Brasil vacina duas vezes mais pessoas brancas do que negras
Apesar da vacinação no país ter começando com uma mulher negra, levantamento da Agência Pública mostra que agora há mais brancos vacinados
Por: Mariana Lima
Um levantamento da Agência Pública chegou à seguinte conclusão: há mais pessoas brancas do que negras vacinadas contra a Covid-19 no Brasil.
O levantamento foi produzido a partir dos dados de 8,5 milhões de pessoas que receberam a primeira dose das vacinas contra a Covid-19 aprovadas e aplicadas no país.
Apesar da vacinação brasileira ter sido iniciada com uma mulher negra – a enfermeira Mônica Calazans – há dois meses, atualmente a proporção é de aproximadamente duas pessoas brancas para cada pessoa negra vacinada.
Neste cenário, há menos negros vacinados em relação à quantidade de brasileiros que se declaram negros quando comparada à população branca que foi vacinada.
A diferença nos dados é ainda mais grave devido à desigualdade da mortalidade pela Covid-19 no país: das pessoas que tiveram a doença no Brasil, há proporcionalmente mais mortes entre negros que brancos.
Além disso, negros são a maioria absoluta dentre os casos registrados do novo coronavírus pelo país e também das mortes.
Mesmo com o Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, o Brasil vacinou menos de 5% de sua população. E, apesar de incluir populações negras dentre os grupos prioritários, como comunidades quilombolas, há menos negros sendo vacinados.
De acordo com o levantamento da Pública, no Brasil, há 3,2 milhões de pessoas que se declaram brancas e que receberam a primeira dose de uma vacina contra a Covid-19. Já entre as pessoas negras, esse número cai para pouco mais de 1,7 milhão.
Assim, enquanto mais de 3 a cada 100 pessoas brancas receberam a primeira dose da vacina, menos de 2 a cada 100 entre a população negra receberam a mesma dose.
Vale pontuar que a população negra é comparativamente mais jovem que a branca. Apesar do Brasil ter mais pessoas negras que brancas, negros são minoria em todas as faixas etárias a partir de 40 anos de idade.
Para se ter uma ideia, a partir dos 60 anos, havia cerca de 30% a mais de pessoas brancas que negras no último censo do IBGE, de 2010.
Ainda neste cenário, grupos como trabalhadores terceirizados de hospitais, do setor de limpeza e segurança, por exemplo, não foram considerados na primeira etapa de vacinação como grupos prioritários. Essas áreas tendem a ter uma maior presença de profissionais negros.
A divisão entre profissões é marcante: entre os vacinados, negros são maioria de pessoas em situação de rua (59,29%); já brancos são a maior parte dos vacinados em várias profissões, como bombeiros (80,45%), médicos e enfermeiros.
No total, foram vacinados 67.391 médicos brancos, contra 22.110 médicos negros.
Segundo o levantamento da Pública, em todos os grupos de faixas etárias há menos negros vacinados que brancos.
A quantidade de mulheres vacinadas é aproximadamente o dobro da de homens, tanto na população negra quanto na branca.
O levantamento levou em consideração apenas as pessoas a partir de 18 anos de idade que receberam a primeira dose de uma das duas vacinas aprovadas pela Anvisa e já distribuídas pelo Governo Federal: a CoronaVac/Sinovac, produzida pelo Instituto Butantan, e a AstraZeneca/Oxford, fabricada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A segunda dose tem um prazo diferente para cada uma das vacinas: o Butantan recomenda a segunda dose entre 14 e 28 dias após a primeira; já a Fiocruz recomenda três meses para a segunda dose da vacina AstraZeneca/Oxford. Os dados incluem vacinas aplicadas até o dia 14 de março.
Em relação aos mortos, a desigualdade entre brancos e negros permanece. A maior parte dos casos e das mortes por covid-19 ocorreram em negros, considerando os números absolutos.
Mais de 89 mil pessoas negras morreram no Brasil pela doença desde o início da pandemia, de um total de 260 mil casos confirmados. O número de mortes entre negros é cerca de 10% a mais que entre brancos.
Os dados também apontam que a mortalidade foi maior entre negros que entre brancos: 92 óbitos a cada 100 mil habitantes em negros, para 88 em brancos.
O levantamento da Pública contabilizou as mortes decorrentes de quadros graves de problemas respiratórios (SRAG) causados pelo coronavírus e registrados pelo Ministério da Saúde até 22 de fevereiro.
É importante salientar que em 27,5% dos formulários preenchidos durante a primeira dose da vacinação contra a Covid-19, o quesito raça/cor foi ignorado.
Fonte: Agência Pública