Brasil: Entre a ilusão das redes sociais e a dura realidade
As eleições para presidente da república nesse lindo e moderno – mas também arcaico – país tropical dariam um longo estudo nos diversos campos do conhecimento, sejam eles na sociologia, antropologia, ciência política, psicologia ou comunicação de massas.
Acredito que a vitória de Jair Bolsonaro requer uma conjunção de elementos e atores que devemos levar em consideração. Nas eleições de 2014, quando a direita questionou o resultado das eleições, posteriormente tivemos o Golpe Parlamentar de Dilma, a Lava Jato com diversas prisões e escândalos cinematográficos do Partido dos Trabalhadores (PT), a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, por fim, o seu impedimento de concorrer a eleição. Não esqueçamos que todos esses acontecimentos tiveram atores chaves. Entre eles, uma parte dos poderes institucionais e a grande mídia tradicional.
A continuidade dessa guerra continuou no decorrer da campanha de 2018, se intensificando com os grupos Pró-Bolsonaro. A criminalização cotidiana do PT, associada às mentiras absurdas acerca dos principais temas que envolvem a sociedade, ganharam força com narrativas de medo, violência e falso moralismo.
Ressalto um artigo publicado no Jornal “El País” em que foram divulgados os principais memes que encheram as redes sociais, em especial os grupos de WhatsApp”: “Candidato do PT escreve livro que defende a relação sexual entre pais e filhos”; “Brasileiros sonham em viver como americano, mas votam como venezuelanos”; “Hipocrisia é orar pelos filhos e votar em que defende ideologia de gênero, aborto e liberação das drogas’; “Haddad é o criador do Kit Gay para crianças de 6 anos”; entre outros absurdos. Além disso, outro fato foi o retorno de fantasmas inexistentes, explorando a ignorância da maioria das pessoas, como: “O Brasil vai ser comunista”; “Vai virar uma Venezuela”; ”Chega desses governos comunistas”; etc.
Diante dessas diversas narrativas e notícias falsas, pode-se verificar o alto grau de desinformação e conhecimento de uma parte da população brasileira, que nada sabe sobre a história do Brasil e que infelizmente não tem reflexão crítica acerca do mundo em que vive. Eles se tornaram presa fácil, que nada veem e sentem, pois foram sequestradas e alimentadas durante anos pelo espetáculo midiático de um anti-petismo, ficando alheia às questões sociais, políticas e econômicas que dizem respeito a todos nós.
É importante destacar que além dos meios tradicionais de comunicação (TV e jornal) nos quais hoje Haddad é atacado por Bolsonaro, com alguma exceção de “mídia que produz fake news”, outros instrumentos de comunicação de acesso a informação tem crescido nos últimos anos, em especial nessas eleições. O WhattsApp é um deles, onde 6 de cada 10 brasileiros utilizam para se informar. De 147 milhões de eleitores, 120 milhões usam esse aplicativo. O Brasil é o segundo país do mundo que mais utiliza fica somente atrás das Filipinas (Fonte: Jornal “El País).
O resultado do início e fim dessa etapa da nossa história: um presidente de extrema direita eleito com uma pauta antidemocrática e autoritária, que teve apoio expressivo do grande capital, da classe média branca (homens e mulheres de escolaridade superior) e de uma parte da classe baixa de trabalhadores, que foram cooptados pelos valores da meritocracia e do sonho de se tornarem empreendedores. O mundo da ilusão, manipulação e violência falou mais alto.
Como a história não é linear, assistimos em tão pouco tempo a dura realidade de um governo em que o único compromisso diz respeito aos interesses do grande capital. Ataques aos direitos sociais, fim de ministérios estratégicos, indicação de um juiz “imparcial” para ministério, Escola Sem Partido, etc.
Mas tudo isso não passa de uma mera fumaça inicial, pois o grande fogo que está por vir serão a reforma da Previdência, que trará danos nefastos à população (como já iniciados com reforma trabalhista de Temer), e as privatizações em todas as áreas, colocando fim à nossa soberania nacional e qualquer projeto de Nação.
Enfim, o tempo da ilusão já está passando e o tempo da realidade já está na frente da nossa porta. E agora? Vamos pagar um preço muito alto, uns diretamente, outros indiretamente. As consequências são enormes.
Só nós resta lutar para defender a nossa frágil democracia. O que nos fortalece é saber que existem nessa eterna fratura social, guerreiros e guerreiras que acreditam que podemos construir um projeto de Nação. Difícil? Muito. Mas diante dos vendais da história, só nos resta a coragem e a resistência. Vale a pena! Aqui é o nosso País.
Angelica Della Monica
13/11/2018 @ 22:24
Tambem dava aulas de Sociologia, historia e geografia e sentia um desinteresse por assuntos relacionados as disciplinas acima.percebo que as eleicoes passaram a ter o mesmo significado que uma partida de futebol, onde nosso hino eh cantado e nao expressa patriotismo, mas sim apenas uma disputa entre torcidas. Vence quem faz gols.
Brasil: Entre a ilusão das redes sociais e a dura realidade | afamosadalive
19/01/2019 @ 12:00
[…] As eleições para presidente da república nesse lindo e moderno – mas também arcaico – país tropical dariam um longo estudo nos diversos campos do conhecimento, sejam eles na sociologia, antropologia, ciência política, psicologia ou … […]