros de acolhimento e abrigos imediatos. “A demanda dessa população não é por centro de acolhimento, mas sim por moradia. Sem um lugar para morar, essas pessoas não conseguem romper o ciclo porque não encontram emprego. A política de abrigamento não é solução”, diz Juliana Reimberg, pesquisadora do CEM (Centro de Estudos da Metrópole), da USP.
Fonte: Folha de São Paulo
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