O que preciso saber para fazer a transição do mundo corporativo para o Terceiro Setor?
Muitas pessoas me fazem esta pergunta, principalmente neste período de pandemia. Saber que a vida repentinamente pode se esfacelar fez com que os indivíduos questionem e busquem um novo sentido em sua existência.
Entre as inúmeras razões, noto que estes colegas têm uma característica comum: querer um “propósito” de vida. Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), havia 2.2 milhões de funcionários com carteira assinada no Terceiro Setor em 2018.
As perguntas mais comuns são: Como consigo entrar no Setor? O que devo saber sobre o Setor? O Setor paga salários decentes?
Antes de continuarmos, vale destacar que o termo ONG (Organização Não Governamental) não existe juridicamente. É um termo popular que serve para designar Organização Social, Organização da Sociedade Civil, entre outros.
Então o que é preciso saber para trabalhar no Terceiro Setor?
Primeiro, você deveria ter conhecimento básico sobre captação de recursos. Não importa se você tem interesse em uma vaga técnica (assistência social, biologia, arquitetura, finanças, medicina ou marketing). Isso porque a arrecadação de fundos é a espinha dorsal de uma ONG. Não é à toa que qualquer curso de Gestão do Terceiro Setor trabalha bem a disciplina. Além disso, se você dominar essa “área comercial específica”, a sua mobilidade aumenta. Afinal, você pode trabalhar para qualquer instituição. De acordo com IPEA, o Brasil tinha 1.1 milhão de ONGs em 2019.
Segundo, para aumentar as chances de um emprego, você deveria se tornar voluntário da instituição pretendida ou afim. Os hiring managers buscam profissionais também entre os voluntários ativos.
Terceiro, você não será milionário, mas terá uma vida digna.
Quarto, a principal diferença entre uma empresa do Segundo e do Terceiro Setor é que a primeira visa o lucro, e a segunda deve cumprir a missão.
Quinto, o termo “Organizações Sem Fins Lucrativos” gera muita desinformação, pois qualquer ONG precisa buscar o lucro. A grande diferença é que a instituição social não vai repartir este lucro com stakeholders, como ocorre no Segundo Setor. O que a organização da sociedade civil faz é reinvestir este lucro em sua atividade para que mais resultados e impactos possam ser entregues a sociedade.
Sexto, os três pilares de uma empresa do Terceiro Setor são:
- Missão, Visão e Valores (MVV) claros;
- Programa e advocacy alinhados com a MVV;
- Captação de recursos profissional.
Sétimo, as grandes ONGs nacionais e internacionais têm planos de carreira e salários competitivos em posições seniores. De fato, estas instituições precisam atrair investimentos para entregar resultados e impactos à sociedade. E somente conseguem fazer isto atraindo profissionais qualificados.
Oitavo, você não necessariamente precisa ter experiência anterior no Setor. Se tiver, é um plus, mas você não é eliminado por isso. E caso não tenha esta vivência, ser voluntário ativo em uma ONG ajuda.
A última coisa que você precisa saber é que, como há mais profissionais querendo migrar para o Setor, você precisa estar profissional e academicamente preparado. Por exemplo, na última vaga que abri para gerente de marketing, houve mais de três mil candidatos.
Enfim, na minha experiência de duas décadas, seja no exterior, seja no País, considero os pontos acima elencados – que não estão em ordem de importância – como os principais.
E você, qual é o seu “propósito” de vida?
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Sobre o autor:
Edmond Sakai é Diretor de Relações Institucionais, Marketing e Comunicação da organização humanitária internacional Aldeias Infantis SOS Brasil. É advogado, foi professor de Direito Internacional na UNESP, professor de Gestão do Terceiro Setor na FGV-SP e Representante da “Junior Chamber International” na ONU. Recebeu Voto de Júbilo da Câmara Municipal de SP.
Milene Christina da Silva
04/12/2020 @ 17:22
Trabalhei como pedagoga no terceiro setor, justamente nessa instituição e, definitivamente me encontrei. Minha vontade é voltar para área.
Rodrigo Storniolo
16/12/2020 @ 09:15
Muito obrigado, professor Edmond! Estou hoje na área corporativa, mas sou cientista social de formação (antropológo) e meu sonho sempre foi fazer carreira no terceiro setor! Será meu próximo passo na carreira e na vida!