Um outro jeito de fazer trote universitário: com solidariedade
Organizados pelas próprias faculdades, eventos incentivam ações como doar sangue e alimentos
Por Josilene Rocha
O ano letivo mal começou e casos de trotes violentos ou humilhantes já começam a ser registrados nas faculdades. Um exemplo que ganhou repercussão foi o das Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI), no interior de São Paulo, no qual veteranos jogaram ácido em calouros. Apesar de casos assim, nem só trotes violentos são feitos nesta época do ano: há também os chamados trotes solidários. Neles, a ideia é integrar antigos e novos alunos de uma maneira saudável, além de transmitir aos ingressantes valores como solidariedade e cidadania.
Em São Paulo, uma das instituições de ensino superior que adotam o trote solidário é a Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP). Nela, o trote convencional é inteiramente proibido. Por outro lado, há um grande incentivo por parte da direção e dos professores para que os estudantes participem do solidário.
“A ideia é fazer algo em prol do ser humano”, afirma o professor Reinaldo Belizário Júnior, responsável por organizar a campanha do trote solidário da FIAP desde 2011. Na instituição, o trote faz parte de um projeto chamado IHelp, que é composto por outras campanhas como a Fábrica de Natal, realizada sempre para arrecadar brinquedos para crianças carentes perto do fim do ano.
No caso do trote solidário, que dura mais de um mês, a programação inclui um campeonato de futebol, em que cada equipe inscrita precisa arrecadar pelo menos 70 quilos de alimentos. Segundo Belizário Júnior, só no ano passado, a FIAP arrecadou 14,4 toneladas de mantimentos, que foram divididas entre organizações da sociedade civil. Este ano, serão beneficiadas 38 entidades – uma para cada turma iniciante na faculdade.
Também faz parte das ações do trote solidário da FIAP o cadastro para doação de medula óssea. Em 2014, foram 535 inscritos. “E poderiam ter sido mais, se não fosse a limitação de tempo da própria Associação de Medula Óssea (AMEO) para retirar as amostras de sangue, necessárias para o cadastro”, diz o organizador do evento.
Outro ponto que Belizário Júnior ressalta é que a FIAP tenta incentivar os alunos não só a participarem do trote solidário, mas a convidarem amigos e parentes a fazer o mesmo. “O objetivo é fazer os alunos trabalharem junto com a comunidade”, conta.
A Universidade Anhembi Morumbi também promove o trote solidário. Neste semestre, a ação começou em 9 de fevereiro e vai até 30 de abril, com uma programação que inclui doação de roupas e calçados para o Arsenal da Esperança, bazar com produtos vendidos pela APAE de São Paulo, doação de sangue, cadastro no banco de medula óssea, recolhimento de lixo eletrônico e atividades esportivas.
“O objetivo é fomentar a cultura da responsabilidade social da forma mais ampla possível. É fomentar ações de voluntariado, de solidariedade. Nós queremos ajudar a transformar a sociedade, deixar um legado”, garante o professor César Dinóla, coordenador de Responsabilidade Social da Anhembi Morumbi e um dos organizadores do evento.
Para engajar os jovens nessas iniciativas, no entanto, Dinóla diz que é importante sempre montar a programação da forma mais lúdica possível, para “não transmitir a mensagem da responsabilidade social como algo pesado”. Duas das maneiras encontradas para isso são a realização de torneios esportivos e a abertura de espaço para ideias vindas dos próprios alunos.
Um exemplo de ideia que partiu dos estudantes foi a de realizar uma palestra explicando como funciona e qual a importância da doação de sangue e do cadastro no banco de medula óssea. Uma das jovens envolvidas foi Stephanie Freire, aluna do quinto semestre de medicina.
“Eu e um grupo de colegas nos juntamos para fazer algo diferente, que fosse na contramão dos trotes convencionais”, conta Stephanie, que participou do trote convencional no primeiro ano de faculdade, mas que se sentiu muito mais envolvida pelo solidário, no qual já doou sangue duas vezes. E ela garante que este tipo de trote também pode ser divertido, ajudando a integrar os alunos.