Trabalho infantil cresce em São Paulo durante a pandemia
Segundo levantamento realizado pelo UNICEF, o trabalho infantil na cidade de São Paulo aumentou 26% de maio a julho, por conta da pandemia
Por: Júlia Pereira
Um levantamento realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) analisou a situação de renda e trabalho em 52.744 famílias vulneráveis de diferentes regiões de São Paulo, que receberam doações da organização.
Entre os dados de abril a julho de 2020, o UNICEF chama a atenção para a intensificação do trabalho infantil: a prevalência total aumentou 26%, comparando as famílias entrevistadas em maio com as entrevistadas em julho.
O levantamento envolveu famílias vulneráveis em nove distritos da Zona Sul (Campo Belo, Campo Limpo, Capão Redondo, Cursino, Grajaú, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Parelheiros e Santo Amaro); oito distritos da Zona Leste (Belém, Cangaíba, Cidade Tiradentes, Guaianases, Itaim Paulista, Mooca, Ponte Rasa e São Mateus); sete distritos da Zona Norte (Brasilândia, Cachoeirinha, Casa Verde, Freguesia do Ó, Jaçanã, Santana, Vila Medeiros); e cinco distritos do Centro (Bom Retiro, Consolação, Pari, República, e Sé).
Segundo a organização, é urgente apoiar as famílias para que tenham alternativas de renda e trabalho no contexto da pandemia, além de redobrar o compromisso de proteger cada criança e adolescente de toda e qualquer forma de violência, inclusive da exploração do trabalho infantil.
O UNICEF afirma que os dados são importantes para orientar políticas públicas, como identificação das famílias e inserção em programas sociais, transferência de renda, acompanhamento socioassistencial e políticas emergenciais em razão da pandemia, principalmente que atendam famílias mais vulneráveis que são compostas, na maioria das vezes, por mulheres negras.
A procuradora do trabalho Elisiane Santos afirma que o Ministério Público do Trabalho tem atuação voltada à erradicação do trabalho infantil, por meio de articulações no Executivo e Legislativo municipais, estaduais e federal, a fim de garantir a implantação de políticas públicas de prevenção e enfrentamento do trabalho infantil, informando que o município de São Paulo foi notificado para a adoção de ações emergenciais durante a pandemia.
Para apoiar as famílias vulneráveis na cidade de São Paulo no enfrentamento da pandemia, o UNICEF, com o Ministério Público do Trabalho, uniu-se a parceiros da sociedade civil e do setor privado para entrega de doações de kits de higiene, limpeza e alimentos para esses moradores, em particular de favelas e comunidades.
A distribuição dos produtos contou com a parceria das organizações Sociedade Santos Mártires, Rede Ibab Solidária, Bakissi Aueto Mona Cafunge, Visão Mundial e Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras).
As doações chegaram a 88 mil famílias, totalizando cerca de 380 mil pessoas. Parte dessas famílias foi ouvida no levantamento realizado sobre a situação de renda e trabalho.
Impacto nas mulheres
As mulheres ganham destaque na responsabilidade pelos domicílios. Entre os chefes de família, 79,1% são mulheres e 20,7%, homem, que têm, em média, de 41 a 43 anos.
As mulheres também são as mais afetadas no âmbito socioeconômico em que estão inseridas: 44,7% já estavam desocupadas antes da pandemia, em comparação a 36,1% dos homens.
Ao todo, 30,4% das pessoas responsáveis pelos domicílios perderam o emprego por conta da pandemia; 15,7% continuavam trabalhando, mas ganhando menos; e apenas 10,9% dessas pessoas estavam trabalhando normalmente. Isto é, a pandemia também teve impacto no trabalho para 46% das famílias, em que a pessoa responsável perdeu o emprego ou está ganhando menos.
Enfrentamento de violências contra crianças e adolescentes
O UNICEF e o Ministério Público do Trabalho têm uma parceria nacional para o enfrentamento de todas as formas de violência contra crianças e adolescentes, inclusive o trabalho infantil.
A organização também está trabalhando com parceiros da sociedade civil e com empresas para a geração de mais oportunidades de aprendizagem e inserção segura e protegida no mundo do trabalho para adolescentes e jovens.
Fonte: UNICEF