Para eleitores de Bolsonaro, direitos humanos atrapalham combate ao crime
Pesquisa mostra que 79% dos eleitores que votaram em Jair Bolsonaro nas últimas eleições acreditam nisso
Por: Isabela Alves
No dia 7 de maio, o Pacto pela Democracia promoveu, em São Paulo, a palestra ‘Os impactos do discurso polarizado na eleição presidencial brasileira em 2018’, com Ana Luíza Aguiar, pesquisadora do Monitor do Debate Político no Meio Digital.
O Monitor busca mapear, mensurar e analisar o ecossistema do debate político no meio digital. Por conta do cenário político atual, a iniciativa realizou a ‘Pesquisa com eleitores e não eleitores de Bolsonaro São Paulo março – abril de 2019’. A ideia era, principalmente, entender o perfil dos eleitores do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo, verificando hipóteses sobre o bolsonarismo e sobre o populismo de direita.
Entre os 2.252 entrevistados, 27% afirmaram ser eleitores de Bolsonaro. Entre esses eleitores, apenas 28% se declararam como sendo de “direita” e 47% disseram que não eram nem de direita e nem de esquerda. Além disso, 65% disseram que não se identificam com nenhum partido político, 61% se declararam muito conservadores e 43% se consideram antipetistas.
“É importante salientar que o motivo desta pesquisa foi identificar as guerras culturais e as suas vertentes. No mundo, a polarização acontece por conta de temas identitários, de intelectualismo e termos econômicos, e por isso decidimos relacionar essas questões ao bolsonarismo”, explica Ana Luíza.
A pesquisa também avaliou a opinião dos eleitores de Bolsonaro sobre determinados assuntos. Em relação aos temas identitários, 39% acham que feministas são contra os valores familiares, 37% acham que gays corrompem crianças e 86% acham que “não tem problema ser gay desde que tenha compostura”.
Em relação ao nacionalismo, 53% acham que temos que diminuir a entrada de imigrantes no país e 46% acham que empresas estrangeiras deveriam poder extrair petróleo no Brasil. Sobre o tema de antielitismo e anticulturalismo, 47% acham que professores abordam temas que contrariam valores da família e 59% acham que artistas da Rede Globo não respeitam valores morais.
Por fim, em relação ao punitivismo, 79% acham que os direitos humanos atrapalham no combate ao crime e 90% acreditam que é preciso aumentar o tempo de punição dos criminosos.
“Um dos entrevistados era um policial federal aposentado que achava um absurdo o trabalho dos defensores de direitos humanos. Ao mesmo tempo, ele se declarou feminista e a favor do aborto. Portanto, nós estamos acostumados a pensar em pessoas com alinhamento psicológico com coerência, mas isso nem sempre acontece. Faz sentido a pessoa não se identificar nem com a direita e nem com a esquerda, porque muitas vezes ela concorda com ideias de ambas as partes”, conta Ana Luíza.
Como conclusão, a pesquisa identificou que o eleitor do Bolsonaro se identifica mais como conservador e antipetista do que como “ de direita”. Além disso, eles antagonizam com movimentos sociais identitários, como os direitos humanos por exemplo, e seus supostos representantes das elites culturais e intelectuais. Eles também apresentam traços de xenofobia.
Maria de Fatima
10/05/2019 @ 19:43
Interessante. Fico pensando ” o que leva um ser humano a ser contra os direitos humanos”? Será que ele não se sente contemplado com direitos? Ou acha que ele tem direitos, outros não? Ou será que não se sente humano?