Na Venezuela, estudantes passam fome nas escolas
Professores e alunos estão deixando o ambiente escolar venezuelano. A principal motivação dos alunos para irem a escola é o acesso a alimentação
Por: Mariana Lima
Os desmaios em escolas na Venezuela se tornam cada vez mais comuns. O principal causador é a fome. Estudantes chegam à sala de aula sem terem tomado café da manhã ou jantado na noite anterior.
As crianças tendem a perguntar se há comida na escola antes de decidirem se vão ou não para as aulas. A crise econômica que atinge a Venezuela há 6 anos e o êxodo massivo da população vem deixando suas marcas em áreas como a educação.
É importante lembrar que a Venezuela oferecia um bom programa educacional, permitindo uma maior mobilidade social na região, e altas chances de alcançar o ensino superior em outros países.
Os educadores que ficaram estão deixando a profissão após verem seus salários diminuírem de forma alarmante devido à hiperinflação. O salário de um professor na Venezuela atualmente não passa dos US$ 8.
Muitos dos 550 mil professores do país não retornaram para dar aulas quando as escolas foram reabertas, em setembro, de acordo com o sindicato nacional de professores.
A reportagem do The New York Times visitou 12 escolas no país, e em todas constatou a diminuição no horário de funcionamento. Algumas ficam abertas apenas por um ou dois dias, e muitas não chegam a receber nem 100 alunos.
Em uma das escolas, localizada em Parmana, na planície central do país, apenas 4 dos 150 alunos que estavam matriculados continuaram a frequentar as aulas em outubro.
Os 4 alunos estão em idades variadas no ensino escolar, mas ficam na mesma sala de aula, sem acesso a luz elétrica, estudando tudo, desde o alfabeto até matemática.
Na busca por comida, muitas das crianças do povoado deixaram a escola para ajudar os pais, trabalhando no campo ou nos barcos pesqueiros.
Já em Maracaibo, a segunda maior cidade do país, cartazes em escolas gastas e sem acesso a luz elétrica pedem o retorno dos alunos, mesmo sem uniforme.
A maior escola da cidade não tem mais banheiro em condições de funcionamento, e recebe apenas 100 dos 3 mil alunos que tem capacidade para atender.
Além dos professores formados, a Venezuela vem perdendo futuros profissionais. De acordo com a Universidade Pedagógica Experimental Libertador, o número de diplomados diminuiu 70% entre 2014 e 2018.
Fonte: Folha de S. Paulo