Brasil registrou 12,9 mil suicídios em 2020, uma média de 35 por dia
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, o Brasil registrou 12.895 suicídios em 2020. País é líder mundial em casos de ansiedade e está em 2º lugar no ranking de casos de depressão
Por: Isabela Alves
Por ano, 800 mil pessoas se suicidam no mundo. E 79% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). No Brasil, a média anual é de 12 mil mortes em decorrência do suicídio.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é líder mundial em casos de ansiedade e está em 2º lugar no ranking de casos de depressão – uma doença que tem forte ligação com muitos casos de suicídio.
Com o início da pandemia de Covid-19, muitas pessoas tiveram que lidar com o isolamento e com a solidão, o que levou especialistas a temerem um aumento dos transtornos mentais. No entanto, no primeiro ano de pandemia não foram registrados aumentos nem nos casos de transtornos mentais nem nos suicídios.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, divulgado em julho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 12.895 suicídios em 2020, uma média de 35 casos por dia. A variação foi de 0,4% em relação a 2019, quando foram registrados 12.745 casos.
Os estados que apresentaram maior número, repetindo o ano anterior, foram São Paulo, Minas Gerais e Porto Alegre.
Apesar de os números terem permanecido estáveis, eles são altos e merecem atenção.
Quando é o momento de buscar ajuda?
Durante a quarentena, houve um aumento na procura por tratamentos psicológicos em todo o país. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Google Trends, já no início da pandemia entre 29 de março e 4 de abril de 2020, a busca por atendimento psicológico no Google chegou a 88%.
A busca por serviços on-line também cresceu, chegando a 41%, enquanto na semana de maior popularidade do assunto, em 2019, a procura era de apenas 11%. Outra pesquisa, divulgada no Valor Econômico, apontou que 53% dos brasileiros relataram uma piora na sanidade mental durante a pandemia.
“Há situações que promovem medo intenso, ansiedade e tristeza profunda, como o desemprego, falta de moradia ou o adoecimento na família que resulte em morte. Mas, há outros momentos em que pode haver uma persistência e aumento da intensidade de sintomas, pensamentos, emoções, e comportamentos não saudáveis. Nesses casos, é válido procurar ajuda profissional qualificada”, diz a psicóloga Samanta Santos Fonseca.
Fonseca observa que ao se falar sobre saúde mental, é necessário distinguir as suas especificidades. No caso da ansiedade, por exemplo, existe a ansiedade cotidiana, que pode ocorrer por diversas situações, como uma entrevista de emprego, uma prova, viagem ou outras situações.
O transtorno de ansiedade já se apresenta de maneira mais intensa, excessiva e persistente, que pode aparecer junto com sintomas físicos de falta de ar, taquicardia, suor excessivo e cansaço intenso.
A síndrome do pânico, por exemplo, tem a ansiedade como elemento, mas surge em qualquer momento e lugar, de forma aguda e inesperada, provocando medo, mal-estar, sensação de perda de controle e de morte, como também sintomas físicos de falta de ar, sudorese intensa, espasmos musculares e alterações de temperatura. Tudo de maneira muito intensa por um período de 15 a 30 minutos, aproximadamente.
Já a depressão tem como característica a perda ou diminuição do interesse pela vida, uma tristeza profunda, sensação de vazio, apatia e falta de energia, que interfere e paralisa a vida cotidiana de quem é acometido com tal doença.
“É importante que a pessoa siga na busca por autoconhecimento e fortalecimento de formas possíveis de lidar com os desafios da vida. Lembrando também da importância vital, para cada pessoa, de ter hábitos de vida saudável, cuidando da alimentação, sono e incluir práticas terapêuticas (caminhada, exercícios físicos, meditação, yoga etc.) que movimentam o corpo”, reflete.
Fonseca salienta que o conceito de cura possui diferentes significados e depende da individualidade de cada pessoa, sua cultura e valores. “Não existe um consenso sobre a ausência total de sintomas, ainda mais em uma sociedade que ainda fomenta formas inusitadas e sutis de manter violências estruturais contra a maioria das pessoas”, afirma.
No entanto, a psicóloga reforça que os cuidados com a saúde mental devem ser feitos de maneira frequente com profissionais qualificados para a diminuição de sintomas. É válido ressaltar que cada pessoa tem a sua realidade, portanto, cada passo dado em prol da qualidade da sua saúde mental é importante.
Os transtornos mentais também estão relacionados a diversas violências estruturais
A psicóloga aponta que a pandemia evidenciou diversas desunaminidades presentes na sociedade brasileira, como a falta de empregos, moradias, de acesso à saúde, educação, moradia, dignidade, entre outros direitos.
No Brasil, a população negra, pessoas LGBTQIA+ e a comunidade indígena são os que mais apresentam comportamentos depressivos e suicidas. Segundo a especialista, isso está ligado diretamente à violência estrutural que essas camadas da sociedade sofrem todos os dias.
“Estar disposto a discutir o setembro amarelo é também estar disposto a discorrer sobre toda a violência histórica e estrutural que segue provocando variadas formas de violência e adoecimento, ao invés de unicamente culpabilizar e individualizar o problema a um transtorno mental de determinada pessoa”, aponta.
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O CVV (Centro de Valorização da Vida) promove apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita. Ligue para 188 ou acesse https://www.cvv.org.br/.
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Para aprofundarmos o debate sobre Prevenção ao Suicídio, faremos uma live na próxima quinta-feira (23/09), às 17h, com Elis Regina Cornejo, psicóloga, mestra em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo e coordenadora de Educação e do Núcleo de Diversidade no Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio. É também coordenadora do Grupo de Apoio aos Enlutados pelo Suicídio Vita Alere e membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio (ABEPS). A live será transmitida nos perfis do Observatório (Instagram, Facebook e YouTube), e contará com espaço para interação do público.
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18/02/2022 @ 17:29
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