Pisco de Luz impacta comunidades que vivem sem energia elétrica
Desde 2018, a organização Pisco de Luz instala kits de iluminação em comunidades que não possuem energia elétrica e já mudou a vida de 150 famílias
Por: Júlia Pereira
Em junho de 2017, André Viegas realizava um trabalho voluntário em uma comunidade quilombola histórica na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. O empresário já conhecia o local devido às outras ações que tinha feito ali, mas, dessa vez, ele precisou passar uma noite na comunidade e acabou dormindo na casa de uma das famílias.
Nessa noite, ele teve o primeiro contato com a lamparina à base de óleo diesel, usada como alternativa pelos moradores que não possuem energia elétrica, realidade de quase 1 milhão de pessoas em todo o Brasil.
O uso da lamparina, no entanto, pode representar diversos riscos à saúde das pessoas, além de aumentar a possibilidade de incêndio nas casas.
“Eu lembro que por volta de oito, oito e meia da noite, eu falei brincando para um morador: ‘Olha, o papo está ótimo, mas eu não aguento mais essa fumaça’. Eu não aguentei nem umas três horas e eles vivem a vida inteira assim”, lembra André.
O empresário, então, voltou de viagem com uma ideia na cabeça: criar um sistema de energia solar de baixo custo com lâmpadas de led para iluminar as casas da comunidade e ajudar os moradores a abandonarem o uso da lamparina.
Depois de dois meses de estudos e planejamento, André desenvolveu o protótipo de um circuito que poderia iluminar até sete ambientes.
Em setembro do mesmo ano, ele voltou à comunidade, ainda sozinho, e levou dois desses kits para testar.
“Eu desenvolvi isso totalmente sozinho, com recurso próprio, instalei na casa dessas duas famílias e, um mês depois quando retornei lá, para a minha surpresa, tinha mais de 15 vizinhos querendo”, diz.
André passou a realizar visitas mensais à comunidade para fazer a instalação de mais kits. A quantidade dependia do recurso pessoal dele.
Outros amigos do empresário se juntaram à iniciativa, após observarem as dificuldades que ele enfrentava ao realizar o projeto sozinho. Com mais e mais pessoas se juntando à iniciativa, a Pisco de Luz começou a ganhar forma e nome.
“A associação foi fundada em outubro de 2018 e já conseguimos iluminar, mais ou menos, umas 150 famílias”, explica André.
Com o passar do tempo, a Pisco de Luz chegou a mais comunidades da região, além do sul do Tocantins e, recentemente, começaram ações no sul do Maranhão e na comunidade indígena Tiriyó.
André diz que, desde os primeiros kits, muita coisa mudou. Os equipamentos passaram de uma produção artesanal para uma produção com máquinas, o que aumenta a durabilidade do produto. Todo esse desenvolvimento foi feito por voluntários e empresas parceiras, que se inspiraram no trabalho da organização e decidiram ajudar.
Hoje, o objetivo é formar parcerias com outras organizações e expandir a área de atuação. A expectativa é a de terminar o ano com 400 kits instalados.
“Eu diria que a associação Pisco de Luz, na verdade, é a associação de um monte de pessoas do bem querendo ajudar e cada um fazendo o que pode dentro da sua área para viabilizar”, comenta André.
Uma dessas pessoas é Sheila Tamiozzo Prates. A advogada se uniu à causa em 2018, quando conheceu a Pisco de Luz por meio de um vizinho, que já era voluntário da organização.
“O trabalho que a Pisco faz é muito bonito. Quando eu tive a oportunidade de fazer o trabalho em campo, conhecer a realidade dessas famílias que são atendidas pela Pisco, eu não consegui não participar”, conta.
Hoje em dia, além de participar das ações de campo, como visitas, vistorias e treinamento de parceiros, Sheila também é suplente da diretoria executiva da Pisco de Luz e contribui com as demandas jurídicas.
A voluntária observa que o impacto da organização vai além da instalação dos kits em si. “Eu lembro que, em uma dessas ações que fizemos, a matriarca da família lembrava exatamente o dia em que foi instalado o kit. Então pra gente é muito impactante porque a gente vê que marca também a vida deles. Você percebe que elas se sentem muito mais visualizadas pela sociedade, que não estão mais tão esquecidas. Foi a impressão que me deu, que eles se sentem muito mais valorizados quando a gente leva esses kits”, destaca Sheila.