Falta de informação sobre desenvolvimento infantil afeta vida de crianças
Estudo do Ministério da Saúde, com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, revela que 39,6% das crianças possuem desenvolvimento abaixo do esperado na primeira infância.
Por Redação.
O estudo realizado pelo Projeto PIPAS, analisou a partir de diversas dimensões os dados sobre o desenvolvimento infantil no Brasil. Segundo a pesquisa, 39,6% das crianças possuem um desenvolvimento abaixo do esperado na primeira infância, e em média, 42,8% dos adultos entrevistados relatam nunca terem recebido informações sobre o desenvolvimento infantil. O “Projeto PIPAS 2022: Indicadores de desenvolvimento infantil integral nas capitais brasileiras” analisa, a partir de várias esferas, os motivos que podem levar a um baixo desenvolvimento na primeira infância.
Desenvolvido pelo Ministério da Saúde, com o apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, o estudo foi lançado em 25 de outubro, durante o “X Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância”, evento realizado pelo Núcleo Ciência sobre Primeira Infância e que analisou diversos estudos sobre o tema no Brasil.
As evidências científicas vêm mostrando em diferentes áreas da neurociência e da economia, que os primeiros anos de vida são extremamente importantes para o desenvolvimento do cérebro e para a aquisição de habilidades e capacidades de extrema importância para a criança.
O estudo teve como seu objetivo apresentar informações do desenvolvimento das crianças em 13 capitais brasileiras – São Luís, João Pessoa, Porto Alegre, Fortaleza, Belém, Recife, Aracaju, Porto Velho, São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Distrito Federal e Campo Grande. A análise dos dados foi feita em diferentes esferas, sendo elas: boa saúde, nutrição adequada, aprendizagem desde o início da vida, segurança e proteção e cuidados responsivos.
O Observatório do Terceiro Setor conversou com Marina Fragata, Diretora de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal para analisar os dados do estudo realizado em 2022.
“No nosso país, nós infelizmente ainda temos pouquíssimas informações sobre como está o desenvolvimento das crianças, informações que são estratégicas para que façamos políticas mais focalizadas, mais efetivas, que possam ajudar cada criança a se desenvolver dentro do seu pleno potencial, entendendo a diversidade e a individualidade de cada criança.”
Analisando o percentual de crianças com suspeita de atraso no desenvolvimento infantil, a iniciativa constatou que uma a cada 10 crianças entre 0 e 35 meses tem suspeita de atraso no desenvolvimento, revelando que o atraso aumenta depois dos 36 meses, isto é, 12,8% das crianças de 36 meses ou mais, tem suspeita de atraso no desenvolvimento.
Boa Saúde
Dados obtidos através do estudo apontam que a média entre as capitais de mães que realizaram 6 ou mais consultas pré-natais é de 86,1%, revelando que ainda há um percentual de mulheres que não acessou esse direito.
Outro dado alarmante é sobre a frequência de crianças que não foram atendidas na primeira semana de vida, trata-se da consulta logo após o nascimento e que contribui para a redução da mortalidade infantil. Aponta-se que 14,8% das crianças não receberam esse atendimento.
Nutrição Adequada
Outro dado analisado foi o índice de aleitamento materno exclusivo. O aleitamento é muito importante para múltiplas questões, desde as nutricionais até as de desenvolvimento. Segundo Marina, a pesquisa apresenta uma média de frequência de 57,8% das crianças em aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, evidenciando-se uma grande disparidade entre as capitais: Porto Alegre e Porto Velho tiveram as melhores taxas e Florianópolis e Campo Grande tiveram as piores.
Aprendizagem desde o início da vida
O Projeto PIPAS apresentou dados alarmantes em relação ao acesso a livros na primeira infância; 24% das crianças menores de 53 meses não possuíam nenhum livro infantil ou de figuras na sua casa, ou seja, quase um quarto das crianças brasileiras não têm acesso a livros em seu domicílio.
O tempo de tela foi um dos destaques. “O estudo olha quanto as crianças fazem isso por mais de duas horas diárias. O estudo encontrou que, na média, 33,2% das crianças passavam mais de 2 horas diárias na tela. Existem inúmeros estudos que mostram o impacto negativo das telas para o desenvolvimento da criança”, sinaliza Marina.
Segurança e proteção
O estudo olhou para a frequência de cuidadores que relataram nos últimos 3 meses anteriores à pesquisa, os alimentos acabaram antes que tivesse dinheiro para comprar mais. Cerca de 15% dos cuidadores das capitais declararam a falta de alimentos.
Outro dado alarmante é que aproximadamente um terço dos cuidadores acham que gritar com as crianças ou dar palmadas são medidas necessárias para educar.
Cuidados responsivos
Quando estamos falando de cuidados responsivos, são os cuidados de observar os movimentos das crianças, os sonhos, os gestos, responder a esse interesse ou necessidade que a criança expresse, seja verbalmente ou não.
“Evidências científicas mostram que a responsividade, essa relação próxima e cuidadosa do adulto com a criança é um pilar estruturante do processo de desenvolvimento. Inclusive, o que a gente sabe hoje é que o desenvolvimento depende muito mais do que da genética, ele depende do ambiente, dessa interação e desse cuidado responsivo.”, relata Fragata.
Atividade de estimulação, leitura de livros, desenhar, e brincar são apenas algumas das tarefas que ajudam no desenvolvimento das crianças. O estudo mostrou que, na média, 75,6% das crianças nos últimos 3 dias foram envolvidas em pelo menos 4 dessas atividades.
O iniciativa do Projeto PIPAS contribui para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, especialmente para as metas dos ODS 3 e 4, comprometidas com saúde, bem-estar e educação de qualidade.